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04

— Na verdade, acabei de vir de seu vizinho. Mundo pequeno, não acha? Os Thompson. Eles vivem a três casas daqui.

— Não conheço ninguém por aqui, exceto o casal idoso que mora em frente.

— Pensei em passar por aqui para saber se você já conseguiu achar um emprego.

De frente para ele e sem nada de salto, Vicky sentiu-se pequena e horrorosa. A longa trança presa ao acaso era um insulto ao bom gosto. E havia terra em sua face, roupas, mãos... As grosseiras botas de cano alto estavam cobertas de adubo. Quando tirou as luvas de jardinagem, imundas de terra, notou que o estado de suas unhas era terrível.

— Só se passaram três dias e ainda não tive sorte. Obrigada. — Ela não se moveu apesar do frio que penetrava através da roupa, fazendo-a tremer. Então enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta.

— Muito mal.

— Estou certa de que algo aparecerá.

— Oh, eu não sei. Empregos de digitação em firmas de grande porte são escassos.

Havia uma diversão velada na voz dele que a deixou ainda

mais nervosa.

— Escute, por que não entramos? — sugeriu ele. — Tenho tempo para uma xícara de chá, e você poderá me contar tudo sobre a Austrália.

— Não há nada para contar.

Um início de pânico começou a tomar conta de Vicky. Ele não poderia entrar na casa dela. Chloe não estava lá, mas os sinais dela estavam por toda parte. Max não sabia que ela tinha uma filha e era assim que as coisas deveriam permanecer.

Quando se candidatara ao emprego, covardemente havia omitido a existência de Chloe, porque tinha consciência de que ser mãe de uma criança era motivo possível para ser rejeitada em algumas firmas. A escola e Betsy, a mulher que a ajudava algumas noites, garantiriam sua independência para trabalhar.

Max a fitou, confuso. Queria esclarecer sua presença ali, a qual, na verdade, não tinha a menor idéia da verdadeira razão. Queria também limpar um pouco da terra do rosto dela, só para saber como ela reagiria. E, para sua frustração, também queria ficar ali, pois vê-la novamente o tinha deixado mais intrigado do que naquele primeiro encontro.

— Para ser sincero, não passei aqui por acaso — disse ele casualmente, ressentindo-se por ter que dizer uma mentira para disfarçar a patética fraqueza.

— Ah, não? — perguntou ela cautelosamente.

— Na verdade minha passagem tem a ver com sua casa.

— Como?

— Por que não entramos e conversamos a respeito? Ele jamais pensara que pudesse ser tão dissimulado. Mas

tudo aquilo porque não conseguira tirar a atrevida garota da cabeça. Vicky despertara seu interesse, por razões inexplicáveis, e lá estava ele, comportando-se como um ator inexperiente em um filme de terceira categoria. Nunca, jamais, fizera algo remotamente parecido, em sua vida inteira, por causa de uma mulher, e quase não podia acreditar em sua atitude agora.

Vicky não disse nada. Em vez disso, dirigiu-se à casa, lutando contra o vento forte. Max a seguiu, alguns passos atrás e, então, cerrou os dentes de raiva quando ela lhe disse para esperar do lado de fora até que se arrumasse. .— Por que do lado de fora?

— Porque esta é minha casa, e isso é o que eu estou dizendo para você fazer — irrompeu Vicky, fechando a porta de supetão.

Nunca fora tão rápida em uma ação. Em cinco minutos, escondeu todas as evidências de sua filha.

— Então — disse ela, puxando a porta abruptamente —, o que tem a dizer sobre minha casa?

— Alguém já lhe mencionou que você é completamente excêntrica?

— Não. — Ela o conduziu à sala de estar, que tinha sido redecorada e estava agora em tons verdes suaves. Consultando o relógio, viu que faltavam pelo menos duas horas antes que Chloe estivesse de volta. Tempo mais que suficiente para livrar-se de Max Forbes, cuja presença era o bastante para intimidá-la.

Ele se sentou na poltrona que lhe foi indicada e não disse nem uma palavra, como se estivesse esperando que Vicky se acomodasse também.

— Não quero me sentar — disse ela. — Estou muito suja.

— Eu não posso tratar de um assunto sério dessa maneira. — Max meneou a cabeça e levantou-se. — O que é uma pena, porque acho que você se interessaria pelo que tenho a dizer sobre sua casa. Agora, se suas esquisitices se sobrepõem a seu próprio interesse, então... — Ele fez um gesto eloqüente. — Bem, pelo menos eu tentei.

Vicky o olhou de forma duvidosa. Aquele homem não deveria estar ali. Ela não deveria tê-lo deixado entrar. Já vivera uma situação muito semelhante com o irmão dele. Desde o minuto que pusera os olhos em Shaun, soubera que ele lhe traria coisas ruins. Era lindo e falava macio. Então se curvara sobre a mesa de trabalho dela e a seduzira completamente. Mas ela deveria ter aprendido a lição! O irmão de Shaun devia ser ainda mais perigoso do que ele. E se a própria necessidade de se proteger não era suficiente para conservá-la longe de Max Forbes, precisava, ao menos, pensar na segurança de sua filha.

Cabelos escuros, olhos verdes, Chloe era a cópia perfeita de Shaun. Não havia como negar que era uma Forbes.

Da relação romântica só restara a menina. Se Shaun fosse decente, teria sumido de sua vida e da vida de Chloe, deixando-as viver em paz. Mas era um homem fraco!

Mesmo sob influência do álcool ou das drogas, ele não costumava ser violento. Mas para ganhar a complacência dela, ameaçava tirar-lhe a filha. Ele adorava fingir para o mundo que nunca gerara um filho, mas não se cansava de alertar Vicky que se sua família descobrisse a menina, moveriam uma ação milionária, alegando ter direito sobre a criança. Ainda mais depois que pudessem constatar a incrível semelhança com o clã dos Forbes.

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