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05

Assim, por mais doloroso que fosse, vivera à sombra do medo. Algumas vezes, passavam semanas sem ver Shaun. De repente, ele reaparecia, exigindo seus privilégios sexuais. Ela dormia com ele e depois chorava lágrimas amargas.

Ter Max Forbes sob seu teto era como estar vivendo um mesmo pesadelo pela segunda vez. Ouvira o suficiente sobre o homem para saber que a existência de Chloe seria de grande utilidade para ele. Com certeza, moveria um processo de custódia na Corte judicial. Noventa e nove por cento dela sabia que sua filha estava segura, mas aquele ínfimo um por cento era o suficiente para aterrorizá-la.

Passara anos protegendo sua filha de um homem abusivo e vivera sobre o fio da navalha, esperando em temerosa expectativa que o pior acontecesse. Agora, tinha certeza de que precisava manter em segredo a existência de Chloe. Por tudo que ouvira, aqueles irmãos tinham mais em comum do que a semelhança física. Muito mais. E ela não fugira de um ciclo destrutivo para cair em outro. Jamais daria a um homem aquele poder sobre ela outra vez.

Max estava de pé, perto da porta, quando ela voltou à realidade.

— Sente-se, por favor. Posso ouvir o que você tem a dizer. — Vicky indicou a poltrona a qual ele acabara de desocupar.

— Você parece agir como se estivesse me prestando um grande favor. Asseguro-lhe, srta. Lockhart, que não poderia estar mais longe da verdade.

— Desculpe-me. Eu tenho... muitas preocupações.

— Por que não vai se trocar? Roupas limpas podem melhorar seu humor.

Ela franziu a testa e pareceu estar disposta a discutir aquela sugestão mas, em vez disso, informou-lhe que lhe traria uma xícara de chá.

Isso, pensou ela, conservaria aquele homem parado na sala. A última coisa que precisava era Max Forbes vagueando pela sua casa.

Pelo menos a sala era um lugar neutro. Ela escondera o retrato de Chloe na arca que ficava atrás do sofá. A maioria das peças de decoração que estavam ali haviam pertencido à sua mãe e ficaram trancadas no sótão enquanto a casa fora alugada. O anonimato não poderia ser melhor, pensou.

Quando voltou para a saleta com o bule de chá, encontrou-o inocentemente folheando o jornal que estava na mesinha de centro na frente da lareira.

— Voltarei em um instante — anunciou ela com firmeza e, prevenida, no caso de ele ter alguma idéia de inspecionar o lugar, fechou firmemente a porta da saleta que dava para os quartos.

Tomar uma ducha custou-lhe cerca de dez minutos. Vestiu uma calça jeans e uma camiseta limpas e trançou novamente os cabelos sem se preocupar em desfazer os nós. Mais tarde, lavaria os cabelos com xampu, iria penteá-los e desembaraçá-los.

— Agora — disse ela, entrando na sala e vendo, com alívio, Max ainda absorto no jornal —, você pode falar sobre a minha casa.

— Você ouviu os rumores?

— Que rumores?

— Sobre o supermercado que vão construir nessa rua. Bem, talvez seja um hipermercado, porque aparentemente haverá estacionamento para milhares de carros.

Vicky, sentada de pernas cruzadas na confortável poltrona em frente a ele, olhou-o aterrorizada. Por um minuto, esqueceu-se completamente de que deveria estar na defensiva.

— O que está me dizendo? — perguntou ela, inclinando-se para frente na poltrona e entreabrindo os lábios.

— Horrível, não é? — comentou ele, desatento do assunto. Simplesmente não conseguia tirar os olhos dela. Ali, curvada daquele jeito na poltrona, Vicky parecia ainda mais vulnerável. A camiseta era pequena e justa e lhe delineava os seios pequenos e bem formados de maneira encantadora.

Ele só não podia esquecer-se de que fora lá porque ela sugeria um mistério e não pela atração que sentia por ela.

Infelizmente, Vicky não parecia ter interesse nele. Acostumado com os insinuantes olhares femininos sobre si, o desinteresse daquela mulher tornava-se um poderoso afrodisíaco.

— Quem lhe contou isso? — perguntou ela, depois de alguns segundos de silêncio.

— Ah, você sabe como são os rumores. Chegam de repente em nossos ouvidos e nunca se sabe se eles têm ou não fundamento. Mas não me sentiria bem se não lhe contasse.

— Minha casa não valerá nada se um supermercado aparecer nessa rua. — Vicky tentou controlar suas emoções.'— Não que eu a queira vender, mas...

— Estou certo de que não passa de boatos — disse Max rapidamente, sentindo-se culpado ao ver o brilho das lágrimas nos olhos dela.

— E se por acaso não for? Meu Deus! Um hipermercado com estacionamento para milhares de carros! — Descontrolada, Vicky não conseguiu conter as lágrimas. Por alguns instantes, ficou pouco consciente do que estava acontecendo, até que sentiu Max sentar-se no largo braço almofadado da poltrona dela e tocar-lhe a face com um lenço. Com um gemido de desespero, Vicky pegou o lenço, enxugou as lágrimas e, com um suspiro, recostou-se na poltrona, fechando os olhos.

— Eu nunca deveria ter dito isso dessa maneira... — Nem ele acreditava em quão sincero estava sendo. Max estendeu a mão e tirou uma mecha ruiva da face úmida. A pele dela era como cetim, e as sardas sobre o nariz eram graciosas. Deslizando o polegar um pouco e não encontrando impedimento, passou-o de leve pela boca de Vicky.

— Não, foi muito bom. Assim estarei preparada para o pior. — Ela abriu os olhos e viu gentileza nos olhos acinzentados a sua frente. O que, inesperadamente, foi o bastante para sentir-se sufocada.

— Posso facilmente descobrir quanto há de verdade nesse rumor — disse Max suavemente, sentindo-se enrijecido enquanto continuava acariciando a face alva.

Aquela mulher era um enigma. Vicky era mais que uma garota vulnerável e lhe inspirava sentimentos ridículos de proteção, os quais ele nem mesmo sabia possuir.

— Você faria isso? — perguntou ela rapidamente.

No breve silêncio que se interpôs, Vicky percebeu os dedos dele em sua face e recuou, pressionando o corpo contra a poltrona.

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