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04

• Jessica Narrando •

Cheguei com as crianças no hospital, paguei o Uber e descemos do carro.

— Se comportem, pelo amor de Deus! — digo antes de entrarmos no hospital.

Segurei nas mãos dos dois e fomos até a entrada do hospital, logo avistei Mariana que estava junto com a Larissa e assim que nos virão vieram correndo pra pegar as crianças no colo.

— Meus Deus, vocês são ainda mais lindos pessoalmente! — Larissa diz apertando alice em seus braços.

— Meu pai me fala isso todos os dias — Alice diz convencida fazendo as duas me olharem brava.

— Pai? — Mariana pergunta brava.

— Não comecem com os sermões, Alice e Alex sabem muito bem que o Cadu não é pai deles tá?! Agora, será que podemos ver a dona Ana?

— Pode, Arthur tá lá com ela.

Assenti e peguei as crianças para irmos até o quarto em que dona Ana estava.

Entrei no quarto e Arthur abriu um enorme sorriso ao ver as crianças.

— Dona Ana, esses são meus dois tesouros. Alice — pego minha filha no colo para dona Ana ver e logo coloco ela no chão pegando seu irmão — E Alex.

— Eles são lindos, querida... — ela diz com os olhos marejados.

— Obrigada! — agradeço — E como a senhora está? Teve alguma mudança desde a hora em que estive aqui?

— Na mesma… — suspira cansada.

— Ela apresentou uma melhora... — Arthur diz feliz.

— Olha, que bom! Que maravilha!!! — digo animada.

Ficamos conversando por mais algum tempo até o médico entrar e dizer que dona Ana iria fazer alguns exames, por isso tivemos que sair do quarto.

Mariana e Larissa levaram as crianças para comprar alguma coisa pra comer e eu me sentei ao lado do Arthur.

— Ela vai ficar bem. — digo lhe abraçando de lado.

— Ela é forte demais, minha guerreira. — diz deixando uma lágrima cair.

— Você ja olhou para o homem maravilhoso que você é? Os filhos são espelhos dos pais, dona Ana te ensinou e educou direitinho pra hoje você ser esse homão da porra que tu é.

Arthur me abraçou apertado deixando algumas lágrimas caírem e eu também não pude evitar. De longe, avistei o Matheus e Patrícia se aproximando em nossa direção, mas tentei ignorar e continuei no abraço do meu amigo que eu estava morrendo de saudades.

— O que você tá fazendo aqui? — Patrícia pergunta ao se aproximar.

Me afastei do Arthur agora olhando para o casal patético em minha frente.

Preferi ignorar o que ela perguntou e fingir que eles não estavam aqui.

“Eu sou uma nova mulher”

Repetia em minha mente essas palavras. Eu sou uma nova mulher e não vou deixar o que ela falar me abalar e não vou brigar aqui no hospital.

Matheus continuou paralisado me olhando. Parecia que estava em qualquer outro lugar, menos aqui.

— Jéssica! — ele diz num sussurro.

— Vai embora! — grita a louca.

“Eu sou uma nova mulher” — continuei repetindo pra mim mesma.

— Eu tô falando com você, queridinha. Eu quero que você vá embora! Você não pertence mais a esse lugar, não faz mais parte da família!

Me levantei ficando frente a frente com ela.

Eu não vou brigar, mas também não vou deixar essa louca ficar gritando e gritando na minha cara.

— A única que tem que ir embora aqui é você, que está sobrando. E aliás, eu estou aqui porque dona Ana, sim, a paciente que está internada, ela queria me ver. Ela pediu para me ligarem porque queria me ver. Então acho que se for pensar, eu faço mais parte dessa família do que você.

— Amor, não deixa ela falar assim comigo... — diz choramingando para o Matheus. Esse casal me dá nojo.

— Você acha que eu tenho medo do seu namoradinho? — digo debochada.

Ela provoca e depois não aguenta. Por que provoca então?

— Sem brigas, por favor. — Arthur diz cansado.

— Fica tranquilo, amigo. Eu não vou brigar. Não vim aqui pra isso. — digo me sentando novamente ao seu lado.

— Então manda essa vadia sair daqui. É uma falta de respeito comigo ela estar aqui!

Apertei minhas mãos com toda força que eu tinha pra não voar na cara dela, puta que pariu, mulher chata da porra.

— Eu quero que ela vai embora! — continua falando.

Ignorei.

E não contente a filha da puta se aproximou de mim me puxando para ir embora. Puxou meu lindo e maravilhoso cabelo.

Ah vai tomar no cu, nesse momento a “nova mulher” se transformou e simplesmente comecei a desferir vários tapas, chutes e socos sobre essa vadia.

Enquanto eu batia nela, lembrei como se fosse um flashback tudo que essa piranha me fez, tudo que ela me fez passar. E a vontade de socar ela só aumentava.

Vadia. Vagabunda. Piranha. Filha do capeta.

Não bati nela por causa do Matheus, não mesmo, ele não merece. Aliás, homem nenhum merece que nos mulheres fiquemos brigando por causa deles.

Primeiro que, eu só estou batendo nela porque ela me relou primeiro. Se ela não tivesse relado suas patas de galinha em mim, ela ia continuar falando sozinha porque eu não iria responder, eu não iria rebater, eu iria apenas ignorar. Agora a filha da puta vem me relar? Só nos sonhos dela né.

Sinto Arthur me puxar, mas eu continuo socando a cara da piranha até ouvir minha pequena chorando. E foi como mágica, ouvir o chorinho da minha filha, tirou todo sentimento ruim que eu estava sentindo, toda raiva foi embora.

Me afasto da Patrícia na mesma hora. Olho pra mesma e gosto do que vejo, ela está no chão fazendo drama e sua cara toda machucada.

Me aproximo da Mariana e pego Alice em meus braços.

— Meu amor — digo abraçando ela.

— Tô com medo, mamãe. — chora em meus ombros.

— Bate mais, mamãe — Alex diz com um sorriso de bagunça no rosto.

— Mamãe? — Matheus pergunta olhando para o Alex.

Durante todo esse tempo o Matheus estava parado em outro planeta eu acho, porque a única vez que ele falou e se pronunciou foi agora.

Nesse momento, tô rezando pra ele não desconfiar que as crianças são filhos dele. Apesar que o Alex é o retrato do Matheus, só uma pessoa muito burra pra não perceber.

— Desculpa, Arthur. — digo lhe olhando.

Pedi desculpas pois eu havia dito pra ele que não iria brigar e realmente eu não queria isso, mas não vou deixar ela me relar e ficar por isso mesmo.

— To indo embora — suspiro — Como eu imaginava… foi um erro terrível eu ter voltado.

Pego Alex do colo da Larissa e saio praticamente correndo do hospital, escutando as meninas me chamarem, mas não dou atenção.

Eu estava em Londres, estava bem.

Feliz? Não, mas estava bem.

Digo que não estava feliz, pois eu realmente, nunca mais consegui ser verdadeiramente feliz, todos os dias quando vou tomar banho, sou eu e minhas lágrimas e assim tem sido durante esses quatro anos que se passou. Eu realmente acho que o que eu tinha dentro de mim, morreu. Aquela coisa boa, não existe mais, porque eu não consigo mais ser feliz. Mas pelo menos eu estava bem. Longe dessas brigas todas. Longe de todo esse caos que é minha vida no Brasil.

Sinto alguém puxar meu braço e vejo Matheus me olhando.

— Me solta! — grito com raiva.

— Quantos anos eles tem? — ele pergunta ofegante.

— Não te interessa! — digo irritada.

— Vejo que você seguiu em frente rápido né...

— Temos que seguir o baile né?!

— Mamãe, quem é ele? — Alice pergunta olhando para o Matheus com curiosidade.

— Ninguém, filha... — respondo.

— Precisamos conversar. — ele diz me olhando.

— Não, não precisamos.

— Você foi embora do dia pra noite me deixando uma maldita carta depois de fazermos amor como nunca, por que você foi embora? — pergunta me olhando nos olhos.

Juro que parecia que tinha tristeza em seu olhar. Parecia lágrimas também. Mas se fosse outra pessoa, não o Matheus, ele não choraria por mim.

— Não, eu não fui embora do dia pra noite, você estava me perdendo dia após dia, mas não percebeu.

— Você tá com alguém? — pergunta.

— Não te interessa!

— Está?

— O que isso importa?

— Para de incomodar minha mãe! — Alex diz bravo.

Matheus tirou seus olhos de mim e olhou para o Alex por algum tempo.

— Porra, esse moleque se parece muito comigo

Talvez, porque ele é seu filho idiota.

— Volta pra lá, sua mulher está te esperando.

— Você quer mesmo que eu volte pra ela? — pergunta.

— Eu quero mesmo que você se foda com ela.

Dito isso peguei nas mãos das crianças e sai dali, e mais uma vez, não consegui controlar as lágrimas. Eu odiava esse efeito que o Matheus tinha sobre mim, eu odiava ele.

— Por que você tá cholando mamãe? — Alice pergunta.

— Por nada, princesa... Vamos embora!

Comecei a andar com as crianças que ficavam reclamando que estavam cansada.

Eu estava com tanta raiva de tudo. Raiva de mim por não ter me controlado e batido naquela maldita. Raiva dela que fez o que fez pra me tirar do sério, até que conseguiu. Raiva do Matheus porque ele continuava lindo pra caralho e tinha um efeito surreal sobre mim. Raiva de mim novamente, porque eu voltei pra essa droga de lugar aonde a única coisa que me acontece são desgraças. Tristeza atrás de tristeza. Decepção atrás de decepção.

— Mamãe, minhas perninhas tão doendo. — Alice choraminga.

Respiro fundo e me sento com eles num banquinho que tinha ali e vejo um carro preto parar em minha frente.

O motorista do carro abaixa o vidro e eu pude ver o Matheus.

— Quer uma carona? — ele pergunta com a maior cara de pau. Cínico.

— Não! — respondo.

— Para de ser orgulhosa, é apenas uma carona.

— Me deixa em paz! — peço.

— Vamos conversar então? Olha, o Murilo está aqui também, a gente leva as crianças no parque e enquanto eles brincam a gente conversa. O que você acha? — pergunta.

— Não!

— Prometo que não te encho mais o saco...

Vou me arrepender disso, com certeza. Mas decidi ceder. Peguei as crianças e entramos no carro desse idiota.

O carro do Matheus como sempre tinha seu cheiro por toda a parte. Seu perfume continuava o mesmo amadeirado de sempre que eu amava.

— Você mudou... — ele diz puxando assunto.

— Cadê sua mulher? — perguntei direta. Não quero mais brigar.

— Está no hospital.

— E ela deixou você sair assim?

— Nao, ela nem sabe que eu sai.

Assenti e continuei séria.

— Aonde você estava durante esses anos? — ele perguntou.

— Não te interessa!

— Por que você guarda tanto ódio assim? Poxa, eu tô querendo conversar contigo…

— Quer mesmo que eu te responda?

— Namoral morena, vamos conversar de boa? Pode ser?

Não falei nada.

— Quem é o pai das crianças?

— Você quer saber quem é meu papai? Meu pai chama Cadu! — Alice diz animada.

— Cadu? — ele me encara.

— Alice senta direito nesse banco!

Alice sem dizer mais nada se acomodou no banco.

— Quantos anos eles tem?

— Quatro. — respondi.

Matheus suspirou pesadamente e balançou a cabeça.

— Tô vendo que você não me amava mesmo — diz apertando o volante — Você foi embora e já se envolveu com outro... e até engravidou…

— Você é muito retardado, mano! Eles são seus filhos. — digo de uma vez.

Matheus freia o carro com tudo e me encara furioso e do nada começa a rir igual um doente.

— Você tá vindo pra cima de mim com essa? — diz rindo — Jéssica, eu não nasci ontem não! Eu sei que eles não são meus filhos... E tem mais o filho que íamos ter você perdeu, eles não podem ser meus filhos. Falava tanto da Patrícia, mas você tá igual.

Em um impulso de raiva desferi um tapa em seu rosto.

— Nunca mais me compara com essa vadia! Nunca mais me chame de mentirosa! Nunca mais olha pra minha cara de preferência.

Dito isso, sai do carro que estava parado, peguei as crianças do carro e fui embora praticamente correndo.

As lágrimas rolavam sem parar, insistentemente.

Como eu fui burra! Eu nunca deveria ter pensando em contar pra ele sobre as crianças, ele nunca vai mudar, ele continua sendo o mesmo imbecil de quatro anos atrás...

— Não chola mamãe, eu tô aqui pra te consola e ficar do seu ladinho. — Alex diz me abraçando.

Me agachei até eles e abracei os dois fortemente.

Meus dois tesouros e meu único amor.

Respirei fundo e liguei para o Cadu.

Ligação on:

— Amor? — digo ao ver que ele atendeu.

— Oi princesa, como você tá? Já saiu do hospital?

— Sim, você conseguiu a casa?

— Sim, meu amor. E também comprei um carro. — ele diz animado.

— E tem como você vir me buscar?

— Claro, aonde você tá?

—:No parque em que nos vimos pela primeira vez...

— Já tô chegando, meu amor — diz desligando.

Ligação off

Desliguei a chamada e me sentei em um banco com as crianças.

Eu mal cheguei ao Brasil e olha a confusão que minha vida virou.

Será que eu nunca vou ser feliz aqui? Será que minha vida está destinada ao fracasso enquanto eu estiver aqui?

“Mas é que a gente sempre fica com uma pontinha de esperança de que as coisas mudem. Mesmo sabendo que certas coisas não têm conserto, nosso coração ainda fantasia coisas boas. A gente sabe que ele não vai mudar, mas a esperança é a última que morre, não é?! A fé nos motiva à acreditar.”

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