Cap. 3
Ela era bonita de um jeito incandescente e a beleza era a menor das suas qualidades.
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Alisei meu rosto pensando no melhor discurso de recusa e como não achei nenhum, neguei com a cabeça.
— Vem! — deu-me um olhar pidão.
— Obrigado, mas terei que recusar — cruzou os braços rente aos seios e começou a balançar o pé —, estou prestes a ir para casa, vai ficar para outro dia.
— Me dê a chance de ser gentil contigo. — olhei para a roupa que está usando e voltei a mirar seu rosto — O que foi, que olhar é esse?
— Não deveria ficar desse jeito na minha frente, sou um homem e digo mais, um desconhecido. — alertei mesmo não sendo uma ameaça.
— Não tem nada demais, a blusa vai quase no joelho. — neguei com a cabeça vendo a cor do seu sutiã — Você tem razão, colocarei outra roupa.
Estava disposto a recusar novamente, mas seus olhos encontraram os meus e no fundo já tinha mudado de ideia, pois quanto mais tempo fora daquele apartamento melhor.
— Por favor…
— Tudo bem! Fez o que para o jantar? — perguntei curioso.
— Macarrão instantâneo — torci meu nariz —, não gosta?
— Condimentação demais — esclareci indo pegar minha mochila do balcão da cozinha —, deixe-me preparar algo rápido para gente.
— Vai dizer que sabe cozinhar? — questionou com desdém e confirmei em um aceno — Duvido!
— Posso provar, é só me levar a sua cozinha. — me arrastou para fora do apartamento e fechou a porta sem um ruído sequer — precisa me ensinar isso?
— Depois, agora estou com fome. — abriu a dela e fiquei pasmo como parece outro lugar de tão bonito que é — Mi casa, su casa.
— Uau! — projetei em algo sonoro o que os meus olhos veem maravilhados — Trabalha com arquitetura?
— Não, jornalismo. — afirmou entrando em uma porta e fui atrás achando que era a cozinha.
Quando adentrei ela já havia tirado a camisa e como não fui notado voltei para sala me achando um idiota por segui-la sem ser convidado.
— Merda… — praguejar com sua imagem só de calcinha e sutiã de costas para mim, vagando em minha mente — Nunca mais esquecerei isso!
Amora possui uma tatuagem grande que vem da perna e passa em cima da sua nádega esquerda e segue por suas costas até a altura na cintura.
— Acho que vai até a barriga! — murmurei pensativo.
Senti uma leve fricção e com receio de ficar excitado reconsiderei o pedido.
— É melhor eu ir embora! — murmurei indo para a porta — Obrigado pelo convite, mas tenho que ir.
Gritei no intuito que me ouvisse.
— Claro que não! — tomei um susto com ela que apareceu de calça moletom e uma blusa de alcinha revelando que a tattoo das costas segue pela frente até entre seus seios.
Preferi colocar minha mochila na frente só por precaução.
— Você não vai embora ou esqueceu que me prometeu um jantar! — olhou para baixo e congelei pensando ter visto algo — Deveria lavar as mãos.
— De fato, estou cheio de tinta. — declarei notando meus braços sujos e minha blusa nova to manchada — Onde é o banheiro?
— Aquela porta ali. — coloquei minha bolsa no sofá e fui me limpar — O que fará para o jantar?
— Não sei, o que tem de fácil preparo?
— Macarrão instantâneo! — disse que isso não — Tem frango, peixe, carne vermelha.
— Pode ser frango? — concordou — grelhado ou cozido?
— O que fizer para mim está bom, já que minhas refeições tendem a ser sempre instantâneas.
— Isso não é saudável! — sai do cômodo e me deparei com ela sentada à minha espera — Onde fica a cozinha, já que esse apartamento tem a estrutura diferente do meu.
— Não tem não, é que aqui eu não quebrei a parede, pois queria colocar esse lindo quadro.
Apontou para um, enorme na parede de frente para gente.
— Entendi, mas cadê a porta? — ela foi até o canto que possui um espelho e o arrastou revelando a entrada da cozinha — Gostei.
— Obrigada! — segurou minha mão e me puxando sentindo ao cômodo — Quero te conhecer melhor.
— Amora… — parei perto da pia e olhei para ela.
— Oi!
— Não tem medo que eu seja um serial killer e tente te matar? — bufou fazendo pouco caso da minha pergunta — Você é maluca?
— Acho que sim, mas algo me diz que não me fará mal. — apoiou as mãos em meu ombro — Espero que sejamos bons amigos, vivo sozinha nesse andar e isso é muito ruim, e tem mais, você cozinha!
— Ha ha ha, vai acreditando que serei seu cozinheiro.
— Vai, sim, pode apostar. — comecei a rir da sua cara de pau ao declarar isso — Vamos lá Masterchef, quero comer o melhor frango de toda Nova York!
— Pode deixar. — peguei um avental rosa que estava pendurado ao lado da geladeira — Prefere arroz ou uma salada de legumes se tiver, é claro?
— Legumes, tenho alguns aqui, porque comprei para Abi, mas ela vem me deixando na rua ultimamente e para me vingar não desci com eles.
Peguei o frango que me entregou e coloquei para degelo no micro-ondas enquanto descascava os legumes.
— Me fala, porque se mudou da sua casa antiga? — engoli em seco e tornou a perguntar.
— Peguei meu amigo de infância fodendo com minha namorada, no meu sofá ontem de tarde. — desabafei e senti um peso enorme saindo dos meus ombros.
— Sinto muito, passei por algo parecido, não éramos namorados, mas tínhamos um rolo de quase um ano e ele disse que nunca namoraria comigo, porque sou esquisita, mas que o sexo era bom e na semana seguinte começou a namorar uma colega em comum. — direcionei minha atenção para ela que estava olhando as unhas como se falar disso fosse algo normal — tomei um pé na bunda de um cara ruim de cama.
Gargalhei da confissão e ela fez o mesmo.
— Você é má! — recuperando meu fôlego declarei — Como homem, acredito que não deveria falar para ninguém que seu “ex caso” era ruim de cama.
— Vocês do sexos masculino têm essa mania feia de se defenderem? — concordei — Não deveria, ele me chamou de esquisita!
— É complicado, mas ainda sim, não deveria dizer essas coisas.
— Claro que sim! Ele era ruim.
— Não tem isso de ruim, Amora. — virei de frente para ela de modo da explicar — Saiba que sexo é feito a dois, se ele é ruim você também deve ser.
Ela bateu na mesa da cozinha se sentindo ofendida e gargalhei alto.
— Que absurdo! Sempre dei tudo de mim, ele era preguiçoso! — voltei a descascar os legumes desejando encerrar esse assunto — Não tenho porque mentir, era sempre a mesma coisa… ele deitava e ficava sobre meus ombros todo o trabalho.
— Ok, essa conversa não deveria estar acontecendo! — ela se aproximou e ficou debruçada na pia ao meu lado — Amora, vá se sentar.
— Não, a gente é amigo. — afirmou pegando uma rodela de cenoura — Amigos falam de tudo!
— Não acredito nisso, o meu “amigo” não me contou que estava trepando com a Natasha. — comuniquei — Bom, não quero falar do seu casinho que fode mal, muito menos do meu par de chifres.
— Ok, então me fala. Trabalha com o que? — comuniquei que marketing digital — Que legal.
— Não acho, mas paga minhas contas.
— Gosta de que, então? — disposto a não tocar no assunto do meu antigo restaurante mudei de foco:
— Me fala de você, já falei muito sobre minha pessoa. — concordou pegando outra rodela de cenoura — Para com isso!
— Desculpa, é que estou com fome! Então, sou jornalista, mas no meu caso difere, porque amo meu trabalho.
— Legal, e escreve sobre o que?
— Fatos reais, sou responsável pela coluna onde faço um resumo da vida de mulheres e homens que já sofreram por amor. — me deu um tapinha no ombro — o que acha de falar de você?
— Claro que não ou acredita que quero meu par de chifres sendo matéria de algum jornal.
— Acho que seria uma boa colocar seus relatos na minha matéria. Outra coisa, trabalho para uma revista — perguntei qual — a Gossip Magazine.
— A da Times Square? — confirmou — Então gosta de fazer fofoca?
— Não, mas amo trabalhar nessa revista. Leio as histórias de várias mulheres e homens que passam pelo que você passou, uma traição dolorosa com amigas, mães ou avós.
— Porra, avós? — concordou — O ser humano é doente!
— Você não faz ideia, mas amo estar na mente deles, acho que por esse motivo nunca vou namorar na vida.
Essas palavras me trouxeram um alívio, pois assim elimina a possibilidade de rolar um date entre a gente, pois curiosamente me sinto atraído por ela e não é pouco.