7
Mila
No dia seguinte...
Abro os meus olhos soltando um gemido frustrado. Definitivamente maratonar uma série até altas horas da madrugada não foi uma boa ideia, mas não adianta chorar o leite derramado, certo? Portanto, me forço a sair da cama e vou direto para o banheiro.
— Milla, me empresta o seu batom vermelho? — Valentina grita do meu quarto assim que fecho a porta.
— Claro. Ele está na minha bolsa. — Entrar debaixo da água morna é como um balsamo e rapidamente me sinto desperta. Levo um tempo lavando os meus cabelos e quando volto para o meu quarto encontro a minha irmã sentada no centro da minha cama e usando a minha maquiagem. — Por que está mexendo nas minhas coisas? — retruco e abro a porta de um guarda-roupas antigo a procura de algo para vestir.
— Você sabe que amo as suas escolhas, elas são simplesmente perfeitas!
— Não são tão diferentes das suas escolhas.
— O que é isso? — Ela pergunta com uma curiosidade palpável e eu fito o pequeno envelope na sua mão.
— É um convite para o aniversário de casamento do Senhor e Senhora Fox.
— Hum, que interessante! — Ela resmunga abrindo o envelope e o analisa com admiração. — E muito chique também. — Sorrio meneando a cabeça. — Você vai? — Dou de ombros.
— Não sei, acho que não — respondo com um certo descaso.
— Por que não?
— Sei lá, só acho que não devo ir.
— Mas você foi convidada e acredito que pelo seu chefe. — Ela insiste.
— Por isso mesmo. Eu acho estranho o fato de ser a única funcionária a ser convidada para essa festa.
— Como assim?
— Exatamente como eu te disse. Tem algumas pessoas que trabalham lá há mais tempo que eu lá e nenhuma delas foram chamadas para essa festa. E vamos combinar que um aniversário de casamento é algo tão pessoal e familiar, não acha? No mínimo eu teria que ser íntima da família e não é esse o caso.
— Não sei qual o motivo da surpresa, Milla. Você é assim mesmo, cativa as pessoas ao seu redor. Admita, esse é o seu dom especial. — Valentina rebate com um sorriso que eu retribuo.
— Talvez seja isso mesmo, mas ainda não tomei uma decisão e terei tempo para fazer isso.
— Você sabe que isso será na próxima semana, não é? — bufo audivelmente.
— Como eu disse, terei tempo para tomar essa decisão. Você não deveria estar se arrumando para a faculdade?
— E, droga você tem razão! Obrigada pela maquiagem e... eu te amo! — Ela salta correndo da minha cama e antes de sair, beija rapidamente o meu rosto.
— Val, não se esquece...
— Eu já sei. Levar as minhas chaves e quando voltar para casa manter a porta fechada, não a abrir para estranhos e ligar para você se julgar importante. Blá, blá, blá! — Ela resmunga irritadiça. — Quantas vezes preciso repetir que não sou mais criança?!
— Não custa nada relembra, sabichona! — retruco com humor e pisco um olho para ela, recebendo um virar de olhos em troca.
A verdade é que depois que saímos da nossa pacata cidade, os meus cuidados com a Valentina redobraram. Embora esteja perto de completar vinte e dois anos, Valentina nunca esteve na cidade grande antes e eu sei que não é um lugar fácil de se viver. Isso aqui é praticamente uma selva de pedras. Bonito, encantador, porém, selvagem demais. Uma hora e meia depois estou na Wash Car preenchendo a agenda do meu chefe para a próxima semana, enquanto ele está reunido com o presidente e a equipe de designer da empresa. Para a minha paz total e bem-estar mental, não tive o desprazer de encontrar Pedro Rios transitando pelos corredores. Um dia tranquilo com nunca tive desde que comecei a trabalhar aqui.
? Coração Pervertido ?
— Que tal essa? — Minha irmã indaga um tanto dançante e no ato, a garota pega uma colher e começa a cantar Shake It Off de Taylor Swift. Não seguro o riso e entro na sua Vibe, me mexendo em seguida. E é nesse ritmo que iniciamos o preparo do nosso desjejum. Parando para dublar a voz da cantora vez ou outra. É final de semana e esses dois dias são sagrados para nós, e isso quer dizer, nada de atividades da faculdade e nem mesmo do trabalho. Esses dias são exclusivos nossos. Portanto temos toda uma programação. Café da manhã animado, depois praia, depois telefonema estendido com nossos pais, um passeio pela cidade no final da tarde com direito a uma parada em uma lanchonete e por fim, umas três horas de filmes com colchões estendidos no meio da sala e um balde de pipoca com refrigerante. Tudo exatamente nessa ordem. — Uau, olha para esse vestido! — Valentina diz de repente, parando bruscamente no meio largo corredor do shopping.
— É, muito lindo mesmo! — digo com fingido descaso.
— Vem, você precisa experimentá-lo!
— O que?! Por quê?! — Ela praticamente me reboca para dentro da loja e uma vendedora logo se aproxima.
— Pois não, em que posso ajudá-las?
— Queremos ver aquele vestido.
— Valentina, para que isso? — retruco quando a vendedora se afasta.
— Você tem um aniversário de casamento para ir, Mila...
— Sim, mas eu não preciso de um vestido novo para isso.
— Como não? Você não está pensando em ir com aquelas peças de museus do seu guarda-roupas, não é? — Reviro os olhos para esse comentário.
— Os meus vestidos foram recém-comprados. O que há de errado com eles?
— Tudo, Milla! Eles não combinam com o ambiente que você vai frequentar.
— Como sabe sobre o ambiente? — Agora ela revira os olhos para mim.
— Prontinho. — A moça diz prontamente.
— Não discute comigo e experimenta! — A garota rebate dando um final para essa conversa.
— Só que eu ainda não decidi se vou ou não a essa festa! — insisto quando ela me puxa para o lado dos provadores.
— O que, por que não?
— Porque não Valentina! — Ela bufa alto.
— Tudo bem, só prova e vamos embora, ok? — Ela volta a insistir e eu volto a revirar os olhos. Contudo ao vesti-lo e me olha no espelho tenho o vislumbre do tecido perolado abraçado ao meu corpo. Encantada com a bela visão deslizo as pontas dos meus dedos pelo fecho de tule e depois pela gola redonda, e por fim, suspiro observando a linda cauda assimétrica. — E então? — Ela indaga invadindo o pequeno espaço. Um par de olhos negros se arregalam para a exuberante visão. — Ele ficou perfeito em você, Milla!
— Devo admitir, está mesmo lindo, mas...
— Mas nada, vamos levar!
— Eu tenho escolha?
— Não, você não tem!