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01

• Jéssica Narrando •

O tempo passou. As coisas mudaram, nós mudamos, crescemos. E com isso as responsabilidades aumentaram.

O tempo passou e eu mudei. Mudei porque amadureci, porque passei por tantos maus bocados que consegui aprender com meus próprios erros.

Quatro anos se passaram e posso dizer pra vocês que muitas coisas mudaram, inclusive eu.

Enfim, acabei minha faculdade de medicina e agora sou médica! Não foi fácil, pois as crianças estavam bem pequenas e eu não gostava de ficar longe delas. Mas como tudo na minha vida sempre foi difícil, eu consegui terminar.

Quando as crianças completaram 1 ano, comecei um relacionamento com o Cadu, depois de 2 anos ele me pediu em casamento e agora estamos noivos. Tô tentando adiar os planos do casamento o máximo de tempo que eu consigo, eu não estou preparada pra dar esse passo ainda.

Realmente, o Cadu foi uma das melhores coisas que já aconteceu em toda minha vida! Ele é um cara maravilhoso, às vezes um pouco fechado, mas ele tem sido essencial na minha vida e na das crianças, que até chamam ele de pai.

Deixando claro que, mesmo elas sendo muito novinhas, eu sempre falei pra elas sobre o pai Matheus e deixei claro que o Cadu não era pai delas.

Me julguem, sei que errei em esconder minha gravidez do Matheus, mas se ele soubesse dessa gravidez será que meus filhos estariam aqui comigo?

Não sei. Provavelmente não. E pelos filhos a gente faz coisas inacreditáveis. Eu não mudaria nada do que fiz pra ter meus filhos comigo.

Camila e Vinícius não desgrudam das crianças nem por um segundo, eles deixaram praticamente a vida deles de lado para me ajudar a cuidar dos dois, pois no começo não foi fácil, se um é difícil, imagina dois?!

Por isso precisei de ajuda reforçada no começo, mas aos poucos fui me acostumando com a rotina e a nova vida de "mãe".

Eu mudei completamente, mas eu não digo de aparência não, eu mudei meu interior. Antes eu era fechada, não queria me apegar a ninguém, aí eu deixei esse lado de lado e me entreguei a um amor que só me fez sofrer, mas que me deu meus maiores presentes. Meus filhos. Agora, eu amadureci, e com meus filhos eu descobri o verdadeiro amor!

Quando eu comecei meu relacionamento com o Cadu, Lucas decidiu ir embora para o Brasil, pois segundo ele, ele me amava e não iria suportar me ver com outro todo dia. Claro que não questionei, era a decisão dele, apenas agradeci ele por tudo que ele me fez, pela ajuda e apoio, sem deixar de pedir para que não falasse com o Matheus sobre as crianças, pois se passou os anos e o Lucas continuava na insistência de falar com o Matheus sobre meus filhos. Hoje, Lucas está namorando com uma tal de Luiza (que eu ainda não conheci, mas já quero) eles estão juntos a um ano e meio. O Lucas se afastou de mim, vamos se dizer, por completo. São raras as vezes que nos falamos, e geralmente, a gente só se fala quando eu ligo, porque ele nunca me liga.

Larissa, Mariana e Arthur nunca vieram me visitar, mas a gente sempre se fala por Skype, e eles são loucos pelas crianças, que sempre conversam com os tios pela internet.

Minha irmã Juliana se afastou de mim também, não consigo entender seus motivos, pois ela dizia me amar tanto e de repente muda desse jeito? Que amor é esse? Mas bom, eu sempre ligo pra ela, para saber como ela está, como está Rodrigo, dona Linda... Ela atende e nossas conversas são sempre bem vazias. Sinceramente, eu não sei o que aconteceu com a minha irmã pra ela ter mudado tanto assim.

Graças a Deus, eu nunca precisei de ninguém para comprar fralda e leite para os meus filhos. Tudo que eu consegui hoje, foi com meu esforço. Agradeço imensamente ao Lucas pelo abrigo em sua casa por um tempo, a Juliana por me ensinar várias coisas que eu sei hoje (praticamente ela me criou), agradeço ao Matheus, por me ensinar que as pessoas não mudam, elas apenas se revelam, mostrando o que elas são de verdade. Agradeço a Camila, Vinícius, Larissa, Mariana e Arthur pela amizade e por sempre me apoiarem. Agradeço ao Cadu, que me mostrou um lado que eu não conhecia do mundo, estamos juntos a três anos e a gente nunca brigou, nunca discutimos (eu sou uma pessoa difícil de lidar, mas quando eu faço besteira, Cadu respira fundo dez vezes mas não se exalta), e ele ama as crianças como se fossem realmente seus filhos.

Sinto mãos pequenas balançarem minha perna, olho pra baixo e vejo Alice me olhando com um olhar curioso.

— Oi, meu amor. — digo acariciando seus cabelos.

— Por que a mamãe tá cholando? — pergunta curiosa.

— Por nada, meu amor. — digo limpando as lágrimas— Você já tomou seu banho?

— Quero que o papai Cadu me dá banho... — diz fazendo birra.

— Filha, a mamãe já falou que o Cadu não é seu pai, seu pai é o Matheus! — digo firme.

—Mas, eu quero que o Cadu seje meu papai! Ele binca comigo, ele deixa eu passar maquiagem nele. Eu gosto dele, mamãe.

— Cadê a princesa mais bonita desse mundo? — Cadu diz entrando no quarto.

— Eu — Alice grita levantando as mãos e pulando.

— Vamos tomar aquele banho gostoso? — pergunta pegando ela no colo.

— Sim! — grita animada.

Cadu se aproxima de mim me dando um selinho e sai do quarto com a Alice em seu colo.

Olho novamente para aquelas fotos em minhas mãos e guardo tudo novamente dentro da caixa.

Balancei a cabeça para afastar os pensamentos que não paravam um segundo, hoje era um daqueles dias que a saudade do Brasil gritava em meu peito. Tem dia que saudade me pega de jeito. É difícil controlar.

Coloco a caixa de recordações dentro do closet e vou ao banheiro tomar uma ducha rápida. Como sempre, agora sozinha no banheiro, estou com minhas companheiras diárias, lágrimas rolam pelo meu rosto se misturando com a água do chuveiro.

~

Término meu banho e saio do quarto vendo o Cadu sentado na cama com uma foto em mãos, não consegui ver qual foto era, mas nem dei atenção a isso. Fui até o closet e comecei a escolher minha roupa.

— Você sente falta dele? — Cadu pergunta entrando no closet.

— De quem? — digo sem entender.

— Do Matheus...

— Não! Por que está me perguntando isso? — me viro pra ele rapidamente.

— Achei essa foto no chão do quarto — diz me entregando uma foto que eu tinha guardado minha com o Matheus.

Realmente, eu sou uma idiota! Durante todos esses anos, eu não consegui jogar fora nossas fotos...

— Eu nem lembro mais dele, amor! Eu estava vendo as fotos do pessoal no Brasil e essa devia estar junto!

Cadu assentiu e saiu do closet.

Me arrumei rapidamente colocando uma roupa confortável e sai do closet vendo o Cadu deitado na cama sem camisa.

Isso é o paraíso!

Em passos lentos subo em cima dele e começo a rebolar.

— As crianças estão acordadas, amor... — diz fechando os olhos.

Comecei a beijar o Cadu, no início era um beijo lento mas logo depois foi pegando velocidade.

Em um movimento rápido Cadu tira minha roupa, me deixando apenas de lingerie.

Escuto meu celular tocar, mas ignoro beijando o Cadu, porém ele continua tocando.

— Acho melhor você atender, amor...

— Pode nem namorar mais — me levanto com raiva e pego meu celular vendo que era do Brasil.

Atendo rapidamente.

Ligação on:

— Fala. — digo ao atender.

— Jéssica... – Mariana diz baixo e tenho quase certeza que ela está chorando.

Logo estranho, porque a Mariana NUNCA chora.

— Tudo bem, vadia? — pergunto.

— Não —  diz começando a chorar ainda mais alto me deixando ainda mais preocupada.

— Você tá me deixando preocupada!

— Dona Ana... — suspira.

— O que tem ela?

— Foi baleada em um confronto e está morrendo... — chora ainda mais.

— COMO ASSIM? — grito.

— O doutor pediu para que falássemos se alguém quisesse vir se despedir, as chances de vida dela são bem poucas...

— Meu Deus! Como isso foi acontecer? Eu estou voltando para o Brasil agora mesmo! — digo sentindo meus olhos arder.

— Vem logo, amiga — suspira — Precisamos de você.

— Beijos — digo desligando.

Ligação off

Desliguei a chamada e comecei a chorar, Cadu se aproximou de mim e me abraçou.

— O que foi? — pergunta preocupado.

— A mãe do Arthur levou um tiro e está muito ruim no hospital... Preciso voltar para o Brasil.

Sinto meu coração errar as batidas só de me imaginar voltando para o Brasil.

— Calma, meu amor. Fique aqui arrumando as suas coisas que eu vou atrás de resolver tudo as coisas para a gente ir, ta bom?

— Vou arrumar as crianças primeiro. — me levanto.

— Fique aqui, meu bem. — coloca as mãos em meu ombro — Eu vou atrás de nossas passagens e arrumo as crianças. Só fica aqui, tranquila?

Apenas assenti em silêncio fungando pelo choro.

Me levantei vestindo minha roupa novamente e me apressei para arrumar nossas malas.

Olho para aquelas malas em cima da cama e não acredito, eu não acredito que estou arrumando nossas malas para voltar no lugar aonde eu tanto sofri, aonde eu fui torturada de todas as formas possíveis (mentalmente e fisicamente) por estranhos e pelo cara que dizia me amar. Eu sinto medo. E eu odeio me sentir assim, mas não posso evitar. O medo me gera angústia, cria fantasma, me paralisa. Não posso evitar. Eu vivi momentos terríveis naquele país. Momentos esses que me assombram até hoje. Mas chegou a hora de enfrentar meus medos, meus traumas de frente.

"A moral da história você já conhece, só é feliz quem enfrenta e segue em frente."

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