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Capítulo 2 - Raphaele - Cobrança

Parte 1...

Mesmo que quisesse se mover, Melissa não conseguiria.

Não depois de tudo o que acabara de ouvir. Com dezenove anos de idade, já vira e ouvira diversas coisas sobre o pai. Sua mãe mesma fora uma das vítimas dele. Então, saber de mais essa loucura não era algo novo.

— Então, como vai ser?

Ela levantou a cabeça para olhar o rosto endurecido de raiva de Paolo. Como ela iria devolver algo que não tinha? Que conversa absurda esses homens traziam até a calma de sua casa? Como ela poderia ser cúmplice de algo tão errado? Logo ela?

— Eu, eu não sei... Tudo isso é novo pra mim - suas mãos estavam frias. Olhou para o pai — Como pôde fazer isso comigo?

— Ah, chega desse drama - Paolo ligou para John — Venha até aqui... Isso... Na mesma casa em que paramos na vinda - desligou — Daqui a pouco John vai chegar.

— O que quer fazer? - Raphaele questionou.

Raphaele era vingativo, mas o irmão quando queria era bem pior. Não queria que ela sofresse. Algo lhe dizia que ela não era culpada. Era como um sentido que o despertava. Ela não parecia mentir e suas reações eram bem sinceras. Podia ver que estava nervosa e seu corpo tremia.

— Vamos leva-los até a delegacia onde passamos antes. De lá será mais fácil resolver tudo.

— Esperem - William levantou — Eu não posso ser preso.

"Ele" não pode? E quanto a ela? Melissa estava com um nó na garganta. Nunca na vida pensou em estar em uma situação como essa.

— Espere um pouco irmão - Raphaele saiu da pequena sala, levando William consigo.

— O que vai fazer? - William perguntou nervoso.

— Por que sua filha vive aqui? Fale-me sobre ela.

— Acredita que ela é inocente? - arregalou os olhos.

— Pode ser - deu de ombros.

William fez um resumo do que seria a vida de Melissa. Estudos, trabalho. Normal. Com exceção da questão dela morar sozinha porque sua mãe lhe deixou a casa antes de morrer e sua atual esposa não aceitá-la, de resto era a vida de uma garota comum.

— Quantos anos ela tem?

— Quase vinte.

Raphaele pensou que tivesse quinze ou dezesseis. Ela parecia mais jovem do que é realmente.

— Não tem namorado?

— Não sei, talvez.

— Para um pai, você é muito desinformado - fechou a cara.

— É complicado.

— Sei - deu uma risada irônica — Bem, isso não importa. Você vai devolver tudo o que desviou da empresa e talvez eu não o leve preso. Hoje.

— Posso transferir tudo em no máximo vinte e quatro horas.

William estava com expressão de medo e apertava as mãos.

— Não é só isso.

— O que mais?

— Sua filha.

William ficou na dúvida.

— Quer que Melissa pague algo também? - franziu os olhos.

— Ah, ela vai pagar...- disse sério — Como minha amante!

***************

— Deixe-me ver se entendi - andou pela varanda — Eu devolvo o dinheiro, você toma minha filha como amante e retira todas as outras acusações contra mim?

— Sim. Basicamente isso.

— Eu fico livre mesmo? Sem pagar nenhum centavo a mais? - Raphaele confirmou com a cabeça — Eu aceito - chegou perto dele — Mas quero que a leve daqui.

O desprezo de Raphaele ficou explícito em seu olhar. O velho não pareceu se importar nem um pouco com o destino da filha. O que queria dizer que ele tinha mesmo armado para ela.

— Tudo bem. Isso é fácil.

Os dois retornaram. Melissa ainda estava no mesmo lugar, pensativa. Paolo conversava com John no jardim lateral e o cãozinho corria entre as plantas, fazendo buracos na terra.

William se abaixou na frente dela e alisou seus braços.

— Vou deixar que conte a ela. Estarei lá fora com meu irmão.

Ela o olhou quando saiu. Contar mais o que agora?

— Me contar o que?

— Bem... Eu... Consegui fazer um acordo que vai me livrar da prisão - disse baixo, temeroso de sua reação.

Por um instante ela se sentiu aliviada, mas isso não durou.

— E como vai ser isso? - antes ela não tivesse perguntado. Deu um pulo da cadeira quando o pai lhe revelou o acordo.

— Está louco? Eu não sou um objeto - ficou abismada.

— Eu preciso de você, Melissa – tentou abraça-la, mas o afastou lhe dando um empurrão — Seus irmãos precisam. Pense neles, são pequenos ainda, como vão ficar?

— Não seja um porco. Não os meta na sua sujeira, assim como fez comigo - sentiu um gosto amargo na boca.

— Se eu for preso e tiver que vender tudo para pagar por danos, o que será deles?

— Não é meu problema.

Ela dizia isso só da boca para fora. Se importava com as crianças.

— Filha, por favor, por eles - segurou seu braço — Sabe que Diana é inconsequente e não sabe se virar sozinha. Seus irmãos ainda são pequenos. O que vai ser deles? Vão pagar por um ato meu.

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