Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

Bônus Miguel

Em meus vinte nove anos de idade, estou no auge de minha carreira profissional na West Comunicações. Trabalho nessa empresa desde que me formei, o que no total somam-se quatro anos de serviço.

Anthoni é mais que um chefe, ele é um amigo íntimo da família. Ele foi calouro da vovó no curso de administração na época da faculdade e depois viraram amigos até hoje. Ele foi padrinho de casamento dela com vovô Marcos, que hoje não está mais entre nós e também da minha mãe.

São longos anos de amizade verdadeira, mas não pense nem que consegui entrar na empresa só por que éramos amigos. De maneira alguma. Não preciso que as coisas sejam facilitadas para mim, gosto de conquistar meus objetivos por mérito próprio. Ralei muito para provar que eu merecia chegar aonde cheguei.

Com o tempo melhorando e aperfeiçoando em meu trabalho, com isso fui subindo em conceito na empresa. Não quero me gabar, mas sou considerado um dos melhores, senão o melhor na minha área. Não me limito somente em fazer o que me foi designado. Sempre que possível auxilio em outras atividades na empresa.

Uma delas é a seleção de novos funcionários. Eu os entrevisto e os que julgo aptos para o trabalho, seleciono os currículos e os encaminho para Anthoni que fará a escolha final. Não me considero uma pessoa linha dura, apenas tento ser o mais justo possível durante uma seleção.

Agora deitado em minha antiga cama, no meu antigo quarto na casa dos meus pais sem conseguir dormir, lembro-me do dia em que entrevistei Arabella. Não sei o dia exato, pois foi há mais ou menos dois anos trás. Quando ela entrou na sala vi que ela era bonita, mas não prestei muita atenção, afinal não estava ali para isso e sim para avaliar suas habilidades de trabalho.

Ela foi exemplar durante toda a entrevista, mesmo que fosse recém formada e não tivesse experiência em seu currículo, vi que ela tinha potencial e só precisava de um pouco de prática que certamente seria ótima em sua função. Ela foi contratada como estagiária em período de observação, o que acabou sendo a escolha certa. Eu nunca erro. Após o período de observação, em que se saiu muito bem, logo foi efetivada.

Eu a via esporadicamente pelos corredores da empresa, nunca nos falamos, apenas alguns curtos cumprimentos educados quando passávamos um pelo outro. Eu não ligava muito para isso, mas ela, de alguma maneira não gostava de mim. Não sabia se era coisa da minha cabeça, mas quando começamos a trabalhar juntos, vi que ela realmente não gostava de mim. Mas o problema era, por que motivo?

Um dia conversava com Anthoni em sua sala sobre o aniversário de vovó que aproximava. Queria saber se ele iria esse ano e ele respondeu que se não fosse, eu encontraria seu cadáver na outra semana. Rimos, era bem capaz de vovó mata-lo mesmo. Pedi para usar o banheiro e ele saiu para resolver alguma coisa. Quando abri a porta levei um susto ao ver deitada Arabella no chão.

Estava sem camisa, então foi meio que impossível não a observar. Ela tinha belos atributos femininos e sua pele clara parecia ser tão macia, fiquei tentado a passear as mãos por ela. Fiquei olhando para ela sem entender o que fazia daquele jeito até que ela explicou a situação e então eu compreendi.

Olhei novamente para a região que havia se queimado e realmente estava bem avermelhada. Fiquei preocupado, ela deveria ir ao hospital ver um médico. Aproximei-me dela colocando a mão em suas costas que estava fria por causa do piso e ajudei-lhe a se levantar. Retirei meu blazer e o coloquei sobre ela. Foi muito agradável vê-la com meu blazer sobre si ainda sem abotoa-lo. Pensei em coisas que não deveria e logo espantei esses pensamentos da cabeça.

A vida só podia estar de brincadeira, ser dupla de alguém que não vai com a sua cara e a mesma que faz parte de certas imagens que tentava tirar da cabeça, não seria boa ideia. Entretanto não podia reclamar e nem pedir para trocar de parceiro. Seria antiprofissional e antiético. Isso estava fora de cogitação, o que significava que teríamos que trabalhar juntos.

Pensei comigo mesmo que não seria tão difícil trabalhar com Arabella, que faríamos um excelente projeto, e até acabaríamos antes do prazo, pois erámos ótimos profissionais.

Ledo engano.

Foram semanas terríveis. Às vezes eu tinha vontade de amordaçar aquela mulher. Ela era muito cabeça dura e não dava o braço a torcer. Confesso que algumas vezes eu discordava só para provocá-la. Era até engraçado vê-la nervosa. Ela ficava tão bonitinha quando fechava a cara e começava rodar pela sala feito uma barata tonta movimentando os braços, gesticulando explicações.

Mas na última semana para finalizarmos o projeto, a coisa ficou séria. Não concordávamos em alguns detalhes e a briga foi feia. Ninguém queria ceder. Encontrei falhas mínimas, mas que poderiam comprometer toda a campanha. Mas ela não quis ouvir. Resolvi um jeito de acabar com o problema, levaria para o nosso chefe e ele indicaria a melhor abordagem.

E então ela me atacou. Ela travou suas pernas ao redor da minha cintura e com seus braços rodeou meu pescoço em um aperto forte. Fiquei chocado em um primeiro momento, mas depois a ficha caiu e eu percebi o que estava fazendo.

Sentir seu perfume tão perto de mim, o calor de seu corpo no meu e seus cabelos em meu rosto, estava me enlouquecendo. Ela nem ao menos percebia o que de fato estava fazendo comigo. Eu acabaria cometendo uma loucura se não me afastasse dela.

Mas era tão bom que fiquei mais alguns minutos ali colado ao seu corpo, deixando-a pensar que estava conseguindo me deter. Sendo que na verdade eu poderia ter me desgrudado dela há muito tempo.

Mas ninguém precisava saber disso.

Não sei o que deu em mim quando a virei contra a parede segurando seus braços finos no alto. Eu estava muito tentado a beija-la e gostava da sensação de segurar em sua cintura delgada tendo-a tão próxima a mim. E se a porta não tivesse sido aberta naquele momento eu a teria beijado.

***

Quando estávamos no avião vi que Arabella não estava bem. Fiquei preocupado, ela estava pálida feito uma vela. Analisei seu rosto por alguns instantes, e foi então que a ficha caiu. Arabella estava assustada. Provavelmente era sua primeira vez em um avião. Como fui idiota e insensível por não ter pensado nisso. Depois que dei um comprimido para que relaxasse ela caiu no sono.

Arabella dormia com a cabeça encostada na janela em uma posição desconfortável, provavelmente sentiria dor nas costas ao acordar e parecia estar tendo algum pesadelo, pois se remexia muito e ficava resmungando baixinho.

Sem pensar duas vezes, puxei seu corpo em minha direção e deitei sua cabeça em meu peito e comecei a afagar seus cabelos com a ponta dos dedos. Senti o ritmo de sua respiração diminuir e seus resmungos silenciarem, visivelmente ela havia ficado mais calma.

Quando pousamos em Florianópolis ela abriu os olhos ainda sonolenta, entretanto como a claridade incomodava sua vista voltou a esconder seu rosto em mim. Por mais que eu quisesse continuar ali daquela forma, nós ainda tínhamos uns bons quilômetros de estrada pela frente.

Ao estacionar na garagem da minha antiga casa, respiro fundo. Queria encontra vovó em circunstâncias melhores, em que estivesse saudável e pudéssemos nos divertir em família, mas essa não era a realidade. Retiro a chave da ignição e ouço Arabella me chamar.

Ela perguntou como estava sua aparência, respondi que estava bem, mas ao que parece ela não gostou da resposta. O que ela esperava? Que eu dissesse que estava linda? É claro que eu não diria, não que ela não estivesse, mas eu estava preocupado com outras coisas no momento.

Depois que vi vovó Eliza, abracei meus pais e minhas irmãs, mas não vi o cabeça oca do meu irmão, então fui para meu antigo quarto e adormeci. Como eu estava bem exausto e havia me esquecido de comer alguma coisa, acabei acordando de madrugada com fome.

Eu andava bêbado de sono quando avistei Arabella no corredor de costas para mim. Ela vestia um pijama bem comportado, mas que valorizava suas curvas, um shortinho azul e uma regata da mesma cor. Estava com os cabelos soltos e ondulados que lhe deixava bem sexy.

Ela se virou para voltar para o quarto quando acabou colidindo comigo. Vi que gritaria por causa do susto e tapei sua boca para que não acabasse acordando a casa toda. Descobri que ela também estava com fome e a levei para a cozinha para comermos a alguma coisa.

Enquanto comíamos eu a observava. Algumas vezes ela olhava para mim e como via que eu a encarava, logo desviava os olhos para o prato e assim continuou até terminarmos a refeição. Guardei os alimentos na geladeira e ela levou a louça suja para a pia e começou a lavar.

Eu iria dizer que não era preciso, que de manhã alguém lavaria tudo. Mas ao contrário disso, o que fiz foi sentar-me em uma das cadeiras em volta do balcão e observa-la que estava de costas para mim, movimentar-se naquele pijama enquanto lavava a louça. Uma cena que certamente eu gostaria de ver mais vezes.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.