5
Milla
Respiro fundo pelo menos umas três vezes antes de bater na porta do meu chefe e abri-la, para em seguida entrar. Matheus tem um sorriso largo e feliz no rosto e está falando ao telefone. Ele faz um gesto para que me aproximar e eu faço, deixando alguns papéis sobre a sua mesa.
— Preciso desligar, querida, nos vemos a noite. Beijo, eu te amo! — Chego a suspirar com esse final de ligação e assim que ele põe o aparelho em cima da mesa, se ajeita em sua cadeira, pega os papéis e começa a folheá-los.
— Ele assinou todos? — pergunta olhando direto para mim.
— Sim, mas esqueci de falar que deseja falar. — Meu chefe apenas assente.
— Você demorou para voltar — comenta guardando os papéis em sua maleta executiva.
— Pois é, ele passou uma eternidade para assiná-los. Nunca vi retardar tanto uma simples assinatura — resmungo me acomodando em uma cadeira. Contudo, Matheus se levanta, levando as mãos nos bolsos laterais da sua calça. Calmamente ele contorna a mesa e vem até mim.
— Está tudo bem? Você parece meio nervosa. — O que eu posso responder para o meu chefe? Que eu vi uma secretária piranha praticamente com a boca no meio das pernas do seu irmão? Ou falo sobre o fato do nosso chefão ter sussurrado algumas palavras nada apropriadas perto do meu ouvido? Não, eu não devo falar até porque o que a Hélia faz da sua vida não é da minha conta e as palavras do Senhor Rios nem foram tão ofensivas assim. Merda, não posso dar mole para aquele pervertido-puto-dos-infernos! Portanto, apenas olho para o meu chefe que aguarda pacientemente uma resposta minha. O problema é, qual foi mesmo a sua pergunta? Ah sim, o motivo do meu nervosismo. Nem estou tão nervosa assim, certo? Penso e forço um sorriso profissional para ele.
— Estou bem, Matheus. — Isso, bem agitada. Nada que eu não possa contar.
— De verdade? — Ele insiste e eu faço um sim com a cabeça.
— E então, o que vamos fazer agora? Na sua agenda só tem uma reunião para o fim da tarde. — Exatamente, estou fugindo dessa conversa absurda.
— Verdade, nós podíamos treinar um pouco, o que acha? — O seu convite me faz abrir um largo sorriso. Desde que contei com o meu chefe sobre o meu curso de administração ele está empenhado em me treinar e isso é bom, certo? Não, isso é mega bom! Isso é ultra bom! Um treino direto com um homem como Matheus Rios e o meu currículo acadêmico vai para o topo.
— Claro que sim! — concordo sem conter a minha empolgação.
— Perfeito! Mas antes quero que saiba que daqui há duas semanas haverá um empório de veículos clássicos e importados. — Ele fala indo até um móvel de designer moderno, abre uma porta pequena e tira de lá algumas pastas. — Nossa empresa está inscrita nesse evento e eu quero que você analise estes papéis e depois, escreva em uma folha a parte a sua visão geral do evento em relação aos custos da nossa empresa. Então me diga qual será o efeito para o nosso quadro financeiro, ok? — pede me entregando os documentos.
— Ok! — Rapidamente vou para um dos sofás, abro uma das pastas cheia de curiosidade e o leio atentamente.
Céus, isso é realmente um megaevento. Penso enquanto divago na leitura das primeiras linhas e de cara já percebo que Wash Car concorrerá com grandes empresas alemãs e americanas e isso a ajudará a chegar no pódio, mesmo que ela nem chegue ao primeiro lugar nas suas vendas. Nas páginas seguintes encontro as imagens dos automóveis que serão exportados, e eu devo dizer, eles são mesmo de tirar o fôlego, sem falar nos números são exorbitantes.
— Olha isso. — Matheus diz tirando-me dos meus devaneios e curiosa, tiro os olhos dos papéis. Ele se acomoda do meu lado e um braço seu se acomoda no encosto do sofá atrás de mim. A outra mão segura uma foto antiga da Wash Car e me pego sorrindo para a imagem que exibe quatro crianças e uma linda mulher de cabelos negros, e curtos. Eles estão sorridentes e em pé em frente a fachada do prédio. Matheus fala com empolgação sobre os irmãos e começa a apontar com o indicador cada criança, dizendo quem é quem na imagem. — E esse é o Pedro. — Os meus olhos se fixam no garoto usando um boné de baseball azul e uma camisa de algum time americano. Olhando para o rosto do garoto não dá pra dizer que seria o puto que ele é hoje. A porta da sala do escritório se abre repentinamente e o dito cujo passa por ela, parando bruscamente bem na entrada. O olhar do Senhor Rios para em cima da mão do seu irmão atrás de mim e depois ele fita duramente o seu irmão. Só então ele olha para mim.
— Mano? — Matheus diz se levantando para ir ao seu encontro. Contudo, o olhar acusador do presidente da Wash se fixa em mim em meio ao abraço dos irmãos. Olhar acusador? Ele não está pensando que nós... Ah, era só o que me faltava! — Estava mesmo querendo falar com você. — Desperto com a voz firme e profissional do Matheus.
— Eu vi a sua mensagem — Pedro ralha com um tom seco.
— Sim, precisamos conversar sobre a reunião de hoje.
— Você tem alguma dúvida? — Ele parece ligar o seu modo profissional agora.
— Milla, pode nos deixar a sós por favor? — Meu chefe pede e eu juro que dou graças a Deus por isso.
— Claro! Vou terminar a leitura dos papéis na minha mesa e assim que terminar faço o relatório que me pediu — aviso levando-me do sofá e abraço.
— Boa menina! — Matheus elogia enquanto reúno as pastas para sair da sala. Contudo, passo apressada pelo presidente, porém, o seu olhar indecifrável não passa despercebido aos meus olhos.
Quem ele pensa que eu sou, a droga de uma puta como ele é? Não consigo evitar de estar irritada. No entanto, respiro fundo e largo as pastas de todo jeito em cima da minha mesa. Me sento e tento não pensar mais nisso. A leitura me afastará de certos pensamentos assassinos, a final, se eu mato o presidente não receberei o meu salário.