06
• Jéssica narrando •
Terminei de dar banho nas crianças, troquei as mesmas e elas foram assistir desenho, enquanto eu arrumava minha nova casa.
Até agora, desde que cheguei, não fui até a Juliana, até porque ela também tem que se mostrar interessada em minha companhia, não apenas a trouxa aqui.
Cadu estava arrumando algumas coisas no quarto e eu arrumando as roupas quando meu celular tocou avisando que chegou uma nova mensagem, era de um número desconhecido.
“Amiga, me passa seu endereço preciso falar com você” — Mariana.
Estranhei, por não ser mensagem por WhatsApp e por não ser com o número dela.
“Depois te ligo, tô ocupada!” — Jéssica.
“Perdi meu celular, por isso tô te mandando mensagem de outro número.” — Mariana
“Vou ver o endereço aqui e já te mando.” — Jéssica.
Perguntei o endereço ao Cadu (porque eu ainda não sabia) e mandei para a Mariana.
Cadu foi tomar um banho enquanto eu continuava a arrumar as roupas.
Incrível, todas as vezes quando tenho compromisso e vou sair eu digo: Ah não tenho roupa! Preciso fazer compras... Mas agora arrumando tudo, tá saindo roupa que eu nem sei da onde, nem sei da onde tá surgindo...
Escuto a campainha tocar e vou atender a mesma.
— Já vai — grito mesmo sabendo que a pessoa não iria me escutar.
Desço as escadas correndo e abro a porta.
— O que você tá fazendo aqui? — pergunto ao ver o idiota do Matheus parado em frente minha porta.
— Não vai me chamar pra entrar? — diz irónico. Idiota.
— Não! O que você quer aqui e como você descobriu aonde eu moro?
— Eu estava te mandando as mensagens e poxa, eu só quero conversar.
— Eu não tenho nada pra conversar com você, agora me dá licença que eu tenho muita coisa pra fazer. — digo fechando a porta, mas sou interrompida com o Matheus colocando a perna na frente.
— Você aqui de novo? — Alice pergunta se aproximando de nós ao lado do Alex.
Matheus ficou olhando para os dois por um bom tempo e isso já tava me irritando.
— Amor, quem tá aí? — Cadu pergunta aparecendo no pé da escada com uma toalha enrolada na cintura.
— Ninguém, amor. — respondo.
— Como assim... ninguém? — Matheus pergunta indignado.
E sem permissão o Matheus adentrou a minha casa.
— O que você tá fazendo aqui?! — pergunta com raiva para o Cadu.
Eles se conhecem?
— Eu que te pergunto... O que tu faz aqui? Aqui é minha casa! — Cadu responde.
— Fica longe dos meus filhos e da Jéssica! — Matheus diz com raiva.
— Agora eles são seus filhos? Opa, achei que até umas horas atrás eles não eram nada pra você. — digo debochada.
— Jéssica não fode, beleza?
— Eu não vou ficar longe deles, porque eles são minha família. O único que tem que manter a distância é você. — Cadu diz firme.
Será que dá tempo de eu pegar uma pipoca?
— Eles não são sua família! Fica longe dos meus filhos.
— Abaixa tua bola irmão, eles nem sabem da tua existência... Que pai você foi pra eles? Vamos ver... — Cadu diz pensativo — Um pai ausente? Um pai que magoou a mãe deles? Que quase matou a Jéssica?! Graças a Deus, ela teve a gravidez dela bem longe de tu e foi uma gravidez bem melhor e saudável, ao contrário, de quando ela tava do seu lado. Você não soube nem proteger tua mulher e quer pagar de fodão pra cima de mim? Não — diz balançando a cabeça negativamente — Pra cima de mim, não. Faz três anos e meio que eu e a Jéssica estamos juntos e pergunta pra ela quantas vezes a gente brigou, quantas vezes eu fiz ela chorar, pergunta pra ela quem a Alice e o Alex chama de pai, eu posso ser quem for, o filho da puta que eu sou, mas eu amo ela de verdade, eu amo essas crianças como se fossem sangue do meu sangue. Eu cuidei, eu protegi, eu dei amor, carinho, eu dei tudo que você nunca seria capaz de dar... Sabe por que? Porque pode passar quantos anos for e você vai continuar sendo esse cara que só pensa em você mesmo, egoísta, que só quer saber de várias mulheres ao seus pés.
Assim que o Cadu acabou de falar, sem pensar duas vezes, Matheus partiu pra cima dele desferindo um soco no mesmo.
Alex e Alice começaram a pular igual dois doidos gritando: Briga, briga, briga!
Eu até queria pular junto com eles pra ver quem apanha mais, porém agora sou uma mulher madura e não posso fazer isso.
— Para vocês dois! — tento separar a briga.
Nesse momento, Matheus está apanhando e apanhando feio do Cadu.
Quem diria em? O Matheus todo fodão apanhando do meu noivo.
Pulo em cima das costas do Cadu para tentar fazer eles pararem de brigar.
— Sai de cima, Jéssica. — Cadu diz ofegante.
— Não! Pensa nas crianças, elas estão assustadas.
Cadu deu uma olhada para as crianças que continuavam gritando briga e pulando.
Sai de cima do Cadu e o mesmo levantou, logo em seguida Matheus se levantou também, ele estava sangrando.
— Isso não vai ficar assim! — aponta para o Cadu.
— Eu não tenho medo de ameaças Matheus, chega e faz logo mano ou tu acha que eu tenho medo de você? — Cadu pergunta.
— Eu vou te matar! — Matheus diz tirando uma arma da cintura.
Eita que o negócio tá ficando feio...
— Que isso? — grito com raiva — Pode abaixando essa porra de arma ai meu filho, ou você acha que você vai entrar na minha casa, agredir meu noivo, apontar uma arma pra ele na frente dos meus filhos e ficar por isso mesmo?!
— Sai da frente, Jéssica! — Matheus diz.
— Não vou, se quiser matar ele, me mate também!
Matheus me olhou com os olhos vermelhos de raiva e destravou o gatilho.
— Sai da frente, Jéssica! — Agora foi a vez do Cadu pedir.
Balancei a cabeça negativamente.
Escuto um barulho de tiro e vejo que acertou no ombro do Cadu, olho para as crianças e vejo que elas estavam assustadas em um canto com os olhos marejados.
— O que você fez, seu idiota? — grito indo pra cima do Matheus dando vários socos em seu peito. — Você enlouqueceu? Essa bala poderia ter acertado nos meus filhos imbecil, e agora eles estão assustados por sua culpa!
— Desculpa, Jéssica. — Matheus diz baixo.
— Desculpa? Vai pro inferno você e suas desculpas de merda! Sai da minha casa! — grito.
— Eu preciso conversar com você!
— Eu não tenho nada pra falar contigo.
— Você tem! — diz firme — Você escondeu de mim esse tempo todo dos nossos filhos?! Por que?
— Eu só queria ter uma vida em paz... E você não me traz paz, Matheus! Você me traz ao inferno, cara. Eu consegui ter uma gravidez tranquila, porque foi longe de você, eu sei que se tivéssemos perto um do outro, não sei se meus filhos estariam comigo hoje!
— Eu ia proteger vocês... — ele diz.
— Como da primeira vez? — falei mas me arrependi no mesmo segundo.
Matheus ficou quieto e vi seus olhos marejados.
Tá, eu me arrependi de estar pegando pesado com ele... Mas eu preciso ser assim, se eu fraquejar novamente, ele irá me fazer sofrer... Na hora em que ele fez tudo aquilo comigo, ele não pensou em mim, se eu ficaria triste, nem nada do tipo.
— Eu não estava disposta a sofrer tudo de novo... Se quiser me julgar, fique a vontade, eu aceito numa boa, aliás somos julgados o tempo todo! Nada nunca tá bom... Eu só queria viver em paz e eu estava em plena paz durante esses quatro anos, ai eu volto para o Brasil, e bum, você já transforma minha vida nisso — faço gestos com a mão — Num campo de batalha... Eu não mereço isso, meus filhos não merecem isso...
Sinto alguém puxar minha mão e vejo Alice com os olhos arregalados, ela estava com medo e tremendo. Peguei a mesma no colo para tentar lhe acalmar.
— Eu posso pelo menos pegar ela nos braços por alguns minutos? — Matheus pergunta.
Apenas assenti sem dizer nada.
—Vem com o papai, filha. — ele diz com os olhos marejados.
— Não! — ela diz brava — Mamãe, eu tenho medo dele — aponta para o Matheus que abaixa a cabeça.
— Acho melhor você ir... — suspiro.
— Eles são meus filhos, eu quero participar da vida deles também.
— Depois a gente conversa sobre isso tá? Agora por favor, vai embora! — aperto meus olhos.
Matheus assentiu e saiu da minha casa. E enfim consegui soltar a respiração que eu nem sabia que estava segurando.
Coloco Alice no chão e vou até o Cadu que estava sentado no último degrau da escada.
— Achei que tinha esquecido de mim — ele diz com um sorriso forçado por conta da dor.
— Vamos ao hospital. — digo olhando seu ombro sangrando.
— Não é necessário. A bala pegou de raspão, só faz um curativo pra mim, por favor.
Assenti e antes de pegar a maleta de primeiros socorros me aproximei de Alex que estava quieto em um canto observando tudo.
— Desculpa a mamãe por isso, meu filho. — peço.
— Mãe, eu quero aquele negócio preto pra mim. — diz sorridente.
— Que negócio, filho? — pergunto sem entender.
— Aquele que aquele homem tava segurando pra você e o Cadu...
— Não fala mais isso, meu príncipe! Não pode pegar aqueles negócios não.
— Eu achei legal...
Balancei a cabeça negativamente e fui pegar a maleta antes que o Cadu morresse de dor.
Peguei a maleta e comecei a fazer o curativo.
— Calma papai, respira, não vai doer né mamãe? — Alice diz piscando pra mim, não me contive e ri — Em mamãe, fala pro papai que não vai doer...
— Cadu, não vai doer! — digo segurando o riso.
Cadu assentiu também segurando o riso.
— Nossa, se prepara, vai doer muito! — Alex diz se aproximando.
— Como o rapazinho sabe? Nunca levou uma bala de raspão no ombro… — Cadu diz brincando.
— Quando a mamãe pega esse negócio aí, sempre dói. — ele respondeu.
— É pra falar que não dói! — Alice diz beliscando o Alex de leve.
— Ei — Alex reclama — A mamãe disse que é feio mentir.
Enquanto eu terminava o curativo do Cadu, ri pra caramba com Alice e Alex brigando.
“Teve sua chance e você desperdiçou, desculpa falar mas a fila andou.”