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01

Entre a tensão emocional e os pensamentos tumultuados, Vicky tentou localizar a razão. Em vão. Não conseguiu encontrar nem uma palavra sequer para dizer.

— Você sabe que realmente parece um pouco nervosa. — Ele cocou o queixo pensativamente, enquanto continuava a estudar-lhe o rosto, com a paciência de um predador mirando sua presa. — Você não é um desses tipos neuróticos, é?

— Sim — concordou Vicky, aceitando qualquer tábua de salvação que a tirasse daquele lugar. — Completamente neurótica. Sem utilidade para um homem como você.

— Um homem como eu? E que tipo de homem é esse?

Vicky baixou os olhos para não responder aquela pergunta. A força da resposta que ela lhe daria poderia colocá-lo de joelhos a seus pés.

— Sente-se. Você está começando a me interessar, srta. Lockhart. — Assim que ela se acomodou na cadeira mais próxima, ele prosseguiu: — Agora, diga-me por que estou começando a sentir que há algo estranho no ar.

— Não sei o que quer dizer com isso.

— Certo, deixemos isso de lado.

Ele tem um horrível complexo em relação a mim. Sempre achou que podia conduzir minha vida.

Vicky podia claramente ouvir a voz de Shaun, cheia de ressentimentos como sempre fora todas as vezes que se referia ao irmão, Max Hedley Forbes. Sim, esse era o nome do homem sentado a sua frente. Ouvira-o muitas vezes dos lábios de Shaun, com amargura e antagonismo, sempre o acusando de ser egoísta, de tratar com enorme rudeza seu único irmão, fazendo-o ser rejeitado pelo próprio pai.

Quando se candidatara ao emprego, jamais ocorrera a Vicky que os caminhos de seu destino passariam por ali.

Max Forbes sempre vivera em Nova York e, portanto, ela jamais pensara que terminaria por encontrá-lo em um edifício comercial em Warwick. O passado apertou-lhe o coração, e ela rapidamente fechou os olhos, cedendo à vertigem que ameaçava sobrepujá-la.

Shaun podia ter se tornado um pesadelo, mas o homem que a analisava friamente agora, tinha sido o principal causador das dores, angústias e inseguranças de seu irmão.

— Então — a voz aveludada trouxe-a de volta à realidade — você se diz completamente neurótica, contudo, o seu currículo diz que teve um emprego de alta credibilidade na Austrália, o qual você deixou com excelente referência. Como explica isso? Talvez suas neuroses estivessem sob controle naquela ocasião?

Vicky absteve-se de responder, olhando através da janela a linha sinuosa dos edifícios altos da redondeza.

— Geraldine deu a você alguma indicação porque este cargo tornou-se disponível? — Max deu alguns passos pela sala e se sentou sobre a mesa, encarando Vicky diretamente.

— Não, mas honestamente não vejo necessidade de explicações. Na verdade, candidatei-me para trabalhar com digitação e...

Os lábios dele estremeceram levemente, e, quando respondeu, a voz era séria:

— É claro. Entendo muito bem que você não queira desperdiçar seus indubitáveis talentos em um bom emprego, com perspectivas de carreira...

Vicky dirigiu-lhe um rápido olhar, desconcertada pela ponta de humor sob o sarcasmo.

— Eu não quero assumir nada que exija muito de mim porque temo não ser capaz de fazer corretamente.

— Como assim? — perguntou ele, enquanto folheava o currículo dela.

— Bem — gaguejou Vicky —, retornei recentemente da Austrália e tenho uma porção de coisas concernentes às providências que uma mudança desse tipo exige. — A explicação soou tão inverossímil que ela sentiu a face ruborizar.

— Por que decidiu ir para Austrália?

— Minha mãe... faleceu... e senti que a mudança me faria bem. Acontece que fiquei mais tempo que o planejado. Logo consegui um emprego em uma excelente companhia e fui promovida nos primeiros seis meses. Eu... Bem... Permanecer lá me pareceu mais fácil do que voltar para a Inglaterra e lidar com...

— Com sua perda?

Vicky ficou estática pelo discernimento do homem. Uma vez considerara Shaun muito perceptivo e sensível. Talvez essa qualidade fizesse parte da família Forbes.

— Eu apreciaria se nós pudéssemos terminar essa entrevista agora. — Ela começou a se levantar, percebendo os espantados olhos acinzentados, fixos nela. — Lamento ter tomado seu tempo. Percebo que é um homem muito ocupado, e tempo é dinheiro. Se eu tivesse conhecimento da situação, teria telefonado para cancelar a entrevista. Como eu disse, não estou interessada em um emprego que irá monopolizar o meu tempo livre.

— Suas referências fornecidas por James Houghton são brilhantes... — continuou ele friamente, ignorando a tentativa dela de abandonar a sala. — Muito impressionante mesmo, principalmente porque conheço muito bem James Houghton.

— Você o conhece? — Ouvindo aquilo, diversas catástrofes em potencial delinearam-se em sua mente, e ela voltou a se sentar. Não era conveniente que Max Forbes tivesse contatado seu antigo chefe na Austrália. Vicky tinha muitos segredos que não tinha intenção de revelar.

— Estudamos na mesma escola, muitos anos atrás. — Ele se levantou e começou a andar pela sala enquanto falava. Se a tática era desconcertá-la, então ele estava conseguindo. — James é um bom homem de negócios, e uma recomendação dele é enormemente satisfatória. — Ele fez uma pausa e o silêncio a arrepiou. — Onde você morou na Austrália.

— Em Sydney. Minha tia tem uma casa lá.

Havia uma ponta de perigo nesse tipo de questionário, mas Vicky não tinha idéia de como escapar.

— Você tinha uma vida social muito intensa?

— Como assim? — perguntou ela cautelosamente. Ajudaria muito se ele voltasse ao campo de visão de tal maneira que ela pudesse interpretar-lhe a face. Mas, pensando bem, talvez fosse melhor que não pudesse vê-lo. Afinal de contas, ele seria capaz de ver-lhe as expressões, e tinha muito mais coisas para esconder do que ele jamais imaginaria.

— Com colegas de trabalho, digamos assim.

Ela podia sentir a aproximação dele. A proximidade daquele homem estava causando-lhe claustrofobia. Do canto dos olhos, podia percebê-lo junto à parede, mãos nos bolsos da calça, cabeça levemente inclinada para um dos lados como se estivesse pesando em tudo meticulosamente.

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