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Trancafiada - Parte 4

Meu pai chegou do trabalho e fui correndo lhe dar um abraço.

Nestor - Filha, por que não avisou que viria? Teríamos nos preparado e eu teria dado um jeito de te buscar no aeroporto.

Victória - Isso me tiraria toda a graça.

Fomos caminhando até o sofá enquanto Camila me olhava irritada.

Nestor - Estou de verdade impressionado com você filha e feliz por voltar para casa!

Victória - É justamente sobre isso que quero falar com o senhor, conquistei muitas coisas por lá e uma delas foi a chance de comprar meu próprio apartamento.

Camila - Então não veio para ficar?

Victória - Para a sua felicidade, comprei um apartamento a uns minutos daqui.

Nestor - Mas não significa que precisa sair de casa assim, você pode alugar.

Victória - Não papai é melhor que as coisas sejam assim.

Dei um abraço nele, não tinha desfeito as malas por que obviamente não iria ficar. Ele me levou até minha nova casa, era claro o quanto doía para ele abrir os braços e me deixar sair de vez para a vida.

Victória - Papai deixe de tanto drama, nem parece o mesmo que me mandou para tão longe. Fiz o que o senhor sempre quis, me tornei uma mulher responsável.

Dei um abraço nele entrei, deixei a mala sobre a cama e dei uma olhada pela janela...algumas crianças brincavam em uma praça quase em frente. Abri o computador e como sempre fui stalkear as redes sociais de Aline, a última foto era de 2 anos atrás. Mandei mais um dos do vários recados que mandava todos os dias para ela.

Mensagem...

Estou de volta e dessa vez para ficar!

Fechei a tela do computador dando um suspiro, Aline era parte do meu passado que eu queria de volta. Dei uns passos dentro do quarto e comecei a me recordar daquela noite no Morro da Babilônia.

Victória - Frajola...o que será que aconteceu com você? Terá sido mais uma vítimas das escolhas erradas?

Me deitei e dormi, pois estava cansada da viagem.

Amanhece, desperto ao som de uma propaganda de carro era mais um dos milhares bailes funk que aconteciam todo fim de semana. Tomei um café da manhã e depois fui ver minhas redes sociais no celular.

Victória - Finalmente Aline!

Ela havia me respondido, ainda mora aqui no Rio e trabalha em um salão de cabeleireiro.

Mensagem:

Podemos nos ver hoje? Aqui em casa?

Mensagem:

Estou livre hoje a tarde, ainda mora no mesmo lugar?

Mensagem:

Não Aline, vou te passar o endereço...

Enviei o endereço, fiquei tão feliz por ter a chance de conversar com ela novamente. Passei a manhã ansiosa para que a tarde chegasse. Até ouvir o som da campainha...

Aline - Nossa, você está linda Vick!

Demos um forte abraço e choramos juntas de saudade.

Victória - Entre, por favor.

Eu olhava Aline sem reconhecer a jovem que um dia ela havia sido, todas as pessoas mudam com os anos mas ela estava diferente e consumida pela tristeza.

Nos sentamos na sala.

Aline - Me perdoe por ter me afastado tanto de você (suspiro) é que as coisas não tem sido fáceis para mim nos últimos anos.

Victória - Não precisa se justificar, o importante é que você está aqui comigo. Se lembra de quando estávamos na escola e você me defendia das valentonas...sempre dizia que iríamos ficar velhinhas e uma ao lado da outra?

Aline - Sim, como esquecer.

Victória - Estou de volta para cumprir minha promessa, mas me diga o que tem feito da vida? Se casou?

Aline - Sim, logo que você partiu e Eduardo fugiu. Me entreguei a depressão, felizmente estar sem ele havia me tirado do mundo das drogas...mas a tristeza ainda estava aqui. A uns dois anos eu conheci o Vinícius, ele é segurança de uma casa de shows, achei que ele seria minha salvação e fomos morar juntos três meses depois fiquei grávida.

Victória - Você tem filhos?

Aline - Vinícius era ciumento e dominador, não queria que saísse de casa ou trabalhasse. Larguei o curso de estética, quando estava com três meses de gravidez ele me viu conversando com um vizinho e me deu uma surra tão grande que perdi nosso filho.

Victória - Covarde maldito!

Aline - Ele está preso até hoje, mas ainda me manda ameaças o tempo todo. Minha mãe foi embora para o Ceará para cuidar da minha tia que está adoentada e eu moro sozinha atualmente.

Deus, fiquei em choque ao ouvir tudo o que ela havia passado nesses quatro anos em que ficamos distantes. Temi falar sobre o que havia acontecido comigo ao morar fora, felizmente a vida me sorriu.

Aline - Então decidiu alugar um canto? Esse apartamento é muito bonito.

Victória -Eu não poderia voltar para aquela casa...eu voltei para me estabelecer aqui na cidade e quero que você trabalhe comigo. Vamos trabalhar com moda na internet!

Aline - Eu não entendo nada dessas coisas.

Victória - Vou te ensinar tudo o que sei. (Suspirei) Você soube de alguma coisa da morte de David? Se Frajola ou seus capangas foram presos?

Aline - Nunca mais ouvi falar sobre o assunto, você ainda pensa nele?

Victória - Não posso negar nada a você, lá eu eu conheci alguns rapazes mas nunca consegui estabelecer um laço.

Me levantei.

Victória - Em nome dos velhos tempos, vamos sair hoje a noite e quero ir a boate mais chique da Lapa.

Aline - É sério?

Victória - Claro e vem comigo escolher um modelo.

Joguei vários vestidos sobre a cama e ela me ajudou a escolher, a partir de agora eu seria sua fada madrinha. A noite chegou e estávamos deslumbrantes dentro de um Uber, descemos naquele lugar lindo e que a muitos anos atrás eu sonhava em poder frequentar.

Aline ficou impressionada com os preços.

Aline - Isso só pode estar errado, um dose por 2 mil reais?

Victória - Não está errado, por favor nos sirva duas doses.

Nos sentamos no balcão e ficamos observando, eu já estava acostumada as baladas em Portugal e tudo era tão diferente. Senti alguém me tocar o antebraço e me virei de repente.

Luan - Como se chama?

Puxei meu braço.

Victória - Me chamo Victória e não me toque nunca mais sem permissão.

Luan - Que isso mulher, de que planeta você veio?

Victória - De onde você não deveria ter fugido...planeta educação!

Aline - Por favor se acalmem!

Luan - O que te falta é uma boa surra para aprender a respeitar um homem.

Dei 2 mil reais de banho na cara dele, Aline entrou entre nós dois temendo que eu levasse uma surra ali mesmo.

Luan - Vagabunda! (Gritou)

Uma mulher veio com tudo para cima de mim e Aline, com certeza era amiga dele. Nos agarramos pelos cabelos e aquilo virou uma briga generalizada...os seguranças nos separam e fomos levados os quatro para uma sala dentro das dependências da boate.

Havia um homem dentro de uma sala, bem vestido e elegante aparentava ter uns quarenta e cinco anos.

Daniel - O que está acontecendo aqui?

Segurança - Eles brigaram e tivemos que trazer eles para cá, quer que chamemos a polícia?

Aline - Não...não precisa fazer isso!

Victória - Deixa ele chamar é bom que levam esse tarado algemado.

Luan - Não sou nenhum tarado, você que é uma imbecil.

Quase começamos de novo a confusão.

Daniel - Não quero gritaria na minha sala, vá e chame Gabriel...ele que decida o que fazer com esses quatro!

Ele saiu da sala batendo a porta, ficamos ali trancados por alguns minutos. Aline tentava me confortar enquanto Luan e a imbecil nos olhavam furiosos.

Segurança - Senhor Gabriel, me desculpe por incomodar a sua diversão mas....

Gabriel - Eu já soube o que aconteceu.

Aquela voz, poderiam ter se passado mil anos que eu ainda me lembraria...não sei como ou por que mas Frajola era o dono daquela boate de luxo e estava na minha frente depois de quatro anos.

Ele me viu, percebi que de alguma forma ele se lembrou e escondida dentro daquela camisa de marca eu pude ver em seu pulso o final de sua tatuagem. Fiquei branca feito um papel e não conseguia dizer uma só palavra.

Luan - Essa estúpida me deu um banho a troco de nada, está se achando a última bolacha do pacote...

Aline - Ele veio com sem vergonhice para cima dela sim!

Gabriel - Quero e ele e todos que estirem no bando fora da minha boate, gravem bem as caras por que aqui não entram mais.

Segurança - Sim senhor.

Os dois foram convidados a sair do lugar.

Aline - Victória, você não parece bem...

Dei um olhar matador para ela, mas não queria que piorasse o vexame.

Victória - Pode pedir ao seu segurança para nos deixar sair dessa sala? 

Gabriel - Os anos não te mudaram em absolutamente nada.

Ele também se lembrava de mim.

Aline - Vocês se conhecem?

Victória - Ele é o Frajola!

Aline - O que? Impossível esse homem ser aquele....

Gabriel - Favelado, dono de boca de fumo, drogado...

Victória - Não estamos aqui para investigar sua vida, só peça para aquele cara abrir a porta!

Gabriel - Pode abaixar a voz, não precisa se exaltar...aquela noite de quatro anos atrás não vai se repetir. Tiago abra a porta e acompanhe as duas até a saída.

Deus, eu queria perguntar tantas coisas saber como a vida dele havia mudado tantos nesses anos em que estive fora. Queria saber se ele havia mesmo mandado tirar a vida de David...se havia sido capaz de tamanha covardia e talvez se eu confirmasse essa suspeita poderia esquecer para sempre aquela noite de amor. Pegamos um táxi na porta da boate, convenci Aline a dormir no meu apartamento.

Aline - Eu jamais em toda a minha vida poderia imaginar que aquele homem era....

Victória - Um Zé ninguém que de repente deu o golpe da vida.

Eu abria a porta enquanto conversávamos, entramos e caí sentada no sofá.

Aline - Não sabemos como ele conseguiu ser dono de um lugar como aquele.

Victória - Então acha mesmo que alguém como ele pode ter prosperado na vida sem dar golpes ou roubar? Ele vendia drogas, destruiu muitas vidas!

Aline - Mas foi um cavalheiro com você e se não fosse assim, já teria esquecido do que aconteceu entre vocês naquela noite e pelo jeito ele também se lembra bem!

Victória - Não sei o que pensar...o que dizer. 

Aline - Ele não usa aliança, isso significa que...

Victória - Vamos dormir, essa noite já brigamos, gritamos...vamos dormir!

Aline - Está bem.

Acomodei Aline no quarto ao lado, entrei no meu e caí na cama de barriga para cima.

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