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1

Arabella

Sentindo o medo apoderar-se a cada segundo de mim, alguns vizinhos ao me notar, se aproximaram para certificar se eu estava bem e me encheram de perguntas sem sentido. Eu me aproximei da casa com passos lentos ultrapassando o cordão de isolamento. Um policial me abordou mandando-me para longe do local, mas ao informar que aquela a minha sua casa, comecei a perguntar o que havia acontecido afinal, então, subitamente seu semblante fora substituído por uma máscara de neutralidade.

Fui levada para um local mais reservado, o oficial chamou um outro homem, também policial, que acabava de sair da casa naquele instante. O homem era um pouco mais baixo que o primeiro e aparentava ser o superior do mesmo. Ao perceber do que se tratava, o homem com sutileza, começou a explicar o que ocorrera. Quando terminou de narrar o que a polícia sabia até o momento, ele me fez algumas perguntas, contudo eu não conseguia pensar coerentemente em nenhuma resposta no momento. Eu estava em choque. Quando notaram que eu não estava bem, pálida feito cera, fui levada até uma ambulância e atendida no mesmo minuto.

Após algum tempo, consegui responder as perguntas que me foram feitas novamente. Coisas simples como onde eu estava durante o dia, com quem e o que estava fazendo, perguntas de praxe para a situação. Ao término do pequeno interrogatório, o policial comovido com minha situação, perguntou se eu tinha parentes ou amigos na cidade onde pudesse ficar durante o tempo em que a perícia teria que trabalhar no local. Em meio a névoa que estava minha mente se encontrava, decidi por ficar na casa de uma vizinha que gentilmente havia me oferecido um lugar, a cinco casas da minha.

Já era madrugada e eu ainda não havia dormido, desde que me deitara naquela cama desconhecida tudo o que fazia era chorar, não acreditando no que estava acontecendo. Meus pais estavam mortos. Segundo a polícia, a suspeita era de latrocínio, alguém invadiu a casa atrás de dinheiro ou algo que pudesse ser vendido. A suspeita era de que fora algum usuário de droga, mas não havia testemunhas, ninguém viu ou ouviu nada suspeito na vizinhança.

Depois que os corpos foram liberados, no velório a maioria da vizinhança estava em peso presente. Mais por curiosidade do que solidariedade, mas eu não me importava, eu estava sofrendo, de luto, pois havia perdido as únicas pessoas que amava e agora não restava ninguém ao meu lado. Eu não queria a pena de ninguém, só queria que meus pais estivessem ali comigo.

Era só o que eu queria.

Após o enterro, coloquei a venda minha casa para poder pagar as despesas do funeral e finalmente decidi o que realmente iria fazer dali em diante. Estava enlutada, mas precisa seguir em frente. O dinheiro da venda da casa e o último salário de meus pais não iriam durar para sempre, além do mais, eu também não poderia continuar na casa da minha vizinha por mais tempo. Mesmo que ela não reclamasse, eu me sentia incomodada ao abusar da hospitalidade que me era oferecida.

Decidida, realizei a prova e comecei a trabalhar em uma loja de roupas, onde dona Silvana, minha vizinha, também trabalhava, para ajudar com as despesas da casa, até que saísse o resultado do exame. Nesse meio tempo, juntei uma boa quantia de dinheiro, uma vez que as despesas da casa eram praticamente mínimas, pois somente nós duas morávamos ali e passávamos a maior parte do tempo no trabalho.

Quando os resultados saíram e fui aprovada, fiquei eufórica, entretanto não comemorei, pois quem eu queria ali para celebrar aquela conquista comigo não estava mais vivo. Com isso, mergulhei em pesquisas a respeito de tudo sobre a universidade, sobre a cidade, moradia e afins, no final estava a par de tudo o que precisava saber para aquela nova etapa da minha vida. Larguei o emprego, coloquei em dia todos os documentos necessários, minhas malas já estavam prontas com meus pertences e as poucas coisas que havia guardado da antiga casa, seriam enviadas em caixas pelo correio assim que tivesse um endereço fixo. As demais coisas eu tinha vendido ou doado, tudo estava certo para minha eminente partida. Com um aperto no coração, agradeci a Silvana por toda ajuda e por ter me acolhido em um momento tão difícil. Nos emocionamos no dia da despedida e assim eu parti, rumo a uma nova vida.

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