Capítulo 6 O preço das dívidas
O pano áspero sobre minha boca abafou meu grito por socorro enquanto mãos brutas me arrastavam em direção a uma van escura estacionada na esquina. A dor percorria meus braços como choques elétricos, e o medo se espalhava por minhas veias como veneno.
Em um ato desesperado, cravei meus dentes na mão que me silenciava, sentindo o gosto metálico de sangue invadir minha boca. O homem urrou de dor, afastando a mão ferida.
— Maldição! — gritou ele, recuando por um instante.
Aproveitei aquele segundo de hesitação para cuspir o sangue e me debater violentamente.
— Quem são vocês? O que querem comigo? Me soltem, seus desgraçados! — gritei, minha voz ecoando pelas ruas vazias.
— Não a deixem escapar! Segurem-na direito! — ordenou um deles, enquanto eu lutava com a força nascida do desespero.
Por um breve momento, consegui me libertar, mas minha liberdade foi efêmera como um suspiro. Eles me alcançaram rapidamente, arrastando-me de volta para o veículo.
— Sua vagabunda imunda, quer correr? Então corra! — sibilou o homem que eu havia mordido, torcendo meu braço nas costas com tanta violência que pensei que fosse quebrar.
— Miseráveis! — Meu grito de dor cortou o ar noturno enquanto chutava inutilmente, o suor escorrendo por meu corpo exausto da luta. Logo me vi com as mãos amarradas e os olhos vendados.
Privada da visão, meus outros sentidos ficaram mais aguçados. O bater seco da porta da van, o ronco do motor ganhando vida, e então o movimento — estávamos nos afastando, rumo ao desconhecido.
Ofegante, senti mechas de cabelo grudadas ao pescoço úmido. Meu coração martelava contra as costelas como um animal enjaulado.
— Foi o Nico? Ou a Lívia? — perguntei, tentando ignorar a presença ameaçadora dos homens ao meu lado. — Quanto vocês querem? Posso pagar, só me deixem ir.
Uma risada cortante feriu meus ouvidos.
— Você pode pagar? E quanto seria isso? — zombou um deles, a malícia pingando de cada palavra.
Mordi o lábio, engolindo a verdade amarga. Como poderia pagar? Nossa família, que outrora possuíra uma mansão no bairro mais exclusivo da cidade, havia caído em desgraça desde que meu pai sucumbira ao vício do jogo. Minhas mensalidades escolares viviam atrasadas, e eu dependia de bolsas e trabalhos de meio período para sobreviver.
— Sim, tenho dinheiro, eu... Ai! Isso dói! Parem, por favor! — menti, tentando esconder o desespero em minha voz.
Um dos homens agarrou meus cabelos com violência, puxando minha cabeça para trás.
— Se você tivesse dinheiro, seu pai estaria disposto a vendê-la? — cuspiu ele, suas palavras caindo como pedras sobre mim. — Na verdade, Vince tem boa aparência, e a filha dele ficou bonita... Belos seios, traseiro bem feito. Conseguiria um bom preço no mercado.
Suas mãos brutas apalparam meu corpo, fazendo-me estremecer de repulsa. Um arrepio gelado percorreu minha espinha. Meu pai... me vendeu?
Cada segundo naquela van era um tormento sem fim, uma eternidade de angústia, até que finalmente o veículo desacelerou e parou.
O motorista saiu, contornou o veículo e me puxou para fora, entregando-me a outra pessoa. Um perfume barato e sufocante invadiu minhas narinas, provocando-me espirros antes que eu ouvisse instruções sendo dadas:
— Limpe ela, cuide dos ferimentos, a vista com roupas adequadas e leve-a para o quarto três.
Sentindo o perigo iminente, meu corpo reagiu instintivamente.
— Não vou a lugar nenhum! Isso é sequestro, um crime! Me soltem! — gritei, me debatendo furiosamente, mordendo qualquer um que se aproximasse.
Uma mão pesada atingiu meu rosto com força, e uma voz feminina impregnada de fumaça de cigarro rosnou:
— Que bobagem é essa? Agora que está na Pink Island, ainda se acha uma donzela? Crime? Do que está falando?
— O que é essa tal de Pink Island? Não conheço esse lugar! Fui sequestrada, não quero estar aqui!
— Seu nome é Sienna Corsetti, filha de Vince Corsetti, não é? — A mulher ergueu meu queixo, soprando fumaça diretamente em meu rosto.
Tossindo violentamente com o cheiro acre de nicotina, lágrimas involuntárias escorreram por minhas bochechas enquanto me recusava a responder.
Não conseguia imaginar o que meu pai poderia ter feito para se envolver com pessoas assim. Sequestro, Pink Island, tráfico humano... A realidade me atingiu como um soco no estômago. Meu Deus, seria a máfia?
— Seu pai deve dinheiro ao nosso chefe — insistiu a mulher, revelando uma cifra que me deixou sem fôlego. — Oitenta milhões de reais.
Senti o ar abandonando meus pulmões. Oitenta milhões! Uma quantia astronômica que nem mesmo vendendo-me como escrava seria possível cobrir.
— Impossível! Não acredito! — protestei, minha alma gritando em desespero. — Vocês são todos mentirosos! Traficantes de pessoas e estupradores! É melhor me soltarem logo, ou chamarei a polícia!
— Chamar a polícia? — A mulher riu como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do mundo, cobrindo a boca num gesto teatral.
Arrancando a venda dos meus olhos, ela colocou um bilhete diante de mim.
— Veja. Seu pai escreveu isso. Temos até a assinatura e impressão digital dele!
Enquanto meus olhos se ajustavam à luz, cada palavra daquele bilhete fazia meu corpo tremer. O nome do meu pai aparecia sobre uma impressão digital em vermelho vivo, com uma cicatriz inconfundível atravessando quase todo o desenho. A mesma cicatriz que meu pai carregava no polegar direito há anos.
