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8

Milla

Minutos depois...

— Céus, estou faminta! — Valentina resmunga quando ocupamos uma das mesas da StarBooks, uma biblioteca maravilhosa que comporta uma das melhores lanchonetes da região. É um ambiente puramente sofisticado e silencioso que envolve leitura e lanches formidáveis.

— O que vai pedir?

— E você ainda pergunta? Adoro as generosas fatias de torta de avelã desse lugar e o café gelado então! — Sorrio.

— Acho que vou querer uma desses croissants com chocolate quente. O frio da noite logo chegará.

— Oh! — Valentina sibila me fazendo tirar os olhos do cardápio para encará-la. — Aquela não é uma de suas chefes? — Ela questiona com curiosidade e imediatamente os meus olhos vão para o outro lado do salão onde Eloá Rios está acomodada em uma pequena mesa retangular e acompanhada do seu marido. No entanto, dou de ombros.

— Ela não é propriamente a minha chefe. A Eloá é a irmã do meu chefe, é bem diferente — digo desviando os meus olhos da linda mulher e faço sinal para a garçonete.

— Você não vai lá falar com ela?

— Não, eu não quero atrapalhar o seu momento. Eles parecem tão...

— É, eles estão namorando. Não é lindo? — Val comenta abrindo um sorriso sonhador.

— Sim, é lindo — concordo com desdém, largando minha bolsa e as sacolas das compras em uma cadeira e Valentina faz o mesmo com as suas.

— Podemos ter um cachorro no apartamento?

— Você sabe que não permitem animais no prédio. — Ela bufa quando a moça se afasta. Penso em bebericar o chocolate quente quando sinto um toque firme no meu ombro e logicamente abro um sorriso agradável, me levanto da cadeira para cumprimentar a minha amiga de trabalho. — Eloá me desculpe, eu... — Paro de falar quando percebo que não é ela em pé bem na minha frente. — Você?! — A indagação sai esganiçada da minha garganta quando encontro o tão conhecido sorriso safado do chefe geral da empresa Wash.

— Está me perseguindo LU. DI. MI. LA? — Pedro pergunta me fazendo revirar os olhos imediatamente para ele e logo percebo o imbecil segurar a vontade de rir. Ele procura manter o rosto sério com as sobrancelhas negras erguidas para mim, porém, os seus olhos me encaram com uma certa diversão. Bufo internamente, porque não quero que ele perceba o quanto está mexendo comigo agora. Portanto, escancaro um sorriso grande. Tão grande que mais parece que vai abrir a minha cabeça ao meio.

— Acredite, Senhor Rios eu não perderia o meu precioso tempo perseguindo um devasso como o Senhor — rebato. — Mas ao que parece, é o Senhor quem está me perseguindo. — O acuso sem deixar de expressar a minha irritação. Dessa vez ele gargalha.

Idiota!

— Eu adoraria persegui-la, morena linda, mas infelizmente estou aqui contra a minha vontade. — Ele dá uma olhada rápida na direção da mesa da irmã.

— É melhor que não se atreva, Senhor Rios, eu não hesitaria em fazer uma denúncia contra o Senhor. — O ataco deliberadamente entre dentes, mas o maldito do homem se aproxima da lateral do meu rosto e sussurra algumas palavras lá.

— Denunciaria nada. Você gosta, admite vai? — O som rouco da sua voz reverbera dentro do meu ouvido e esse se alastra pelas minhas entranhas. E a droga do calor suave da sua respiração causa um leve arrepio na minha espinha. Penso em dizer-lhe umas verdades, quando a minha irmã resolve dizer algo que me faz afastar no mesmo instante.

— Não vai me apresentar, Milla? — Valentina fica de pé e estende uma mão no mesmo instante na sua direção.

— Não, o senhor Rios já está de saída, não é? — inquiro sarcástica, mas o idiota do meu chefe segura na mão da minha irmã com um aperto firme.

— Pedro Rios, presidente da Wash Car. — Ele diz e ela abre um sorriso largo demais.

— Valentina Ferber, irmã caçula da Milla.

— Valentina, nome vitorioso de uma guerreira que não teme a nada. — Ele comenta todo prosa, fazendo-a sorrir ainda mais.

— Mamãe sempre me diz isso. Aceita nos acompanhar nesse delicioso lanche da tarde?

— Não! — respondo sem hesitar. — O Senhor Rios parece ocupado, Valentina.

— Por que não o deixa responder, Milla?

— Na verdade, eu aceito o seu convite, Valentina. — Faço um “O” com a boca e no ato, balbucio sem saber o que dizer. Com o seu olhar divertido pressionando o meu irritadiço, ele puxa uma cadeira e se acomoda nela. Valentina se senta em seguida e eu me obrigo a sentar também. — Então Valentina... — Pedro inicia uma conversa.

— Me chame apenas de Val.

— Claro, Val com certeza é bem melhor. Bem diferente de LU. DI. MI. LA — Ele gralha e eu bufo internamente. — Me conta uma coisa, a sua irmã é sempre chata assim?

— Às vezes, mas as vezes ela é bem boazinha também.

— Hum, comigo ela é sempre uma chata mal-humorada e bem petulante. Biquinho?

— Eu não sei se perceberam, mas estou aqui! — reclamo, porém, eles riem em cumplicidade.

— Viu o que disse? — Ele continua.

— Relaxa, Pedro, uma hora toda essa banca de menina má cai. Você vai ver. No fundo a Milla tem um coração de manteiga.

— Ah que bom, me alivia saber disso!

— Querem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui?! — rosno entre dentes. Eles me olham, porém, dão continuidade essa conversa completamente absurda.

— Mas e você, você é sempre assim? — Val indaga e incomodada, eu me ajeito na cadeira

— Assim como?

— Carismático, extrovertido. Você tem um jeito levado também. — Ah, ela não faz ideia do quanto esse homem é dado. Penso.

— Isso é ruim?

— Não, pelo contrário, isso é muito bom. É divertido.

— A sua irmã não pensa assim. — Pedro olha para mim e eu o encaro através da borda da caneca.

— Esse é o lado chato dela falando mais alto.

O que?

A final de contas de que lado ela está?

— Ok, já chega, vamos embora! — ralho largando a caneca sobre a mesa e seguro as sacolas em seguida.

— Ah não, Mila! — Valentina reclama. — Eu ainda não terminei o meu café gelado e o seu chocolate quente está praticamente intocado. — A porta do Café volta a se abrir e os irmãos Rios passam por ela com as suas famílias e com os seus pais também. Pedro logo se põe de pé.

— Tudo bem, Ludmila, você pode ficar e tomar o seu chocolate quente. Eu tenho uma reunião de família agora. E, foi um prazer conhecê-la, Valentina! E se eu fosse você não abreviava o seu nome, ele é lindo — fala de um jeito irreconhecivelmente carinhoso.

— Uma pena que tenha que ir, Pedro. Eu posso te chamar assim, não é? — A garota pede e Senhor pervertido rasga um sorriso largo.

— É claro que pode e, avisa para sua irmã que ela também pode se quiser. — Seu tom de confidencia me irrita e para piorar inesperadamente ele se inclina para perto de mim, no mesmo instante que viro o meu rosto e ficamos cara a cara. Seu olhar intenso prende imediatamente o meu e eu engulo em seco. Pior ainda, por uma fração de segundos os meus olhos caem para a sua boca onde o seu maldito sorriso libidinoso impera. — Até a próxima, Milla! — Ele sussurra e isca um olho para mim e eu me amaldiçoou por sentir o meu corpo inteiro estremecer apenas com esses gestos.

— Nos vemos na empresa, Senhor Rios. — Me forço a dizer. Contudo, ele afasta o seu rosto e ergue o seu corpo, ajeitando o terno escuro no seu corpo. Pedro não tem mais aquele sorriso pervertido nos lábios. Ele está sério e o seu olhar parece que vai perfurar o meu agora.

— Tenham um ótimo final de semana, meninas e, foi um prazer, Valentina!

— O prazer foi todo meu, Pedro!

O observo se afastar. Simplesmente não consigo desviar os meus olhos de cima dele e quando se aproxima da sua família noto todos os olhares vir na minha direção. Sem jeito, apenas aceno com os dedos para eles e me viro encontrando um par de olhos avaliadores, que sustenta um sorriso indecifrável. Sem comentários. Penso, me sentando e no ato, pego a minha caneca e praticamente enfio a minha cara lá dentro.

Inferno de homem!

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