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Prólogo

— Ah, sim, srta. Lockhart! — Uma distinta senhora de meia-idade entrou na imponente sala de espera da Empresa Paxus, com um sorriso radiante. — Sou Geraldine Hogg, a responsável pelos trabalhos de digitação — apresentou-se ela, cumprimentando Vicky com um firme aperto de mão. — Estou com sua ficha de inscrição aqui, minha querida. — Ela agitou os papéis grampeados que tinha em mãos. — E você terá uma boa surpresa.

O coração de Vicky disparou, não gostava de surpresas. Havia se candidatado à função de digitadora da Paxus porque o salário era excelente e precisava de dinheiro até que pudesse pôr sua casa em ordem. Procurava por um emprego que não exigisse demais dela e que lhe deixasse tempo livre para reorganizar sua vida.

— Vamos para a minha sala e eu lhe explicarei tudo, certo?

Geraldine Hogg tinha uma postura firme, porém amigável, e parecia ser determinada, sem ser agressiva. Vicky sentiu que trabalharia bem tendo como chefe aquela mulher que agora a conduzia por um corredor luxuosamente acarpetado, flanqueado por diversas portas.

— Preciso lhe dizer que você me parece um tanto quanto desqualificada para o emprego — acrescentou Geraldine.

Vicky suprimiu um suspiro de desapontamento. Seu último emprego na Austrália fora bem diferente daquele. Lá, era uma das assistentes pessoais do diretor de uma companhia pública em expansão.

— Entre, querida. Café? — Ela indicou uma cadeira para Vicky e chamou a copeira. — O café daqui é maravilhoso. Nada daquelas porcarias instantâneas.

— Ótimo, eu adoraria uma xícara. — Vicky se sentia ligeiramente confusa e nervosa.

— Bem, serei objetiva com você. — Geraldine sentou-se à escrivaninha e lhe deu um olhar atento. — Vamos direto à pequena surpresa que lhe reservei! Antes de tudo, deixe-me dizer que fiquei impressionada com seu currículo. Muitas qualificações! Você deve ter sido de grande valor para a companhia na qual trabalhou!

A cabeça de Vicky girava.

— Eu gosto de pensar que sim. — Ela tentou um sorriso confiante, e agradeceu silenciosamente à interrupção da jovem garota que trazia duas xícaras de café.

— Bem, antes de tudo, achamos que seria um desperdício empregá-la como digitadora.

Vicky podia sentir as lágrimas de desapontamento brilhando em seus olhos. Desde que deixara a Austrália, quatro meses atrás, tivera vários trabalhos temporários, nenhum deles satisfatório. E para dois empregos aos quais se candidatara, não tivera sucesso. E agora, a menos que obtivesse um emprego apropriado, sucumbiria pelos atuais problemas financeiros, pois não conseguiria se manter com suas escassas economias.

Geraldine prosseguiu com um tom de satisfação:

— Não se sinta tão rejeitada assim, querida. O chefe de nossa organização está precisando de uma secretária. Tenho de admitir que você é um pouco jovem para a função, mas suas qualificações a tornam apta para o cargo.

Trabalhar para o chefe da empresa? Vicky sabia que nada acontecia por acaso, mas a oportunidade parecia boa demais para ser verdade.

— Eu a levarei agora mesmo para vê-lo, e, apesar de não poder garantir que o emprego será seu, sua experiência anterior certamente contará a seu favor.

Para Vicky tudo aquilo parecia um sonho estranho que acabaria no momento em que abrisse os olhos. Na verdade candidatar-se ao emprego naquela companhia fora um sonho desde o início. Vira o anúncio no jornal, e o nome da empresa despertara lembranças escondidas em algum lugar escuro de sua mente.

Shaun mencionara várias vezes o nome daquela empresa como uma das muitas que sua família possuía. E aquele nome ficara gravado porque era o mesmo da rua em que ela vivera com a tia, em Sidney. Shaun era a única pessoa no mundo que lhe causava repulsa, e respondera ao anúncio não somente pelo ótimo salário oferecido, mas também pela curiosidade de conhecer de perto a grande dinastia Forbes.

Agora, observava a decoração luxuosa das salas enquanto era conduzida ao terceiro andar. As áreas centrais eram amplas e ladeadas com pequenos escritórios privativos, protegidos de olhos curiosos por vidros escuros. Havia floreiras de plantas exóticas naturais por todos os lados.

— Espero que você não se importe de subir pela escada — disse Geraldine, ofegante a seu lado. — Não suporto elevadores, sou adepta a exercícios.

Vicky, ocupada em observar tudo a sua volta, apenas sorriu de modo conivente. De alguma maneira, era-lhe difícil associar Shaun àquele ambiente limpo e bem-estruturado. Preocupou-se em voltar sua atenção ao monólogo de Geraldine sobre às sólidas e bem-sucedidas propriedades Forbes, das quais a empresa Paxus era um pequeno, porém florescente, satélite. Vicky perguntava a si mesma se alguma menção seria feita sobre Shaun, ou pelo menos sobre o único irmão dele que vivia em Nova York, mas o nome dele não foi citado durante a conversa que girava sobre linha de crescimento, lucro e preço das ações.

— Trabalho para a família Forbes há vinte anos. Eu desejava uma carreira de instrutora de esportes, mas a vida me levou por outros caminhos.

— Eu serei uma trabalhadora esmerada, srta. Hogg — arriscou ela, enquanto acompanhava os passos rápidos da outra mulher, tentando nervosamente recolocar a fivela que segurava seus cabelos longos e cacheados, sem perder o passo. Precisava daquele emprego e não queria causar má impressão, mesmo que fosse praticamente impossível parecer madura e sofisticada quando seus cabelos ruivos eram rebeldes de natureza, e sua expressão, por mais que tentasse parecer austera, era infantilizada por inúmeras sardas.

— Aqui estamos! — Geraldine Hogg parou abruptamente em frente a uma das portas do corredor e bateu levemente. — Com licença — disse ela, abrindo apenas uma pequena fresta e, misteriosamente, perdendo todo aquele ar de mulher segura. — Trouxe a srta. Lockhart para vê-lo.

— Quem?

— Srta. Lockhart.

— Agora?

Vicky, embaraçada, perguntou-se se aquela oferta de emprego era uma surpresa para ele ou se os chefões das organizações eram mesmo isentos de boas maneiras.

— Eu o informei há uma semana — disse Geraldine em tom formal.

— Deixe-a entrar, Gerry.

Geraldine abriu a porta completamente e deu um passo atrás para permitir que Vicky adentrasse a sala.

O homem estava sentado atrás de uma mesa imensa, em uma cadeira de couro giratória.

Com o coração disparado, Vicky sentiu a porta sendo vagarosamente fechada atrás de si. Então lá estava ela, abandonada no meio do enorme escritório, a respiração ofegante e perguntando-se se as pernas trêmulas agüentariam o peso do corpo por mais tempo.

Tudo que podia ver era o pesadelo a sua frente.

— Você está bem, srta. Lockhart? — A pergunta tinha um tom impaciente e despreocupado. — Você parece estar à beira de um desmaio e não tenho tempo para lidar com uma secretária desfalecida.

— Estou bem, obrigada. — Realmente, considerando-se o choque que a sobressaltara, estar de pé significava mesmo estar bem, certo?

— Sente-se. — Ele indicou com a cabeça, secamente, uma cadeira a sua frente. — Temo que minha memória tenha fraquejado quanto a sua vinda aqui hoje...

_ Tudo bem! — De repente, Vicky recuperou a voz — Na verdade, não há necessidade de perder seu tempo, entrevistando-me. Acho que não me adequaria, em absoluto, para o emprego.

Ela apenas queria sair dali o mais rápido quanto as pernas permitissem. A pele estava em chamas, e as têmporas latejavam.

Ele não respondeu. Em vez disso, fitou-a longamente, os olhos acinzentados repentinamente atentos à face ruborizada.

— Mesmo? — perguntou ele com lentidão. — E por que acha que não serviria? — perguntou, levantando-se. Altíssimo e com um corpo bem-estruturado, caminhou até a janela atrás de sua cadeira, e virou-se, encostado ao peitoril,

para encará-la.

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