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Capítulo 7 Um Lampejo na Escuridão

Cambaleei para trás, sentindo como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Meu coração despencou no abismo, arrastado por um peso insuportável. A escuridão nublou minha visão, quase me levando à inconsciência. Era verdade então. Meu pai realmente devia oitenta milhões de reais! Como poderia pagar tal soma? O que seria de mim?

Em um instante de pura irracionalidade, algo dentro de mim se rompeu. Sem pensar, lancei-me ao chão, arranquei o bilhete das mãos da mulher, rasguei-o em pedaços frenéticos e o esmaguei contra a lama com os pés, enterrando-o até que desaparecesse. Os seguranças avançaram para me deter, mas foram impedidos por um simples gesto dela.

Ela era deslumbrante de uma maneira perturbadora, cachos de um vermelho intenso como fogo caíam em cascata sobre ombros pálidos e nus, uma beleza tão avassaladora que era difícil desviar o olhar.

— Que divertido — comentou ela, segurando um cigarro entre dedos longos e elegantes, exalando uma nuvem de fumaça. Seus olhos me analisavam com desdém. — Acredita mesmo que, ao destruir este papel, a dívida de oitenta milhões simplesmente desaparecerá? Que ingenuidade tocante!

Seu escárnio cortante incendiou meu rosto de vergonha. Engoli em seco, a garganta ressequida enquanto suportava sua zombaria. Com um bater de palmas decidido, os seguranças se curvaram respeitosamente e saíram, retornando momentos depois arrastando um homem com o rosto machucado.

Assim que entrou, ele desabou em lágrimas, prostrou-se diante da mulher e se arrastou em sua direção.

— Por favor, Alessia, me deixe ir. Não tenho mais dinheiro. Pegue minha filha, ela é bonita, pode lhe render muito...

— Papai... — sussurrei, cada palavra dele apunhalando meu coração como uma adaga de gelo.

A cruel realidade me forçava a aceitar que meu pai havia jogado sua fortuna pelo ralo e agora estava afundado em dívidas. Mas me vender para cobrir suas perdas? Jamais acreditaria nisso até este momento! Seus lamentos cessaram quando me avistou, seus ombros curvando-se ainda mais. Imaginei que fosse culpa por me encarar, mas quando seus olhos encontraram os meus e me reconheceram, seu olhar sem vida subitamente se iluminou.

— Sienna, me salve! Me salve, Sienna! — implorou desesperadamente.

Virando-se para Alessia, continuou:

— Olhe para minha filha, como é linda! Não é mais bela que qualquer outra garota do clube? Leve ela com você, ela pode render muito dinheiro. Usarei o valor para saldar minhas dívidas, está bem?

— Seu monstro! Como ousa dizer isso?! — não podia acreditar que palavras tão desprezíveis saíssem da boca de um pai. Lancei-me contra ele, cega de raiva.

— Sienna, não tenha medo, não é nada demais, apenas dormir com alguns homens — ele agarrou minhas mãos, seus olhos selvagens e desesperados. — Você não precisa fazer nada especial e ainda ganha dinheiro. Por que recusar? Apenas siga Alessia e, assim que papai conseguir algum dinheiro, virei buscá-la, prometo!

— Animal! — gritei, cuspindo as palavras como veneno.

Com um gesto frio, Alessia ordenou que os guardas nos separassem. Meu pai foi arrastado para longe enquanto me levavam para outra sala.

Lá dentro, duas criadas robustas de aparência eslava, não muito diferentes dos seguranças de Alessia, me imobilizaram no chão frio do banheiro, arrancando minhas roupas sem cerimônia. Potentes jatos d'água atingiram meu corpo indefeso, causando dor e desconforto intensos.

— Parem, está doendo! — engasguei, deitada impotente no piso gelado, enquanto as empregadas esfregavam minha pele com força brutal. As marcas deixadas por Antonio na noite anterior ficaram ainda mais vermelhas sob suas mãos ásperas.

— Vejam essas marcas, que selvageria — comentou Alessia, recostada no batente da porta com os braços cruzados, observando as empregadas me lavarem sem piedade. — Limpem bem a parte íntima também. Mesmo usada, precisamos oferecer aos nossos clientes um ambiente higiênico.

Mordi o lábio até sentir o gosto de sangue, estremecendo a cada nova onda de humilhação. As palavras dela eram como ácido corroendo minha dignidade. Não deixarei que se safem disso! Matarei todos vocês! Eu...

Meus olhos se arregalaram ao captar meu próprio reflexo no espelho — aquela mulher com olhos repletos apenas de ódio... era eu.

Depois do que pareceu uma eternidade, quando senti que várias camadas de pele haviam sido arrancadas, Alessia finalmente me deixou em paz. As criadas me arrastaram para fora do banheiro, cobrindo meu corpo com um vestido tão fino que nada escondia; meus mamilos e pelos íntimos eram claramente visíveis através do tecido transparente. Desesperada por algo com que pudesse me cobrir, vasculhei o quarto, mas não havia nenhum tecido adicional, nem mesmo um lençol.

O que fazer agora? Percorri o quarto freneticamente, procurando algo que pudesse usar como defesa. Nada na cama, nada na mesa, nada nos armários. Tentei girar a maçaneta da porta, mas estava trancada.

Como escapar daqui? Quem viria me salvar?

O som da chave na fechadura me fez congelar; arrepios percorreram minha pele. Estava tudo acabado, completamente acabado.

Olhando ao redor do pequeno aposento, percebi que o único lugar para me esconder era o banheiro. Quando a porta se abriu, girei nos calcanhares e corri para lá, batendo e trancando a porta atrás de mim, recuando para o canto mais distante.

Ouvi o homem que entrou praguejar alto, descobrindo instantaneamente meu esconderijo. Ele xingou novamente enquanto esmurrava a porta, e eu me encolhi, procurando freneticamente por qualquer coisa que pudesse usar como arma.

O xampu, sabonete líquido e até o secador de cabelo haviam sido removidos. O chuveiro destacável também desaparecera, deixando o banheiro impecavelmente vazio. Meus olhos pousaram no espelho de corpo inteiro fixado na parede por parafusos de aço, cobrindo metade da superfície. Sabia que seria impossível arrancá-lo...

Enquanto fitava o espelho, perdida em pensamentos desesperados, o homem do lado de fora perdeu a paciência e chamou pelo segurança, que despedaçou a porta do banheiro com um único chute poderoso. A porta explodiu em fragmentos diante dos meus olhos. Quando o terror tomou conta da minha garganta, mordi minha língua com força, o gosto metálico do sangue momentaneamente abafando meus gritos.

— Maldição, sua vadia! Por que está se escondendo? Tragam-na para cá! — berrou o homem, um sujeito obeso de meia-idade cuja simples visão revirava meu estômago.

Enquanto o segurança avançava ameaçadoramente, reprimi minha repulsa e pedi com voz fraca:

— Espere, só um momento!

— Eu... Eu... — gaguejei, minha garganta contraindo-se nervosamente enquanto engolia com dificuldade, meus olhos se voltando para o espelho, planejando secretamente como quebrá-lo.

De repente, uma figura familiar surgiu no reflexo.

Era Antonio!

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