8
Arabella
Acordo com o barulho da porta. Alguém batia incessantemente, mas eu não estava nem aí. Rolei na cama enterrando meu rosto no travesseiro e cobrindo minha cabeça com as cobertas. Entretanto a pessoa do outro lado não ia embora e perturbava meu precioso sono. A cama estava tão gostosa... por Deus, eu só queria dormir! E seja lá quem fosse não conseguia entender isso.
Então o barulho cessou e eu fiquei tão contente que voltei a cochilar. Mas o silêncio durou só por alguns instantes, pois em seguida ouvi uma voz feminina desconhecida, muito próxima a mim. E dona da mesma voz que falava comigo alguma coisa que eu não compreendia, puxou as cobertas descobrindo minha cabeça.
Quando eu me virei para brigar com a pessoa, levei um susto ao ver a irmã mais nova de Miguel. Eu não me lembrava de seu nome no momento, pois lembrei-me de um detalhe mais importante: eu não estava em meu apartamento. Para falar a verdade estava muito longe dele, em outra cidade para ser mais exata e em uma casa onde não conhecia ninguém.
Provavelmente eu estava com uma cara bem patética, olhos arregalados e com as mãos agarrando as cobertas como um tipo de escudo protegendo meu corpo. Ou seja, ridícula. Pois assim que viu meu rosto, a garota começou a rir. Fiquei sem graça com sua reação e cobri meu rosto novamente. Então diminuindo o riso, ela começou a tagarelar comigo.
-Por um momento achei que você tinha morrido dormindo, pois chamei insistentemente e não obtive resposta. Então, resolvi vir checar sua pulsação para ter certeza. -disse a garota que eu sequer lembrava o nome.
-Mas como não é o caso, vim te acordar pessoalmente. Daqui a alguns instantes será servido o café da manhã. E eu gostaria muito de sua companhia. -ela continuou seu monólogo.
-Fernanda e Miguel chegarão daqui á pouco e se juntarão a nós para a refeição, mas enquanto isso, queria conversar com você. Kaile também está lá embaixo junto com vovó, que também já perguntou por você. -disse ela animadamente.
Eu estava ficando muito irritada com essa menina. Como alguém consegue acordar tão animado e falante pela manhã? Ela era muito agitada, parecia que já havia ingerido uns três copos de café para estar nessa disposição.
Enquanto eu estava louca para voltar a dormir, ela queria fazer milhares de coisas. Eu continuava olhando para ela que falava comigo, mas pouco prestava atenção em mim para perceber que eu não estava afim de me levantar.
-Vamos logo, levanta daí e comece a se vestir. Quando eu voltar se não estiver pronta, a arrastarei lá para baixo do jeito que está. -ela disse e saiu deixando-me sozinha novamente.
Eu estava chocada e um pouco irritada com a atitude daquela garota. Como ela foi capaz de interromper meu precioso sono e ainda ameaçar me levar de pijama daqui? Mas, como diz o ditado, dance conforme a música. Eu estava na casa de sua família e o mínimo que eu deveria fazer era, me comportar conforme o ritmo da mesma.
Contra minha vontade, levantei-me e peguei um vestido soltinho de estampa floral que havia colocado na mala e o coloquei sobre a cama. Tirei o pijama e o joguei sobre a cama, peguei o vestido e o vesti rapidamente. Fui até o banheiro, onde fiz minhas necessidades pessoais, penteei o cabelo, passei um perfume e um gloss cor de boca. Ao sair de lá, arrumei a cama em que dormi, juntei as roupas espalhadas e calcei uma sapatilha confortável. Quando havia terminado, a porta do quarto se abriu e ela estava de volta.
-Sei que fomos apresentadas ontem, mas é que eu esqueci o seu nome, como você se chama mesmo? -eu perguntei.
-Meu nome é Isadora, mas pode me chamar de Isa. Agora vamos, antes que você desista de ir. -Isadora ou Isa, tanto faz, disse e me puxou pelo braço em direção a porta.
Eu não curto muito a mania dessa família de sair me puxando pelo braço. É um pouco chato e até irritante. Mas deixa para lá, não é como se eu fosse me virar e dizer: Ei, quer fazer o favor de largar o meu braço? Isso aqui não é a casa da mãe joana para você sair puxando não... Mas por ora vou tentar ignorar, até porque vou ficar nesse lugar por pouco tempo, pelo menos é o que eu acho.
Descemos as escadas e seguimos para sala. Lá encontramos Eliza e Kaile sentados em um dos sofás no centro da sala. Nos aproximamos deles, e assim que nos viram levantaram-se. Eliza nos envolveu em um tipo de abraço triplo, e quando soltou-nos, Iza sentou-se ao lado da avó, no lugar onde seu irmão estivera sentado, enquanto o mesmo me envolvia em um abraço.
Nesse momento a porta da casa foi aberta, e Miguel e Fernanda entraram pela mesma com roupas de malhar. Eles estavam suados, pois haviam caminhado pela manhã. Assim que Kaile me soltou tratei de sentar-me rapidamente, e ele fez o mesmo sentando-se ao meu lado. Fernanda cumprimentou a todos com um bom dia, e saiu prometendo que voltaria em instantes. Miguel também fez o mesmo e desapareceu pela casa.
Logo Eliza iniciou uma amistosa conversa entre nós, sempre me envolvendo quando eu ficava mais na minha. Perguntou-me várias coisas sobre mim, perguntas normais, coisas simples que as pessoas normalmente dizem umas as outras. Entretanto eu não me sentia muito a vontade para falar sobre isso, e fui bem evasiva nas respostas. Brendan também se juntou ao grupo, ele até que era legal, parecia ser um homem diferente do dia anterior. Ele era extrovertido e fazia alguns comentários bem engraçados e ao mesmo tempo inteligentes no decorrer do assunto de que falávamos.
Depois de um tempo Giovana apareceu chamando-nos para a refeição. Todos a seguiram assim que ela terminou de falar. Eu também os acompanhei, mas ficando atrás de todos, pois me sentia deslocada no meio deles. Quando chegamos ao local em que comeríamos, observei que se tratava de uma sala de jantar, que era bem grande por sinal, e no centro havia uma mesa lindamente arrumada para o café da manhã. Devia ter dado o maior trabalho arrumar isso tudo, me senti um pouco mal por não ter me oferecido para ajudar.
Vi Eliza acenar para mim e bater no acento da cadeira ao seu lado. Timidamente me dirigi para a cadeira que ela me indicava. Kaile sentou-se ao meu lado e Isadora ao lado do mesmo. Do outro lado da mesa estava sentada Giovana, de frente para Eliza, em minha frente estava Miguel, ao seu lado Fernanda, e ao lado da mesma havia uma senhora que aparenta ter uns cinquenta e poucos anos que eu ainda não tinha visto. À cabeceira da mesa entre Giovana e Eliza estava Brendan.
-Arabella, ontem não tivemos a oportunidade de lhe apresentar Judite. Judite trabalha conosco a muitos anos e é um membro da família. Judite esta é Arabella, nossa convidada e amiga de Miguel. -disse Brendan.
A senhora se levantou e veio até mim. Levantei-me do meu lugar e a mesma me abraçou, retribuí o abraço para não ser mal educada. Mas a verdade, é que eu ficava encabulada toda vez que alguém me abraçava. Eles eram estranhos para mim e ficavam com essa de abraço para o meu lado.
-Querida é um prazer conhece-la. Você é muito bonita, provavelmente deve estar comprometida com alguém, senão eu te arrumaria para um desses meninos que continuam solteiros até hoje. O que é um absurdo diga-se de passagem. -a mulher disse e todos na mesa riram.
-Mas, vamos deixar a conversa para depois. Todos devem estar famintos, e seu continuar falando não vou parar tão cedo. -ela disse e riu.
-O prazer é todo meu. A senhora é uma mulher muito simpática. -eu a respondi.
-Nada de senhora, só Judite, mas eu prefiro que me chame de Judi, assim me sinto até mais nova. -Judite falou sorrindo.
-Tudo bem então, Judi. -eu disse e sorri para ela.
Voltamos para nossos lugares, e o restante da refeição correu tranquila. Todos conversavam animadamente enquanto comiam, e eu só falava o necessário quando falavam diretamente comigo. Terminado o período da refeição todos começaram a se dispersarem, como não sabia exatamente o que fazer, fui para o quarto. No banheiro enquanto escovava os dentes, ouvi Miguel me chamar do quarto. Enxaguei a boca e fui até ele. Ele estava sentado na cama, e se levantou ao me ver.
-Vamos até o centro em busca do estúdio que a Etienne Cosméticos escolheu para fazermos as fotos da campanha. Depois resolveremos a parte da criação, então provavelmente só voltaremos mais tarde. Leve tudo o que precisar. Te espero lá embaixo. -Miguel disse e saiu do quarto.
Peguei meu notebook, caneta, um bloquinho de anotações, escova e pasta de dentes e coloquei tudo na bolsa. Passei um gloss e desci ao encontro de Miguel. Nos despedimos de seus pais que estavam na sala e saímos.
Miguel destravou as portas do carro, entramos e ele deu partida. Saímos do condomínio, Miguel se mantinha concentrado na estrada, e não dizia uma só palavra. Ele seguiu por mais algumas ruas e estacionou em frente a um prédio de dois andares que exibia uma faixada na cor azul escuro com os dizeres Estúdio Focus na cor branca. Miguel conferiu seu celular e olhou para o prédio, para confirmar se que aquele era o local certo.
Descemos do veículo, e fomos em direção ao prédio. Ao entrarmos no local a recepcionista nos recebeu com um sorriso e uma olhada descarada em Miguel. Foi bem estranho. Miguel disse que tínhamos horário marcado e após dar nossos nomes, esperamos por mais alguns minutos e fomos encaminhados para a sala de Dana, a dona do estúdio. Dana era uma mulher que devia ter seus quarenta e cinco a cinquenta anos, mas era muito bem conservada. Ela nos recebeu muito bem, era um pouco intimidadora, mas agradável dentro do possível. Ela nos explicou o tipo de trabalho que a Etienne havia contratado. Explicou quando, como e o que deveríamos fazer.
Ela disse que nos acompanharia pessoalmente durante as sessões para nos auxiliar durante o processo. Depois de toda aquela conversa, nos despedimos com um tenha um bom dia e até amanhã, pois voltaríamos no dia seguinte para começarmos logo com isso. Dali seguimos a pé até um restaurante que ficava a beira-mar. Havia mesas que ficavam em um espaço aberto, e outras que ficavam em uma parte fechada do restaurante. Optamos pelo espaço aberto. Nos sentamos e aguardamos por nossos pedidos, que garçom tinha acabado de levar.
Estávamos sentados um de frente para o outro, ele de costas para a praia, enquanto eu que estava de frente, fitava hipnotizada o mar. As ondas quebrando na areia, o som que elas produziam, era simplesmente lindo, perfeito e encantador. Eu poderia facilmente dormir ouvindo esse som. Era como um tranquilizante para a alma. Dava uma sensação de paz. Saí do transe quando ouvi a voz de Miguel me chamando.
-Você ouviu o que eu disse? Estava te fazendo uma pergunta, mas você não respondeu até agora. -Miguel disse.
-Desculpe. Pode repetir? É que não prestei muita atenção. -eu respondi.
-Estava dizendo uma ideias que tive para a campanha. -ele disse.
E então começou a repetir o que havia dito. A comida já havia sido servida, e enquanto comíamos ele explicava o que havia pensado. Eu havia gostado do seu plano de ideias, era bem objetivo. Quando terminou de falar, eu disse o que havia achado, e discutimos mais alguns pontos. No fim foi uma conversa tranquila.
Depois do almoço continuamos por ali mesmo. Os clientes já haviam ido embora, e só restava alguns funcionários, o que significava que o restaurante estava praticamente vazio. Colocamos nossas coisas sobre a mesa e começamos a fazer o esboço do projeto. Ficamos por horas trabalhando, pois no dia seguinte poderíamos não ter muito tempo para trabalhar no mesmo. Já era noite quando juntamos nossos pertences e saímos do restaurante. Estávamos conversando enquanto seguíamos para o lugar onde Miguel havia estacionado o carro, quando um homem o abordou, parecia ser amigo dele.
-Miguel, quanto tempo! Não sabia que estava na cidade, por que não avisou que vinha? Podia ter me ligado. -o homem disse ao abraça-lo.
Antes que Miguel pudesse responder, o homem percebeu minha presença, sorriu e falou.
-Como fui indelicado. Qual o seu nome linda? Não me diga que é namorada desse cara aqui. Por que com certeza, sou um partido muito melhor que ele. Ah, e meu nome é Maurício, mas pode me chamar de seu se quiser. -ele disse com um sorriso de lado e piscou.
-Meu nome é Arabella, mas algumas pessoas me chamam de bella. E não, não sou namorada do Miguel, sou só uma colega de trabalho dele. -eu disse.
-Mas que ótima notícia. Isso significa deveríamos sair um dia desses. O que acha? -Maurício perguntou.
-Maurício foi um prazer revê-lo, mas se não se importar, temos que ir agora. Estamos cansados, e amanhã temos um dia cheio de trabalho pela frente. -Miguel falou.
-Claro cara, vão descansar um pouco. Também foi bom te ver. E melhor ainda conhecer essa lindeza. E Bella, não se esqueça da nossa conversa. A gente ainda tem que marcar um dia para sair. -Maurício disse e me abraçou. -Uma boa noite para vocês, e sonhe comigo Bella. -ele falou com um sorriso enorme.
-Uma boa noite para você também. -Miguel e eu respondemos.
Depois disso entramos no carro, Miguel deu partida e seguimos para sua casa. Ao chegarmos, vimos que a família estava sentada a mesa jantando. Deixamos nossas coisas em nossos quartos e voltamos para nos ajuntar a eles durante a refeição.
Quando todos terminaram de comer, retiraram-se da mesa. Eu até tentei ajudar a lavar a louça suja, mas Giovana me expulsou da cozinha. Então fui para o quarto. Tomei um banho, vesti meu pijama e escovei meu cabelo. Fiquei mais algum tempo olhando alguns detalhes do projeto em meu notebook e acabei caindo no sono.