03
• Jessica Narrando •
Chegamos no hotel em que ficaríamos por enquanto, Cadu pagou o Uber e entramos no hotel.
Alice dormia em meu colo e Alex dormia no colo do Cadu.
Cadu conversou na recepção e rapidamente estávamos subindo até o nosso quarto.
— Está cansada? — Cadu pergunta ajeitando o Alex em seu colo.
— Não, só vou arrumar as crianças e vou até o hospital. — digo apenas.
— Não sei se é bom levar elas... hospital não é lugar pra criança.
— Você tem razão... Você fica com elas pra mim?
— Claro que sim!
Chegamos até o nosso quarto, arrumei Alice na cama, tomei um remédio para ansiedade, me despedi do Cadu e sai do hotel pedindo um Uber.
Eu tomo remédio para ansiedade e depressão fazem quase quatro anos.
Quando eu comecei a tomar os remédios, as crianças tinham um mês de vida. Eu tive depressão pós parto. Foi horrível. Eu desenvolvi várias e varias coisas.
Não vão achando que tudo que eu vivi foi mil maravilhas porque não foi! Hoje eu tenho 23 anos e eu mais chorei do que sorri minha vida toda. Ja aceitei que eu não nasci pra ser feliz, mas agradeço a Deus, por ter me dado Alice e Alex. Porque gente, sinceramente, se eu não tivesse ficado grávida, eu não estaria mais aqui. Eu queria morrer. Eu tentei me matar diversas vezes, não me orgulho de falar, mas essa é a realidade, eu tentei e ficava brava com as tentativas frustadas que não davam certo. Mas não dava certo porque não era minha hora. Deus tinha algo melhor pra mim, e me deu meus filhos. Então, se hoje eu estou aqui, em pé, é por eles.
Enquanto o Uber não chegava decidi ligar para a Mariana para ver em que hospital eles estavam.
Ligação on:
— Não acredito! — diz ao atender.
— Oi amor, pois é, eu voltei. Em qual hospital vocês estão? Já tô a caminho.
— Hospital Santa Clara.
—Beleza, tô chegando.
Ligação off
Desliguei a chamada e observei o Uber parando em minha frente, entrei no mesmo e dei o endereço para o motorista.
Durante todo o caminho foi “tranquilo”. O uber colocou uma música legal o que me fez distrair um pouco. Mas eu estava muito nervosa, tensa.
Minhas mãos coitadas, sofriam.
Eu as apertava sem dó, nem piedade. Mas também não sentia dor. Só parei de apertar quando pingou um pouco de sangue na minha calça, acabei me cortando com a minha unha.
O uber parou em frente ao hospital, paguei o mesmo e agradeci. Saindo do carro logo em seguida. Respirei fundo umas mil vezes e criei coragem para entrar.
De longe, avistei Larissa abraçada com o Arthur e Mariana que estava mechendo em seu celular.
Me aproximei deles que estavam distraídos e ao me verem Larissa e Mariana correram em minha direção me abraçando, me desequilibrei e acabamos caindo no chão.
Pode se passar anos e anos, mas a vocação de passar vergonha sempre será minha, meu Deus.
— Que saudades, amiga! — Larissa diz me apertando ainda mais.
— Senti falta de vocês também... — lhe abraço.
— Dá pra vocês saírem de cima de mim? — Mariana diz com dificuldade.
E então percebi que estávamos em cima da Mariana. Levantámos rapidamente rindo.
Me aproximei do Arthur lhe dando um abraço apertado.
— Como ela está? — pergunto triste .
— Mal... — Arthur diz apenas.
Arthur estava arrasado. Coitado. Estava bem abatido, dava pra perceber que não tinha forças nem pra falar direito.
Eu compreendo. Afinal, a mãe dele está a beira da morte e os médicos ja disseram para se preparar para o pior.
Agora me diz, como se preparar para algo assim? Como se preparar para perder uma mãe?
— Ela vai ficar bem!! Ela é guerreira, batalhadora. — digo mais pra mim do que pra eles — Eu posso ir vê-la?
Arthur assentiu e me levou até um quarto que provavelmente era o que Dona Ana estava.
Ele abriu a porta e eu entrei sentindo meu nariz arder.
Dona Ana estava ligada a vários tubos, mas estava acordada. Seu olhar estava cansado, mas ela ainda estava aqui.
Me aproximo da cama lentamente tentando não chorar na frente dela. Eu preciso ser forte.
— Oi — digo baixo — Fique bem logo...
— Querida... — diz baixo com dificuldade — Que saudades! Cadê os pequenos?
— Ficaram com o meu noivo...
— Eu queria conhecer eles, você pode trazer eles aqui?
— Claro! Eles vão adorar conhecer a senhora.
— Obrigada — diz ainda com dificuldade.
— Não faça esforço, olha eu tenho que ir agora, pois as visitas não estão permitidas ficar muito tempo, mas já já eu volto com as crianças ok?
— Ok, obrigada minha filha.
Dei um beijo em sua testa e sai do quarto.
Me aproximei das meninas e do Arthur novamente, sentindo meu nariz arder, eu queria chorar, chorar muito em ver ela nessa estado, mas eu não iria chorar. Eu precisava passar confiança para o Arthur nesse momento, sabemos o quanto ele ama sua mãe, o quanto ela é importante pra ele.
— Ela quer ver as crianças... Eu vou buscar elas...
— Não vejo a hora de ver eles pessoalmente. — Mariana diz animada.
— Tô indo então.
Me despedi deles e sai do hospital.
Parei em frente ao mesmo e liguei para um Uber. Enquanto o Uber não chegava escuto uma voz que pra mim, era irreconhecível. Sinto todo meu corpo tremer.
— Murilo, para de correr!
Olho em direção daquela voz e vejo Matheus de mãos dadas com a Patrícia chamando a atenção de um garotinho que deveria ser o filho deles.
Antes deles entrar pra dentro do hospital, Matheus parou e ficou me olhando por alguns segundos até ser puxado pela sua mulher.
Balancei a cabeça e comecei mecher no meu celular para afastar todos os meus pensamentos idiotas.
Dez muitos depois o Uber chegou, adentrei o mesmo, passando o endereço do hotel para ele.
~
Cheguei no hotel e já subi para o nosso quarto, vejo Cadu dormindo com as crianças em cima dele. Ri com essa cena e balancei a cabeça.
Tirei minha roupa rapidamente e aproveitei para dormir um pouco também antes de voltar para o hospital.
Acordei com o grito da Alice.
— Papai, ele me bateu! — diz emburrada.
— Alex, não pode bater na sua irmã! — Cadu repreende o Alex.
— Ela disse que vai arrumar um namolado quando crescer, eu não vou deixar! — diz bravo.
— Você não pode bater na sua irmã, mas você tá certo em não deixar ela namorar. Ela vai virar freira!
— Eu vou namola sim igual você e a mamãe.
Me levanto rindo desses três.
— Que horas são gente? — pergunto.
— Cedo ainda, amor... — Cadu responde.
— Preciso voltar ao hospital... Arruma as crianças pra mim, enquanto eu tomo banho?
— Você vai levar elas? — pergunta.
— Vou! Dona Ana quer ver elas...
— Qual o problema de eu namola? — Alice cruza os braços brava.
— Todos! — Alex diz bravo.
— Você é minha princesinha e minha princesinha não vai namorar! Agora, vamos tomar banho! — Cadu diz se levantando e começou a correr atrás das crianças em direção ao banheiro.
— Você vai comigo? — pergunto para o Cadu me encostando na porta do banheiro vendo as crianças molharem ele todo.
— Não, vou atrás de uma casa pra gente...
Assenti e fui me arrumar.
Rapidamente estávamos todos prontos, me despedi do Cadu e sai de casa com as crianças.
Espero não encontrar com o Matheus no hospital porque aí eu teria que explicar pra ele sobre as crianças e nesse momento eu só quero ficar de boa, sem viver aquele inferno de brigas.
“Não chore, diga foda-se e sorria”