6
Milla
— Hum, relatório perfeito, Milla! Você realmente nasceu para isso, meus parabéns! — Sorrio amplamente para esse elogio do Matheus. Quer dizer, não foi muito esforço e na verdade, cada detalhe desse evento me deixou bem animada. Juro que cheguei a imaginar cada cenário, cada carro e cada investidor. — Está na hora do almoço e eu vou me encontrar com a Laura, e com a Angel — diz me despertando e no ato, ele me devolve o papel. — E após sair do restaurante vou direto para a montagem da nova frota de carros que deve ficar pronta. Eu devo demorar por lá e depois, irei para uma reunião com Pedro.
— Então não virá mais para a empresa hoje?
— Não. Se quiser pode ir para casa e aproveitar o resto do seu dia.
— Ótimo, assim terei mais tempo para estudar para as provas. Obrigada por me ajudar com isso, Matheus! — Não seguro o impulso de abraçá-lo carinhosamente e o meu chefe retribui o meu gesto sem hesitar.
— Não precisa agradecer, Milla. Acredite, eu tenho segunda intensões com cada favor que estou lhe fazendo. — Rio do seu comentário. — Não ria, porque em breve quero utilizar esse seu aprendizado aqui mesmo na empresa. Digamos que isso é uma troca de favores, hã? — Meu sorriso se amplia e quando nos afastamos, ele limpa a garganta e leva as mãos aos bolsos parece desconfortável. Ah, oi Pedro? — Mateus diz me fazendo virar bruscamente, encontrando um Pedro de cara amarrada, nos encarando duramente.
— Senhor Rios! — Me forço a dizer usando o meu costumeiro tom formal. Contudo, ele não responde nem a mim e menos ainda o seu irmão.
— Está tudo bem Pedro? — Matheus procura saber e ainda em silêncio ele passa feito um furacão por mim, adentrando a sala.
— Que bicho o mordeu? — inquiro baixinho para o Matheus que me responde com um gesto desdenhoso.
— Vai ver ele está sem transar esses dias. — O vice-presidente brinca piscando um olho. Entretanto, me mantenho séria.
— Ok, eu vou almoçar. A gente se ver amanhã? — falo com naturalidade a medida que me afastando para deixá-los a sós.
? Coração Pervertido ?
Minutos depois...
— Eu vou querer uma salada com arroz carreteiro e um filé ao ponto — peço para o garçom, sem tirar os meus olhos do cardápio.
— Deveria provar o nosso churrasco senhorita, é o melhor do sul do país. — O rapaz diz cordialmente me fazendo tirar os olhos do pequeno cartaz.
— Hoje não, obrigada! — Sorrio e ele assente sutilmente.
— E para beber?
— Apenas uma taça de vinho tinto, por favor, E eu gostaria de um sagu com creme para viagem. — O observo fazer as suas anotações e se afasta logo em seguida. Enquanto aguardo, tiro o meu celular da bolsa e envio uma mensagem para a minha irmã.
... Está em casa?
... Quase, por quê?
... Chegarei em casa mais e estou levando algo que você adora.
... Hum, deixe-me adivinhas? Sagu com creme.
... Eu sei o quanto você adora.
... Te vejo em casa então. Não esquece que eu te amo!
... Eu te amo mais!
Não demora para a mesa estar posta e eu saboreio o meu almoço admirando a vista das magnificas cascatas ao longe. Devo avisar, essa visão é mesmo de encantar qualquer um e os pratos desse lugar é... hum, apaixonantes, ou eu deveria dizer viciantes? Acho que os dois. Desperto quando o meu celular começa a tocar em cima da mesa e um sorriso largo logo se espalha pelo meu rosto.
— Oi mãe! Que novidade é essa a Senhora ligando para mim? — ralho sem esconder a minha felicidade.
Uma coisa sobre a família Ferber. Nós somamos muito unidos, sempre. Do tipo bem colados mesmo e eu sei o quanto essa distância está sendo difícil para eles. A final, a Valentina e eu sentimos de casa e isso é como perder duas filhas para a cidade grande.
— É que eu estava pensando em vocês e me bateu uma saudade! — Entende o que eu quis dizer? O seu lamento me faz suspirar. — Eu me lembrei que essa é a hora do seu almoço e que poderia me atender agora. Eu não estou atrapalhando, não é?
— Não está, mamãe. Podemos conversar bem à vontade. Está tudo bem por aí? — O seu suspiro me diz antecipadamente que não. Nada está indo bem.
— Não muito, querida. Depois que vocês saíram de casa o seu pai parece um velho ranzinza. — Ela reclama e não tem como não rir do seu comentário. Devo dizer eu isso é um alívio.
— Releve-o, mamãe, ele só está sentindo a nossa falta assim como você. E acredite, não está sendo fácil para nós ficarmos distante de vocês.
— Mas ele precisa ficar chato comigo? Você concorda com isso?
— Na verdade, não. Desculpa!
— Eu também estou com saudades das minhas filhas, mas não estou nenhum pouquinho arrogante com ele. — Ela retruca feito uma criança.
— Tudo bem, mãe, eu vou conversar com Senhor birrento, melhor assim?
— Faça isso por favor, querida ou eu juro mato aquele velho birrento! — Seguro uma boa risada.
— Me conta, como estão todos? — pergunto mudando de assunto.
— Estamos todos bem, filha. Ah, a Guizo já ganhou seus bebês. — Ela diz animada e eufórica, procuro me ajeitar em cima da cadeira. Guizo é a nossa cadela, uma Golden Retriever de sete meses que é o xodó da família.
— Ai meu Deus, e quando pretendia me contar isso?
— Estou contando agora, não estou? — Ela retruca.
— Quantos filhotes?
— Cinco lindos filhotes. Você precisa vê-los, eles são umas fofuras!
— A Senhora precisa me mandar as fotos. Meu Deus, a Valentina vai pirar!
— Pode deixar, vou mandá-las ainda hoje. Ah, filha acho que chegou alguém aqui na propriedade, depois a gente se fala.
— Está bem. Eu te amo e amo o papai também, diz isso para ele.
— Hum, eu digo, mas ele não está merecendo. Te amo, Milla e dê um beijo na Val por mim.
— Pode deixar, mamãe. — A ligação é encerrada, deixando uma sensação de melancolia dentro de mim.
Eu não sabia, mas sinto falta do cantinho no sítio, do meu cão de estimação, do meu quarto apertado, porém, aconchegante e dos meus amigos. E de verdade, não vejo a hora de entrar de férias, e de poder ir vê-los. Minutos depois, estou entrando em um ônibus ansiosa para chegar em casa e por algum motivo os meus pensamentos viajam por um caminho desagradável. Pedro Rios é mesmo um imbecil sem noção. Penso lembrando do nosso pequeno confronto em sua sala. Até parece que ele sente prazer em me irritar e juro que odeio quando ele fica tão próximo de mim. Tão libertino, tão... puto! Ai que droga! Grito por dentro me levantando do banco e aperto o botão pedindo parada. Logo sinto o vento agradável de a cidade bater no meu rosto e sigo pela calçada alcançando o pequeno prédio de apartamentos. E pensar que esse prédio foi um achado. Ele simplesmente fica perto de tudo que eu preciso. A minha faculdade e a da Valentina, toda sorte de comércio e até do meu trabalho. Assim que entro em caso sou praticamente atacada pelos carinhos exacerbados da minha irmã que praticamente pula nos meus braços e me enche de beijos.
— Imagino que esse é o meu sagu. — Ela praticamente arranca a sacola das minhas mãos.
— Todinho seu.
— Você é a melhor irmã do mundo!
— Isso por causa de um Sagu?
— Por tudo, Milla.
— A mamãe ligou — digo quando caminho para o meu quarto. — A Guizo teve filhotes.
— Ah, ela mandou as fotos? — Ela praticamente grita invadindo o cômodo.
— Ainda não, mas prometeu enviar ainda hoje. — Livro-me das minhas roupas e vou apenas de lingerie para o banheiro. — Que tal maratonar a nossa série preferida? — Ela faz uma careta e rio.
— Não dá, tenho alguns trabalhos para fazer. Mas podemos fazer isso se eu conseguir terminar tudo cedo.
— Combinado.