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3

- Que porra... é isso? - A voz de Christian soa séria e baixa- Que porra ela está fazendo aqui?! - Ele grita para Rafael.

- Christian... - Começo a falar, mas quando o mesmo ergue a mão e pressiona os lábios com força, me detenho no mesmo instante.

- Cala a tua boca - diz com raiva - Mantém essa sua boca fechada, se não quiser que eu arranque sua língua e depois faça você a engolir - Por alguma razão ou talvez pelo modo que ele nunca tinha falado comigo, senti um frio percorrer todo meu corpo e as borboletas se transformar em algo estranho em meu estômago.

Parecia que eu já não o conhecia como antes, não me parecia ser a mesma pessoa de antes que estava em minha frente naquele momento e quase o questionei. Quem é você?!, quase gritei, optando apenas por o olhar incrédula, chocada...

- Ela precisa de ajuda - diz Rafael finalmente, sua voz era calma. Era como se ele conhecesse o terreno minado pelo qual estava andando. Christian o encara, mas não era um simples olhar, era um olhar carregado de ódio e mais alguma coisa, como se ele não esperasse que um dia, Rafael fizesse algo do tipo.

- Eu sou adepto a caridade, você sabe, mas ela... - Ele aponta o dedo indicador para mim - Nem fudendo, Rafael. Não me interessa no que ela precisa de ajuda. Só quero que ela dê o fora da minha favela, está me ouvindo? - Rafael inspira profundamente, deixando claro que não iria desistir com facilidade.

- Se não ajudarmos, ela vai ser presa.

- Que seja! - Ele grita enfurecido, sem ao menos pensar - Não sou advogado e não tenho nada haver com isso!

O silêncio se instala novamente por um breve momento, a vontade que tenho é de sair correndo dali e nem olhar para trás, correr o mais rápido possível que eu conseguisse, mesmo sabendo que eu não era muito boa em correr, principalmente num lugar que eu não conhecia mais.

- Tira ela da minha frente - diz Christian com a voz firme - Agora, Rafael - diz um pouco mais alto, quando simplesmente Rafael não se mexe.

- Não - diz Rafael sem hesitar. Christian força um sorriso balançando a cabeça de um lado para o outro, parecendo desacreditar no que estava ouvindo.

- Você quer morrer, é isso - diz ainda sorrindo - Já cansou da vida.

- Vamos ajudar ela - diz Rafael sem mudar o tom de voz - Ela não iria gostar de ver isso.

- Nem começa, Rafael. Nem vem com essa chantagem emocional, não vai funcionar comigo. Não mais! - diz Christian irritado - Ela está morta e vai continuar morta e fico feliz por isso, assim não tenho que me preocupar com o que ela vai pensar. Agora tira essa porra da minha frente! - Ele grita a última frase, ficando com a respiração pesada no segundo seguinte.

Rafael sustenta o olhar dele e sem aviso prévio se aproxima de Christian, sem desviar o olhar dele.

- Se não quer fazer por ela, faça por mim - murmura - Não dá para simplesmente virar as costas, como se não tivéssemos feito parte um da vida do outro.

- Nós estamos sentenciados à isso - diz Christian com amargura - Você sabe disso...

Rafael coloca a mão no ombro dele.

- Está na hora de virar essa página, não tem como mudar o passado. Já percebemos isso.

Percebo quando o rosto de Christian suaviza e por um momento acredito que ele aceitou o que Rafael estava pedindo, estava convicta disso, quando ele abaixa a cabeça e pegar de sua cintura um rádio comunicar, no qual ao apertar um botão, o mesmo chia.

- Dá um pulo aqui na minha casa, Matias - diz ainda de cabeça baixa, recebendo uma resposta no mesmo instante.

Sinto o alívio tomar conta de mim naquele momento, eu tinha algum lugar para ficar, me esconder , até aquela poeira abaixar e eu poder lidar com as consequências dos meus atos. Rafael dá um meio sorriso para Christian, dando uma leve apertada em seu ombro antes de se afastar, me lançando um olhar que tudo ficaria bem.

Não demora para que o Matias entre pelo portão. Era um homem mais alto que Christian e Rafael, cabeça raspada e com tatuagens no rosto. Intimidador, seria a palavra certa. Ele anda calmamente, parando poucos passos atrás de mim. Os olhos de Christian recaí novamente sobre mim, mas não sinto algo bom vindo de seus olhos, estavam gelados, distantes.

- Um presentinho para vocês - diz ele de repente, apontando o queixo de repente para mim. Franzo o cenho sem entender, olhando para Rafael, tentando entender o que estava acontecendo ali - Se divirtam - E sem Matias dizer uma palavra se quer, segura meu braço com força e começa a me arrastar, quando minhas pernas não cooperam.

Rafael tenta intervir, entretanto Christian aponta uma arma para ele, impedindo que o mesmo se movesse ou tentasse me ajudar.

- Rafael!! - grito desesperada, sentindo a mão grande se fechar com força em meu braço, provocando uma dor intensa. Rafael tenta mais uma vez vir na minha direção, Christian passa em sua frente, pressionando o cano da pistola no meio de sua testa, com certeza preparado para atirar.

Sou jogada no porta malas de um Gol prata e meus gritos logo são abafados com o fechar do mesmo. Começo a chutar com força aquele local apertado, inúltimente, pois sabia que não era tão fácil como nos filmes e mesmo que conseguisse sair dali, Matias me pegaria novamente.

O desespero havia tomado todo meu corpo, enquanto as palavras de Christian ecoavam em minha mente e tentava deduzir o que ele queria dizer ao pronunciar elas para Matias. Havia me dado como um presente, para um homem desconhecido, para mim, por quê?

A resposta chegou mais rápido do que o imaginado. Christian não havia se desprendido do passado e eu naquele momento, o entendi o motivo e até conseguir me visualizar em seu lugar, só não entendia por que aquela a vingança, mesmo depois de tanto tempo, mesmo tendo ficado claro no passado, que havia sido um acidente. E acidentes viviam acontecendo.

Mais lágrimas vieram a tona e gritei o mais alto possível, m sentindo completamente exaurida, com a minha garganta doendo, segundos depois. Já não tinha forças para continuar chutando. Me sentia completamente esgotada, cansada e só queria acordar daquele pesadelo, mesmo eu estando com a certeza que estava muito bem acordada e que tudo aquilo era real.

O carro continuava avançando, não rápido, pois em determinado momento, talvez em alguns pontos, parava e podia ouvir vozes. Quando isso acontecia, eu batia o mais alto possível e tentava gritar também, mas nada surtia efeito, era como se eu não tivessem ali ou pudessem me ouvir.

Pelos próximos minutos, o carro continuou seu trajeto e já não me assustava quando o sentia parar. Entretanto, quando o carro permaneceu mais tempo que o comum parado e ouvi passos e vozes ao redor do carro, o desespero se alastrou novamente dentro de mim e numa última tentativa de me salvar, planejo chutar Matias e torcer que o mesmo caia, me dando tempo de correr.

Mas assim que a luz invade aquele local apertado e estreito, não tenho chance alguma de o chutar, pois o mesmo me puxa para fora dali pelos cabelos. Grito a todo instante tentando me livrar de sua mão em minha cabeça, o arranhando o máximo que posso e até mesmo tentando o morder.

Percebo que não estávamos na rua, quando ele me joga no chão gelado de uma sala e não demora para que quatro homens entre no mesmo cômodo, falando palavras obscenas e massageando seus órgãos genitais por cima da roupa.

- Por favor, não... - Peço, olhando diretamente para Matias, esperando que ele tivesse piedade de mim e que não prosseguisse com o que estava planejando.

- Gostosinha ela, não é? - Ele pergunta para um homem ao lado, que tirava seu pênis para fora e o massageava explicitamente. Recuo para trás, até sentir minhas costas contra a parede, ouvindo as batidas do meu coração em meus ouvidos.

- Espero que ela saiba fazer de tudo - diz outro, me olhando com atenção.

- Pelo menos tem cara que parece - Outro zomba, rindo, fazendo com que os demais também rissem com ele.

Um deles tenta se aproximar de mim, o chuto, conseguindo que ele se assustasse e se afastasse. Isto não o intimida, já que um largo sorriso surge em seu rosto e ele cometa algo como “bruta”, para o homem que estava mais perto dele.

- Vou domar você, gatinha. E você vai gostar - diz ele, dessa vez para mim, se aproximando sorrateiramente, como uma cobra se rastejando, até que ele joga seu corpo pesado sobre o meu, me prendendo contra o chão e risadas ecoam por toda parte quando ele finalmente, consegue me segurar, mesmo eu me debatendo o máximo que conseguia.

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