Baile no morro - Parte 1
2021, Baile da Babilônia a mulherada ia ao chão ao som dos melhores Mcs e nem mesmo as iminentes variantes do covid 19 impediam a galera de curtir as noites cariocas.
Carolaine tem 32 anos e mora com seus três filhos no morro, um de quatro anos outro de dois e o mais novo de 9 meses, havia sido casada por cinco anos com Fernando mas o relacionamento havia terminado por causa da agressividade dele e o ciúme. Não mantinham muito contato por que ele sempre queria se meter na vida pessoal dela, gostava de stalkear suas redes sociais e questionar onde ela ia e com quem andava.
Teve uma infância sofrida com os pais e sempre moraram ali, tinha uma relação maravilhosa com os vizinhos e era sempre uma mulher prestativa e solidária.
Ela mora em um "puxadinho" na casa de sua mãe e de seu pai o que fazia com que eles também procurassem controlar e se meter na sua vida pessoal, desde que se separou e teve que sobreviver com os filhos com a pensão de 500 reais que ganha do ex...
Inclusive que ele sai alegando para Deus e o mundo que a sustenta, ela resolveu a meses fazer bolos para vender e tem se saído bem conquistando mais clientes todos os dias. Havia sido uma semana difícil mas apesar de tudo tinha encomendas para entregar e ainda mais por que teve que ralar muito para convencer sua mãe a ficar com as crianças para que ela pudesse curtir um pouco junto com sua inseparável amiga e confidente Palmira.
O fato é que havia conseguido sair naquela noite mesmo tendo que pagar a mãe por isso, depois de tanto tempo sem colocar a cara na rua e nem mesmo usar uma roupa de festa e soltar os cabelos.
Palmira - Tá ligada que hoje não tem essa de voltar para casa 2:00 não viu! Te arrastar para cá foi difícil então eu quero aproveitar e muito.
Carolaine - Eu sei, mas também não posso vacilar com a minha mãe, você sabe o quanto eu ralei para conseguir esse vale night!
Palmira - Então "vamo" fazer valer essa noite.
Relata ela....
Entramos naquele lugar, eu a tanto tempo não saia que parecia estar em outro mundo. Luzes, mulheres de shortinhos minúsculos descendo até o chão na batida forte do pancadão que nos contagiou em poucos minutos.
Estávamos dançando até o chão, Palmira sempre com seus mini vestidos exaltando as belas curvas que tem e são heranças da sua linda cor. Eu carrego certos complexos dentro de mim, claro que o corpo após três gestações não é mais o mesmo e á não me sinto bela como antes.
Enquanto Palmira dançava e se desviava de alguns engraçadinhos, fui pegar uma bebida para gente no bar.
Eram tantas pessoas para desviar que acabei esbarrando em um cara enorme e dando um banho nele.
Henrique - Vê presta mais atenção aí oh potranca.
Carolaine - De potranca tu chama tuas "chegada", eu não! E me desculpe o esbarrão...senhor todo poderoso do baile!
Henrique - O que tem de boa tem de marrenta...valentona!!!!!
Deixei ele falando sozinho com as amiguinhas que estavam com ele e continuei meu caminho sem olhar para trás, não podia negar que era um homem lindo. Moreno, olhos verdes e com um porte robusto do jeito que eu gosto....daqueles que Palmira sempre diz: faz as calcinhas chorarem.
Cheguei no balcão suspirei e pedi minha bebida, depois eu tinha que passar por ele e sua galera para voltar onde estava Palmira.
Vi ele dançando uma loira magricela, certamente sua namorada...fechei a cara e passei desfilando.
Ouvi algumas risadas, certamente ele deve comentado com a turma o que havia acontecido a uns minutos atrás.
Cheguei e Palmira já estava agarrada com um rapaz...fiquei bebendo e tentando evitar os olhares para aquele homem.
Palmira - O amigo do Viola mandou dizer que se você quiser, ele está ai!
Carolaine - Não vim aqui para isso, só quero dançar e me esquecer um pouco dos milhares de problemas que eu tenho.
Palmira - Deixa de marra e aproveita, inclusive aquele morenaço ali não tira os olhos de você.
Carolaine - É só impressão sua...ele ficou de bode por que esbarramos e eu respondi ele a altura.
Palmira - Sei!
A noite seguiu, ainda com aquele esbarrão no pensamento eu consegui me divertir o resto da noite. Até dancei com o Viola e o amigo...desci até o chão e aproveitei o que pude.
Não por que, mas os olhares entre mim e aquele homem seguiram cada vez mais intensos. Confesso que quase cedi as investidas do Frederico, mas no fim das contas eu pensei bem e não valia a pena usar ele para fazer ciúmes em um desconhecido.
Olhei para meu relógio de pulso e quase tive um treco!
Carolaine - Temos que ir, já são 4:15.
Palmira - Tá ligada que essa pode ser tua única farra esse ano né?
Carolaine - Sei e conheço bem minha mãe, prometeu que iríamos quando eu quisesse então vamos, por favor.
Palmira deu mais uns beijos no moreno que estava pegando e fomos para a porta tentar achar um táxi, ficamos em pé feito duas tontas por mais uma hora até passar um.
Carolaine - Se meu filho tiver acordado hoje minha mãe me come o fígado.
Palmira - Come nada, olha ali vem vindo um...moço!
Entramos e meus pés doíam muito com aquela sandália de salto 10.
Carolaine - Moço, pode virar a esquerda e minha casa fica ao lado do armazém do seu Joca.
Taxista - Sim moça, sei onde fica.
Descemos, eu tirei a sandália e me despedi de Palmira que mora a duas casas da minha.
Carolaine - A gente se vê!
Palmira - Falou gatona!
Fui me deitar, mesmo sabendo que não teria o privilégio de descansar muito por que os pequenos não dão trégua. Ainda assim tomei um banho e me deitei, fiquei ainda um tempo me lembrando do perfume daquele homem...ficamos perto uma fração de segundos, mas o suficiente para que eu sentisse e guardasse na memória.
...
Henrique é um homem de 29 anos, nunca foi casado e evita por tudo relacionamentos sérios. Mora sozinho e trabalha como policial militar a 7 anos, gosta de curtir a vida porém não curte tanto assim estar em bailes funk. Naquela noite estava ali para comemorar o aniversário do irmão, que estava com a namorada e uma amiga.
Saíram da festa ás 06:32, acabou indo para casa na companhia de Felipa amiga de sua cunhada.
Relata ele...
Já eram 11:32 da manhã, estava exausto da festa e também da transa que havíamos tido a uns minutos. Felipa ainda ficou na cama, tomar um banho...aquela morena do baile era muito marrenta, o pior de tudo é que essa marra é justamente o me deixou bolado.
Ela era diferente das outras de alguma forma que não conseguia entender, ficamos nos encarando de longe o baile todo. Eu até quis trocar uma ideia com ela, mas a namorada do meu irmão Júlio iria ficar bolada por eu deixar Felipa, para cantar outra mulher.
Henrique - Onde você mora gata?
Felipa - Falando sozinho?
Henrique - Só pensando em voz alta.
Ela entrou no banheiro já sem roupas e nos beijamos, começamos mais uma maratona de sexo ainda que meu pensamento estivesse em outro lugar.
...
Os moradores estavam costumados com as recorrentes invasões e brigas entre facções rivais, Carolaine passava na rua com uma sacola cheia das compras que havia feito no mercado pois tinha encomendas de bolo para aquela semana...estava de mãos dadas com Bruno, seu filho mais velho de quatro anos.
Quando ouviu o som de algumas motos e carros, em poucos segundos a rua estava tomada por policiais e um tiroteio se iniciou.
...
Fiquei em desespero no meio do fogo cruzado, peguei meu filho no colo e ficamos atrás de um carro enquanto eu via os furos dos tiros perfurarem o muro atrás de nós. Comecei a orar e um filme passou pela minha cabeça...
Henrique - Fiquem calmos e abaixados.
Eu mal pude acreditar que era o cara do baile, vestido com uma farda e nos protegendo.
Por um segundo os tiros cessaram e ele falou pelo rádio.
Henrique - Parece que eles recuaram, me confirma a informação?
Não responderam a pergunta dele, Bruno chorava a apavorado.
Henrique - Não chore garoto, vou tirar os dois daqui agora. Fiquem na minha frente e vamos andando até aquela mercearia...me entendeu?
Carolaine - Si...sim!
Ele se levantou de arma em punho, e me esperou ir na frente para nos proteger com o corpo enquanto andávamos. Seis passos depois ouvi um disparo e ele gritou.
Henrique - Corra, continue!
Eu corri com Bruno e consegui entrar na mercearia, onde outras pessoas estavam escondidas e nos ampararam. O policial ficou caído e logo os companheiros dele balearam o vagabund* escondido alguns carros a frente.
Socorreram ele bem rapidamente, pelo que pude ver de longe o tiro havia atingido a parte de trás de sua coxa, o Samu chegou e ele ainda estava sentado dentro da viatura recebendo os primeiros socorros. Cheguei mais perto puxando o Bruno pela mão.
Carolaine - Muito muito obrigada senhor, jamais vou esquecer o que fez por nós.
Em meio a um gemido ele respondeu.
Henrique - Como se chamam?
Carolaine - Ele é o Bruno e eu Carolaine.
Henrique - Não tem por que me agradecer Carolaine, é meu trabalho proteger a todos.
Ele passou a mão na cabeça de Bruno e foi levado para o hospital.
Cheguei em casa ainda tremendo inteira, minha mãe me fez uma água com açúcar e contei a ela tudo.
Vanda - Felizmente acabou tudo bem e vocês estão aqui.
Abracei meus filhos, agradeci a Deus.
Relato dele...
Fui levado para o hospital a dor era insuportável, preciso confessar que e meio a toda essa tragédia que felizmente acabou sem vítimas fatais, eu estava feliz em ver de novo a morena do baile.
Médico - Você teve muito sorte, a bala passou a milímetros de sua veia femoral e se isso acontecesse temo que não teria tempo de ter sido salvo.
Henrique - Então, tive sorte duas vezes!
Meu irmão foi me visitar logo que soube do que havia acontecido.
Júlio - Porr* essa foi por pouco hein!
Henrique - Ócios do ofício, mas estou bem e isso é o que importa. Eu queria ter trocado uma ideia contigo ontem, mas tua patroa não saia deu uma brecha.
Júlio - Manda!
Henrique - Ontem no baile eu fiquei muito afim de uma morena, justamente a que eu acabei de salvar no meio do tiroteio.
Júlio - Será que ela não está marcando em cima, te seguindo ou sei lá?
Henrique - Ela é moradora da Babilônia, fui mandado com os outros para uma operação...íamos pegar os barões do pó, facção que era comandada antes pelo tal Frajola.
Júlio - Sei.
Henrique - Descobri seu nome e que tem um filho.
Júlio - Agora vai ser mais fácil marcar em cima, sei que Janaína não é fácil e ela quer por tudo que namore a Felipa.
Henrique - Ela sabe que não sou de me amarrar a nenhuma!
Júlio - Já disse para ela que você é a peça ruim da família.
Nós dois sorrimos, pedi a ele para dar uma sondada nos amigos do morro e trazer mais informações sobre Carolaine.
...
Em casa Carolaine ainda pensava no que havia acontecido, queria saber se ele estava bem. Ouviu a estação de rádio da comunidade, por lá ao menos soube que ele estava vivo e seu nome.
Carolaine - Então se chama Henrique, policial civíl...eu deveria ter pelo menos perguntado o seu nome. Agora já era!
Palmira - Menina, cheguei agora do trabalho e soube do babado do tiroteio na nossa porta.
Carolaine - Quase sobre uma bala para mim, felizmente um herói apareceu e senta aí por que não vai acreditar.
Palmira - Lázaro Ramos estava gravando e te salvou?
As duas sorriram, mesmo em uma situação como essas conseguiam manter o bom humor.
Carolaine - O bonitão da boate.
Palmira - O moreno marombado?
Carolaine - Ele mesmo, é policial e se chama Henrique...ele se colocou na nossa frente e até foi baleado na perna.
Palmira - Mal te conheceu e já quase virou presunto!
Carolaine - Ele é tão forte, valente e...
Palmira - Deve ter uma vara enorme.
Carolaine - Não dá para falar sério com você!
Bruno - Mamãe, o Gabriel caiu lá fora.
Carolaine foi socorrer o filho, felizmente era só mais um joelho ralado...depois tratou de ir para a cozinha preparar os bolos que deveria entregar.