03
Oh, sim. A vida deixara de ser meramente um caso de ganhar dinheiro e fazer amor, ambos que ele exercia com alto grau de habilidade e, ultimamente, sem muito prazer ou satisfação. Vicky Lockhart tinha algo a esconder, e aquele simples mistério fez com que uma onda de prazer percorresse seu corpo inteiro.
— Que interessante — disse ela polidamente.
O sol, penetrando através da janela, atingiu seus cabelos ruivos que pareciam em chamas. Era, pensou ele, o mais incomum tom de vermelho. E não era tintura.
Claro que ela não fazia o seu tipo, em absoluto. Sempre se sentira atraído por mulheres altas e de seios volumosos. Mas então se pegou imaginando se, por debaixo daquela fachada doce e infantil, havia uma mulher ardente e indomável, pronta para o amor.
Max sorriu com o pensamento e ficou admirado em notar que seu corpo havia respondido vigorosamente à imagem que construíra. Ficar excitado daquele jeito fez com que se sentisse um adolescente e então recobrou sua postura formal.
— Não sei se Geraldine mencionou o salário... — Esperando que ela mordesse a isca, ele anunciou um salário que era quatro vezes maior que o do cargo ao qual ela se candidatara. Pôde então ver o brilho de interesse iluminar os olhos castanhos da ruiva, e as delicadas mãos se apertarem no braço da cadeira, como se precisasse de apoio.
— E um salário muito bom.
Ela vai aceitar, pensou ele. Podia ler isso na expressão dela.
— Mas, realmente, lamento ter que dizer não. Levou alguns minutos para que ele digerisse a recusa.
— O quê? — Max a fitou e foi assaltado por uma humilhante sensação de fraqueza. Nem mesmo entendia por que estava tão furioso pela recusa dela, apenas sabia que queria sacudi-la até que ela concordasse em trabalhar para ele. Ele sorriu com o absurdo. Deveria estar perdendo o juízo. Deixar Nova York e mudar-se para o Reino Unido causara-lhe, com certeza, algum dano mental. Por que estaria olhando para uma mulher estranha e sentindo-se daquele jeito?
Max começou a tamborilar a caneta sobre a mesa.
— Certo, se não posso persuadi-la...
— Estou lisonjeada que tenha estado preparado para tentar...
Ela ficou de pé e lhe deu um sorriso de alívio que o irritou visivelmente.
— Milhares de pessoas se matariam pelo emprego que acabei de lhe oferecer.
Ele ouviu a irritação em sua própria voz e sorriu educadamente. Então, completando seu inexorável declínio para a irracionalidade juvenil, baixou os olhos até os seios dela. Duas pequenas protuberâncias sob a blusa e o blazer. Como seriam? Minúsculos, ele supunha. Firmes e com mamilos rosados. Cabelos ruivos caindo sobre um corpo nu e seios rosados no tamanho exato para caber em suas mãos...
— Tem certeza de que não deseja reconsiderar?
— Absoluta. — Vicky levantou-se e estendeu-lhe a mão. Ele podia jurar que aquela mão estava-lhe sendo oferecida
apenas por cortesia, quando o que ela queria realmente fazer era desaparecer dali sem nem ao menos se despedir.
Em um arremedo de boas maneiras, ele lhe beijou a mão.
Qual seria a história dela? Ela ficara nervosa, era fato, mas por quê? Algum detalhe do passado? Não, ele nunca a vira antes, com certeza. Havia algo inesquecível na etérea delicadeza daquela face e no desalinho daqueles cabelos notáveis. E ela estivera morando na Austrália, portanto...
— Se eu falar com James, mencionarei que a conheci — murmurou ele, acompanhando-a até a porta.
— Naturalmente — respondeu ela. — Você tem contato regular com ele?
— Eu costumava ter. Ele ocasionalmente vigiava meu irmão rebelde.
— E não faz mais isso?
Ele notou no embaraço da voz dela uma ponta de interesse.
— Meu irmão morreu há pouco tempo em um desastre de carro, srta. Lockhart.
Vicky assentiu e, em vez de proferir as habituais condolências, alcançou a maçaneta da porta, pronta para escapar dali. Sabia que deveria expressar alguma espécie de pesar cortês, mas honestidade e coerência a impediram. Não tinha nada a lamentar pelo destino de Shaun. Perdoar era divino, mas ela não tinha propensão para divindade.
— Bem, talvez nos encontremos outra vez — disse ele enquanto pensava: Muito mais cedo do que você imagina.
— Acho difícil — disse ela ao abrir a porta. — Mas muito obrigada pela oferta de emprego, de qualquer maneira. E boa sorte em encontrar alguém para a função.
O jardim da modesta casa que pertencera à mãe de Vicky fora a primeira decepção após seu retorno a Inglaterra. Anos e anos de inquilinos descuidados haviam destruído o lugar.
Quebrou-lhe o coração pensar no tempo que sua mãe despendera cuidando daquele jardim, na época, imaculado. Uma década atrás, após a morte do marido, pai de Vicky, o pequeno jardim fora a tábua de salvação que funcionara como atenuante para a dor dela, até que a doença tirou-lhe a > energia para continuar o cultivo de que tanto gostava. Agora restava apenas uma profusão de ervas daninhas.
Vicky, com roupas sujas e suadas pelo esforço, passara a manhã de sábado limpando o jardim, mas ainda assim apreciou o fato de finalmente estar tendo um tempo livre para lidar com aquele pequeno espaço de terra.
Era a primeira vez que se dedicava à tarefa, e somente porque Chloe fora passar algumas horas na casa de uma colega da escola.
O pensamento sobre sua filha de cinco anos, automaticamente trouxe-lhe um sorriso aos lábios. Chloe tinha se adaptado à nova escola e às colegas, o que era um grande alívio. Com luvas de jardinagem, ela enfiou a mão sob a terra, o pensamento ainda em sua bela filha de cabelos negros e brilhantes, tão fisicamente diferente dela.
— Pensei que poderia encontrá-la aqui. Espero não ser inconveniente — disse uma voz grave por detrás dela. O choque foi tanto que a fez arremessar-se contra um arbusto. Após lutar contra a folhagem, terra e gravetos pontiagudos, Vicky estava decididamente em sua pior forma.
Max Forbes, sob o saudável sol do inverno, ao contrário, estava incrivelmente bem.
O vento despenteara seus cabelos negros e uma mecha caía-lhe na testa de uma maneira juvenil, opondo, às feições angulosas. O casaco de tweed abriu-se por completo, expondo a calça esporte escura e o colete creme sobre uma camisa em tom pálido. O choque de vê-lo em seu jardim fez com que ela desse alguns passos para trás.
— Cuidado para não cair outra vez.
— O que está fazendo aqui?
Agora que suas idéias voltavam ao normal diante da forte presença masculina, o pensamento voou em alta velocidade, e a lembrança de que Chloe estava ausente trouxe-lhe um certo alívio.