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cap. 4

Ela é tímida, mas seu sorriso tem o costume de dizer "oi" para o mundo.

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Um sorriso surgiu em meu rosto por me sentir seguro, já que seria bem capaz de me envolver com minha nova vizinha tendo menos de 48h que me separei de um relacionamento de um ano e meio.

Como ela não quer se envolver, vamos manter a amizade.

— Que risinho é esse aí? — sem jeito neguei com a cabeça.

— Nada de mais, lembrei de uma situação do trabalho.

Desconversei tentando lembrar do que falávamos antes da minha mente trazer à tona a visão dela e sua tatuagem. Fui insistente em relembrar o que era o assunto até que desisti.

— O que dizia?

— Não quero entrar em um relacionamento. — declarou pegando outra rodela de cenoura.

— Também não quero me envolver com mais ninguém. — compartilhei partindo para descascar as batatas — Finjo que não estou magoado, só que chegar mais cedo do trabalho e ver a cena deles no meu sofá entre gemidos e sussurros não é algo legal.

— Imagino que tenha sido chocante, mesmo não fazendo ideia de como seja, já que nunca passei por isso.

— Sorte sua, sair de um relacionamento sem traição. — com inveja, declarei.

— Eu nunca namorei. — estranhei a informação — O que foi?

— Nunca namorou e já faz sexo?

Depois que pronunciei me dei conta de como minha pergunta foi ridícula e pedi desculpa por isso.

— Tudo bem, não ligo para essas coisas. Com relação ao sexo, foi na faculdade, e digo mais, com o cara mais lindo do time de futebol americano, Taylor era seu nome, mas o sexo foi uma bosta! — acabei rindo da careta que fez — Foi rápido e doloroso! Depois de 10 minutos estava vestindo minhas roupas, louca para ir para casa.

— Por que não namoraram? — perguntei finalizando os últimos legumes.

— Não sei, faltou a química, acho que foi isso. — explicou e julgo que estar mentindo — Que cara é essa, Arthur?

— Talvez você seja esquisita como seu ex casinho, mencionou.

Declarei só para alfinetar e ela deu uma gargalhada tão gostosa que me peguei admirando-a.

— Acho que sim! Minha mãe me diz isso sempre que pode. — senti triste ao mencionar isso — Não quero namorar, tenho medo de ficar como as pessoas que me mandam suas histórias.

— Como sou curioso, assim que eu acordar passarei na banca e comprarei a revista, quero ler sua matéria.

— A de amanhã é de uma adolescente que teve sua primeira desilusão amorosa e afirmou que nunca mais vai namorar na vida!

Coloquei os legumes para cozinhar e comecei a bifar o frango.

— Sabe, Arthur, hoje pela primeira vez senti medo de escrever. — parei o que estava fazendo para mirar sua face — Minha chefe está me forçando a escrever sobre o Dia dos Namorados ou serei demitida.

Ficou em silêncio e pediu que contasse o que aconteceu.

— Disse que preciso dar às minhas leitoras a chance de se casarem e ter uma família, já que relato o sofrimento do amor e não que esse sentimento seja algo bom, entende?

— Sei muito bem a dor emocional de um par de chifres, Amora, e também sei como é bom ter alguém ao seu lado, quero dizer, um relacionamento saudável! — desabafei me dando conta que a situação dela não é das melhores.

— Nunca namorei e só conheço o lado ruim de um lance a dois, afinal, tive que ouvir que sou esquisita. — ela sorriu, mas não foi daquele que alcança os olhos — A verdade, é que não quero fazer essa maratona do Valentine's Day, porém, não tem jeito.

— Que pressão, não queria estar na sua pele. — lavei minhas mãos para ir à geladeira ver o que tem para temperar o frango — Posso?

— Sim, pegue o que deseja, tem um vinho aí, o que me diz? — como também preciso de uma taça ou duas abri e nos servir — Obrigada.

Voltei para a geladeira à procura de temperos e não achei nada.

— Só tem três sachês de shoyu e sal? — sorrindo concordou — Precisa comprar temperos, Amora!

— Não sei usar essas coisas e se tentasse faria uma bomba nuclear. — acabei rindo do seu exagero — Tem alguns sachês perdidos de macarrão instantâneo, se quiser eu procuro.

— Não, obrigado. — me abaixei para ver a parte de baixo da geladeira, encontrando uma cebola roxa e três dentes de alho — Precisa comprar alimentos saudáveis.

Alertei pegando os 4 ingredientes que usarei para o frango colocando sobre a bancada.

— Agora está explicado o porquê de ser tão magrinha.

— Vou entender isso como um elogio e não uma repreensão! — olhei as horas no relógio da parede e fui gafar meus legumes.

— Mais cinco minutos e estará no ponto. — exclamei procurando um escorredor — Sai dai!

— Não me trate assim, sou uma moça e deveria pedir, por favor. — segurei sua mão e afastei da pia — Grosso!

— Saiba que não gosto de ninguém ao meu lado quando estou cozinhando — fucei o armário de baixo e achei duas frigideiras grandes e mais ao fundo o bendito escorredor — Deveria sentir-se lisonjeada por estar aqui comigo.

— Que isso? — com um tom irônico perguntou — É o cozinheiro real da Rainha Elizabeth?

— Você sabe que ele morreu, né? — disse que não e começou a rir — Engraçadinha.

— Bom, estou faminta e sei que nosso jantar ficará bom, pois adoro shoyu. — ignorei a confissão e comecei a fazer cubinhos com os bifes que já tinha deixado pronto — Acho que colocarei mais um vinho para gelar.

— Por mim tudo bem, só trabalho na terça. — comuniquei mexendo no armário de cima e achei azeite — Vou me mudar amanhã, pretendo organizar tudo nesse fim de semana.

— Quer ajuda? — pensei bem e neguei com a cabeça — Vou te ajudar!

Ignorou minha recusa e foi para o cômodo ao lado.

— Realmente… ela é espaçosa. — murmurei — Linda, mas espaçosa.

Coloquei o azeite para aquecer enquanto pico a cebola e o alho, Amora voltou com duas garrafas de vinho e colocou no freezer.

— Amanhã quando vier do trabalho, vou passar no mercado e comprarei vários temperos para você cozinhar pra gente.

Saiu da cozinha de novo e quando voltou, estava com o notebook na mão.

— Tenho que fazer postagens nas redes sociais.

— Postagem de quê? — disse que da matéria que sairá amanhã e o post de hoje.

Sua face se entristeceu e antes de jogar a cebola e o alho para caramelizar na frigideira fui até ela.

— O que aconteceu? — tentei sondar.

— Como farei para relatar 15 post sobre amor se não acredito nesse sentimento.

— Você não acredita? — confirmou enchendo nossas taças — Como assim não acredita no amor! Seus pais não se amam.

— Não tenho certeza disso, assim que meu pai faleceu vim para cá, na época tinha pouco mais de 15 anos.

— Mora sozinha desde os 15?

— Não, a Abi e Charles são meus avós. Depois da morte do meu pai a convivência com minha mãe se tornou insuportável, porque amava fazer maldades comigo, inclusive me bater, me humilhar e matar meus bichinhos de estimação, tanto que vim para cá.

— Sinto muito por isso. — fui sincero — Meus pais são um máximo, se pudesse ainda moraria com eles, mas precisava da minha independência e vim para Nova York.

— Sorte sua, no meu caso só o meu pai que era o máximo e após sua morte, minha mãe começou a falar de arrumar um namorado que comigo lá ficaria complicado e vim pra cá. — fui jogar a cebola na frigideira ou queimará o azeite.

— Continua falando. — pedi, adicionando o alho e baixando o fogo — pode falar, estou te ouvindo.

— Isso me deixou mal, até então, acreditava no amor, mas sei lá, perdeu o sentido para mim.

— Você queria que ela não ficasse com mais ninguém, é isso?

— Não! Obvio que uma hora arrumaria alguém, mas não tinha nem dois meses que meu pai havia falecido, isso significa que não tinha amor.

Ela foi me contando como foi a infância dela com a mãe chamando de mentirosa entre outras coisas bem desagradáveis e isso me deixou mal, pois Amora é uma mulher incrível. — Bom, até agora, sim…

Fiz um frango marinado no vinho e shoyu, os legumes salteie no azeite e quando ficou pronto me juntei a ela na mesa. Comemos e bebemos vinho enquanto conversamos.

A minha intuição não me enganou e a cada momento junto a ela se mostra uma mulher inteligente e um tanto ingênua, já que a paquerei algumas vezes e não percebeu ou fingiu que não, afinal não sou idiota de estar na companhia dessa mulher e não investir nisso.

Às duas da manhã eu já tinha descoberto a vida de todos que moram aqui no prédio e que ela sabe cantar muito bem, tanto que cantarolou para mim algumas vezes e no momento estou lendo algumas das suas matérias, o que me arrancou vários sorrisos .

O álcool começou a me dar sono e pela hora avançada decidi ir para meu apartamento.

— Como fiz o jantar, teria como me emprestar uma colcha e um travesseiro? — disse que sim e foi buscar.

Deitei-me no sofá para esperar por ela que estava demorando demais.

— Vamos, Amora! — gritei entre bocejos e fechei os olhos por um segundo.

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