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Depois de arrumar seu quarto, Valéria desceu para tomar o café da manhã e encontrou sua mãe preparando o almoço. Ela foi até ela e lhe deu um beijo no rosto como cumprimento.
-Mamãe, o que a senhora fez para o almoço? O cheiro está delicioso.
-Frango, purê de batatas e salada. Vocês vão tomar café da manhã e almoçar juntos? Você sempre me surpreende, Valéria.
-Estou com fome, mamãe. Papai vai trabalhar duro hoje também? É domingo, ele deveria descansar um pouco.
-Valéria, seja grata. Graças à empresa onde seu pai trabalha, podemos viver bem. Embora meu emprego de meio período não se compare ao salário dele.
Valéria se sentou e pensou sobre a situação. Ela queria que seu pai pudesse descansar mais nos finais de semana e não trabalhasse tanto, pois isso poderia afetar sua saúde. Além disso, ela queria conseguir um emprego para poder ajudar nas despesas da casa e ser financeiramente independente.
Apesar das dificuldades, Valeria manteve viva sua paixão pela arte e sonhava em se tornar uma artista reconhecida. Nesse meio tempo, ela continuaria a se esforçar e a vislumbrar seu futuro com seu próprio estúdio criativo. Embora a vida fosse agitada e cheia de responsabilidades, Valeria sabia que valia a pena lutar por seus sonhos.
Paul estava em seu apartamento conversando com seu amigo Isaac, que havia chegado inesperadamente após uma longa viagem a Dubai. Isaac estava contando sobre suas experiências naquele país, todas as coisas bonitas que havia vivenciado. Enquanto isso, a pequena April assistia à TV perto deles, curtindo seu programa favorito.
Paul não pôde deixar de rir ao vê-la tão feliz, o que o distraiu da conversa com Isaac.
-Então foi por isso que eu voltei", comentou Isaac.
-Certo. Fico feliz que tenha gostado do tempo que passou em Dubai e agora está de volta. Seus pais vão ficar mais tempo? - perguntou Paul.
-Meus pais queriam férias longas, mas eu voltei por causa de um trabalho inacabado. De qualquer forma, eu teria gostado de ficar um pouco mais se não fosse por isso", explicou Isaac.
-Eu entendo. É bom que você tenha conseguido se divertir. Já pensou em voltar no futuro, quando tiver mais tempo livre? - sugeriu Paul.
-É claro que eu adoraria voltar. E você, tem planos de viajar? - perguntou Isaac.
-Estou pensando em levar April para algum lugar bonito para ela aproveitar. Ela está prestes a começar a escola e estou pensando em contratar uma babá para me ajudar com ela enquanto trabalho", revelou Paul.
Isaac assentiu, entendendo a situação de Paul.
-Parece uma boa ideia. Certifique-se de escolher alguém de sua confiança para cuidar da April. Você não pode confiar em qualquer pessoa para cuidar de sua filha", aconselhou Isaac.
-Exatamente, quero encontrar alguém em quem eu possa confiar totalmente. Minha mãe não se envolve muito com a April, então preciso de uma babá que possa cuidar dela enquanto eu trabalho", explicou Paul.
-É compreensível. Com seu trabalho na empresa, você precisa de alguém em quem possa confiar para cuidar da April. Espero que você encontre a pessoa certa", comentou Isaac.
A conversa continuou enquanto April continuava a assistir à televisão. Paul sentiu-se nostálgico ao ver sua filha, lembrando-se de sua mãe ausente. Apesar da situação, ele desejava um futuro melhor para Abril, uma mulher que pudesse guiá-la e estar ao seu lado.
Isaac se despediu e Paul acompanhou o amigo até a saída. No caminho de volta, Abril pediu um sanduíche, mas Paul decidiu não dar a ela, preocupado com sua saúde. Apesar do beicinho da menina, Paulo explicou a importância de se fazer uma refeição balanceada.
Por fim, Paulo abraçou Abril e lhe deu um beijo na testa antes de a menina ir dormir, certificando-se de que ela entendesse que ele estava fazendo isso para o seu bem-estar.
-Papai, por favor", insistiu a menina.
Paul se aproximou de April, tentando acalmá-la.
Eu disse que não, é melhor levá-la para o seu quarto, escovar os dentes e ir para a cama. Você não quer que eu leia uma história para você? Porque eu posso fazer isso, April.
Ela mudou sua expressão e pareceu um pouco mais animada. Isso o deixou aliviado, pois vê-la feliz o encheu de alegria.
Em poucos minutos, April estava na cama. Paul pegou um livro de histórias da pequena estante que tinha no quarto, ele sabia que provavelmente já conhecia a história, mas gostou de ver April animada para ouvi-la. Era incrível como ela parecia feliz quando lia histórias. Ele a olhava com admiração, vendo nela um pequeno anjo.
-O monstro que se aproximou da princesa percebeu que não havia maldade nela e decidiu desaparecer", concluiu, olhando para ela com serenidade.
April já estava dormindo agradavelmente, e Paul apagou as luzes do quarto antes de sair. Ele ficou parado por um tempo na porta, observando a menina dormir, ela parecia um anjo.
***
Em seus sonhos, Lara aparecia de novo e de novo. O sonho se transformou em um pesadelo e Paul acordou suado nas primeiras horas da manhã. Ele lutou para adormecer, seus pensamentos o atormentavam, especialmente ao se lembrar do passado doloroso e da culpa que sentia.
Paul lutava internamente entre se mostrar como um carvalho para o mundo e sua vulnerabilidade em particular. Apesar de tudo, April era sua razão para continuar, sua força nos momentos de fraqueza.
A mulher que ele amava não existia mais e essa era uma verdade dolorosa que ele tinha que aceitar.
***
Na manhã seguinte, Valeria estava se preparando para ir à universidade com a intenção de falar com seu professor sobre seu projeto com Amanda. A infidelidade de sua mãe era uma distração constante em sua mente.
Ela não encontrou sua mãe pela manhã, o que aumentou suas suspeitas sobre a infidelidade dela. Ela sentia muita raiva da mãe por mentir e trair o pai daquela maneira.
Sua mãe Sofia estava traindo seu pai com aquele homem chamado Orlando.
Na aula, Valéria estava tão distraída que teve de pedir permissão para ir ao banheiro. Amanda a acompanhou e ofereceu seu apoio, incentivando-a a conversar com o pai sobre a infidelidade para se libertar do medo que a consumia.
Depois de conversar com Amanda, Valéria decidiu confrontar seu pai no final daquela semana, sabendo que não se sentiria bem, mas pelo menos sentiria alívio.
Naquele dia, em vez de ficar em casa ou em seu quarto em frente ao laptop para fazer a pesquisa necessária, ela havia optado por ir à biblioteca da universidade e ficar lá como os outros alunos faziam. De certa forma, ele estava evitando a mãe, que ele via como um lembrete constante do que estava fazendo de errado, de como ele podia ser malicioso. Ele não conseguia mais suportar a situação.
Depois de passar cerca de duas horas na biblioteca, ele decidiu voltar para casa. Felizmente, sua mãe não parecia estar lá, pois nos dias em que ele preferia não vê-la, sua mãe se destacava pela ausência. Ela se trancava em seu quarto para não ter de encará-la, pois detestava a situação e a maneira como estava se desenvolvendo.
Naquela época, Valeria desejava ter sua própria casa para não ter de lidar com a situação. No entanto, ela não tinha escolha a não ser enfrentá-la. Quando chegou em casa, preparou algo para comer, pois estava morrendo de fome. Ela havia parado em uma lanchonete no caminho de volta, mas infelizmente esqueceu o dinheiro no quarto e não parou para comprar algo para comer.
Da próxima vez, ela seria mais cuidadosa. Enquanto ela comia em um banco, sua mãe apareceu de repente.
-Filha, seu pai mencionou as férias da família e eu queria conversar com você sobre isso, já que quase não a vejo. Sei que você está ocupada com a universidade, mas gostaria de saber sua opinião sobre o possível destino de nossas férias. Você não está animada com a ideia de ter um descanso? -perguntou sua mãe.
Valeria queria dizer à mãe que a última coisa que ela queria era participar de uma viagem hipócrita que a faria se sentir ainda mais desconfortável. No entanto, ela se esforçou para conter as palavras e respondeu:
-Acho que qualquer lugar que eles escolherem será bom. Concordo com o destino que for escolhido. Agora, se me derem licença, tenho coisas para fazer.
Sua mãe pediu que ela terminasse de comer antes de ir para suas atividades. Valéria pegou seu prato e foi para seu quarto, tentando evitar sua mãe.
Enquanto isso, Sofia estava preocupada com Orlando e se sentia culpada pela mentira que havia contado à filha. As ameaças de Orlando a assustavam e ela se sentia encurralada pelo medo. Ela se sentou no sofá, tentando recuperar a calma de que tanto precisava.
Pensou em confessar ao marido o que havia feito, mas não teve coragem. Pensou em conversar com a filha sobre o assunto, mas tinha medo de decepcionar as pessoas mais importantes de sua vida.
Ela havia se colocado nessa situação por sua própria culpa. A incerteza e o medo a estavam dominando, e o tempo estava se esgotando. Ela não sabia que caminho tomar para corrigir as consequências de suas ações.