Necessito dessa mullher
Roman Vassillieva
Foram alguns bons anos em que fiquei curioso em descobrir quem seria a mulher misteriosa, a voz por trás daquelas palavras suaves sussurradas em meu ouvido num momento de extrema fragilidade. Quando finalmente escuto as palavras que desejei, olho meu objetivo, minhas mãos soam e sinto a resposta reverberando pelo meu corpo que entra em chamas. Os seus cabelos um pouco assanhados contra o vento a deixando com um ar selvagem, seus olhos queimando injetados por uma fúria mesclada ao desejo e talvez algumas dúvidas, analiso as mãos trêmulas escondendo o sorriso.
Me sinto consumido.
Seguro ela pelo quadril virando para mim vendo o seu rosto furioso assumir uma expressão de espanto antes de franzir as sobrancelhas, levo a mão esquerda para a sua nuca e desço os lábios até o seu ouvido, inspirando profundamente o cheiro do álcool misturado ao perfume de uma doçura fraca.
— Uma noite inesquecível, Cheshire. — sussurrei as palavras, vendo os pelos do pescoço se arrepiando.
O perfume embriagando os sentidos e esquecendo de tudo, tomo o seu rosto, por um único segundo, perdido no meio dos seus olhos tão escuros, precisando curvar um pouco o corpo para diminuir a nossa diferença.
Trago os seus lábios contra os meus e me perco nas sensações, que desejei provar desde que coloquei os olhos nela, erguendo o seu corpo contra o meu e ficando viciado no seu gosto de vodca com uma pitada doce. As pequenas mãos deslizando pelos meus ombros enquanto aperta, faz com que a segure firme contra a ereção, ignorando que estamos em um via pública com todos os meus homens observando.
Os lábios cheios e macios se enroscaram na minha língua, causando uma confusão.
Um gosto de sangue me faz abrir os olhos e encarar a pequena que quase arrancou a minha língua com uma mordida na boca, causando uma dor que mal sabe o quanto adoro sentir, a olhei com um sorriso torto malino.
Seus cabelos balançando ao vento como uma doce pecadora.
O meu sangue escorrendo pelo canto dos seus lábios me deixam em chamas.
Sorri para a pequena, segurando sua nuca com mais força, observando seus ombros que se tensionam ao meu toque, passo a língua sobre os seus lábios sorvendo o líquido viscoso, sentindo o gosto metálico do sangue.
Fechei os olhos sentindo a expectativa em tomá-la e o tesão me consumindo.
E ao abrir vejo nos olhos da pequena o brilho de reconhecimento…
De que sou o perigo, mas para ela agora não tem volta…
Sorrio de lado, ainda mantendo ela presa segurando pelo seu quadril, carregando para o mais longe dali.
— O gato comeu a sua língua, Cheshire? — Não consegui controlar a provocação.
O olhar assustado responde por ela, minha pequena Luna, descobrirá que ter me salvado da morte foi sua pior decisão.
Porque agora ela será só minha, esse pensamento parece ser a porra de um veneno amargo, mesmo que o gosto do pecado sempre tenha sido doce, a garota imagina uma noite e eu já estou pensando em como fazer dela minha. Aperto os dentes sem parar o movimento em direção ao carro, incapaz de desgrudar o corpo pequeno, amenizar a fúria das minhas contradições imaginando o fim da vida do merdinha ao qual ela disse ser comprometida, ela deve pensar que não percebi seu olhar magoado olhando para um homem de estatura mediana aos beijos com outra mulher, sua decisão foi tomada por vingança por isso não existe a menor possibilidade dele amanhecer vivo.
Analiso a movimentação dos vorys ao nosso redor sinalizando o que desejo, abrindo um pouco mais o sorriso com o prazer em satisfazer o homem desesperado para provar dessa mulher e a besta a qual deseja o sangue de quem a tocou. É completamente diferente de tudo o que desejei, criei e fiz ao lado de Eva, não é um amor ou uma paixão ardente.
Dessa forma, se parece doentio e corrompido da maneira que desejo moldá-la ao meu corpo, aos meus desejos. Fui criado para entender que o amor é uma fraqueza, quando imaginei ser forte o suficiente para ter o que tanto desejei tive uma faca cravada pela morte deles entendendo que nem o mais forte dos homens fica vulnerável diante da perda do grande amor.
Luna é como um sopro soando como as badaladas na catedral de Notre-Dame, constante com uma beleza única, não consigo sentir nenhum remorso, foi essa bondade cega dela que nos trouxe aqui quando deveria ter me deixado morrer. Agora, sinto a obsessão corrompendo todos os planos traçados apenas para que ela se encaixe, a mulher oferece uma noite, quando ela imaginou que daria algum tipo de escolha?!
Tão inocente e tola, acreditando piamente que a vida depois de Roman Vassillieva continuaria normal, precisava de algo para ter, e ela é perfeita para ocupar esse lugar seja aqui no Brasil ou na Rússia para onde pretendo levá-la, só preciso descobrir uma forma de negociar com ela, em último caso um boa noite cinderela sempre funciona.
O corpo pequeno de curvas generosas dando passos curtos, é quase possível ver a fumaça fugindo dos pensamentos ao manter os olhos analisando cada pessoa ao nosso redor, as consequências ainda não chegaram e ela já está pensando em como escapar. Aperto um pouco mais a mão ao seu redor, desviando o olhar para a rua movimentada, policiais ao longe fazendo o combinado, pontos abastecidos e homens preparados para qualquer ataque.
A noite é quente e abafada mesmo tão perto da maresia, ao longe avisto Kyro carregando a amiga dela em direção ao carro dos soldados acenando na nossa direção enquanto pega as chaves com o vory, a baixinha tão perdida nos pensamentos não vê o que acontece com a amiga. Uso um pouco mais de força para acompanhar os meus passos em direção ao Jeep Comander, preto, blindado e de vidros escuros, menos de dois metros, sinto a adrenalina começar a percorrer o corpo com um desejo desenfreado crescente, passo a mão esquerda pelos fios na lateral da cabeça.
Uma menina de língua afiada e olhar de cigana, dominando a besta que deseja consumi-la, inflando o homem cheio de sombras, o cano da arma preso ao cós do short sob a camisa, tudo planejado e programado para levar algumas mulheres de volta ao hotel, a endiabrada segue procurando uma escapatória, não existe uma. Conseguiria erguer essa arma sem dar a menor importância para os pais, filhos, avós que circulam felizes em passeios ou os jovens que se embebedam, nenhum deles teria coragem o suficiente para se intrometer, pois acabariam em uma cova rasa. Senti o peso do seu olhar avaliando como se fosse um pedaço de carne e isso por algum motivo me incomodou.
Não é esse o olhar que recebo das vadias que fodo, na verdade, costumo usar esse olhar com elas. E me senti como se fosse algo a ser usado por ela, é um golpe na porra do meu ego.
Raiva
Sinto o corpo fervendo de raiva, com a vontade de descontar isso na buceta dessa mulher que debocha de mim no olhar, o fantasma que vem assombrando meus sonhos e pesadelos. Completamente obcecado por cada traço de sua personalidade forte, como se fosse perfeita para anestesiar todos os desejos do demônio que tentei aprisionar para ser o homem que minha esposa precisava que fosse.
Esse ser não deseja amor, não deseja paixão. Apenas tomar e marcar para si próprio e a cada ato de Luna sinto descer na escadaria que leva diretamente para a jaula, uma sensação de euforia misturada ao questionamento sobre o que será dela, quando tiver tanta escuridão em volta de si, será que irá sufocar? Pedir por clemência? Ou irá ceder e adorar a depravação da maldade marcada em nossas almas criadas pelo fruto do pecado.