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O veneno

No dia seguinte, Cellia estaria fazendo o café da manhã. Estava de bom humor, pois quando chegou a hora de dormir da noite passada, ela aproveitou e conversou com Cilius.

Vinha um flashback em sua mente:

-- Cilius, posso conversar com você?-  indaga a mãe de Cellina, que estava sentada em cima da cama.

-- Pode. O que foi?-- indaga o shizen, que se sentava ao seu lado.

 - É sobre a Cellina.

-- O que ela tem?

Cellia suspira e assim, dizia:

-- Cilius, ela já tem 100 anos. Já viveu 1 século e você não dá atenção para ela direito. Só fica envolvido em seu trabalho e aparenta não se importar com ela. Cellina sente sua falta, Cillius. Se eu fosse você, aproveitaria o momento atual e ficaria acompanhado dela. Não sabe o quanto ela ama você. Quando estiver com ela, vai sentir a pureza que tem em seu coração e o quão humilde ela é, além de ser gentil.

Cilius estava cabisbaixo. Não esperava que o que estava fazendo fosse ruim. Particularmente, o shizen sempre se lamentou por não ter acompanhado o desenvolvimento de Cellina. Logo, ele dizia:

- Você tem razão, Cellia. Preciso aproveitar o momento que é agora. Daqui a pouco, passarão 50 anos e eu não pude curtí-la quando criança. Tenho certeza que não vai sentir minha falta quando adolescente.

Cellia estava pensativa. Dizia:

- Isso é verdade. Mas não se preocupe, Cilius. Cumprindo a sua promessa, já está mais que bom. O problema é que você também se afastou de mim. Sinto falta de uma família, sabia? E Cellina é o meu único refúgio.

Cillius fazia massagem em seus ombros e a beijava na testa. Dizia:

-- Desculpe por lhe fazer sofrer. Eu prometo que irei mudar.

- Mesmo?

-- Sim.

Ambos se beijam.

Termina o flashback.

-- Bom dia, mamãe.-- dizia Cellina, que se sentava em uma almofada.

-- Dormiu bem, anjinho?-- indaga Cellia, enquanto fazia o café da manhã.

-- Sim. Estou ansiosa que o papai é quem me levará para passear.

Cellia sorri e serve o prato de sua filha. Dizia:

-- Eu conversei com ele. Seu pai prometeu que irá lhe dar mais atenção a partir de agora.

-- Que bom!- A pequena sorri.-- Eu sinto a falta dele. Papai trabalha tanto que eu sinto que ele não se importa comigo.

-- Não é isso, querida. É claro que ele se importa com você. Cilius a ama.

Cellina ficava com os pequenos olhos úmidos, mas depois enxugava as lágrimas que viriam. Ela tomava seu café da manhã, enquanto que Cellia cozinhava seu prato e o de Cilius.

Enquanto que o rei dos shizens se preparava para tomar café, em seu quarto, ele passava o olho em sua escrivaninha, mirando um relatório que estava por ali. Entretanto, ele ignora e sai do cômodo. Não levou muito tempo. Ele volta e iria dar uma olhada naquele relatório, que estava em sua escrivaninha.

 -- O que é isso?-- indagou para si.

- Sua majestade, o relatório dos shizens mais perigosos da floresta.-- Aparecia Makk, o shizen macaco, cuja função era ser o conselheiro do rei.

-- É verdade. Eu nem terminei o relatório ainda.-- disse Cilius.-- Mas eu termino depois que tomar café.

-- Ainda bem, Sua Majestade, porque senão, eles iriam atacar algum shizen e o risco de alguma espécie correr em extinção, é grande.

- Sim, tenho ciência disso. Mas não se preocupe, Makk, irei elaborá-lo assim que for tomar meu café. Hoje quero aproveitar um pouco com a minha filha.

-- Isso é bom, majestade. Se as minhas orientações estiverem prejudicando seu relacionamento com sua família, por favor, me comunique.

Cilius ria e dizia:

-- Está tudo bem, Makk. Eu queria ser o rei e tenho que arcar com esta responsabilidade. Está dispensado.

-- Sim, senhor.-- o conselheiro saía.

Cilius descia para tomar café e ficava perto de Cellina, na qual ficava feliz em vê-lo.

-- Que bom que veio.-- disse Cellia, que servia o café para o seu marido.

- Eu prometi que ficaria aqui com Cellina e agora vou cumprir aquilo que eu disse.

Depois de terem tomado café e conversado bastante, Cilius se levantava e dizia:

-- Se me derem licença, já vou sair.

-- Amor.-- dizia Cellia.-- Aonde você vai?

-- Preciso terminar um relatório.-- disse o rei dos shizens.

Aquilo deixou Cellia irritada. De nada adiantou a conversa que ela teve com ele ontem à noite. Na teoria, ele teria que aproveitar boa parte do dia com Cellina. Mas a prática foi que ele apenas tomou café da manhã e não quis saber de mais nada. Cellina apenas olhava para ele, mesmo sendo cega como o seu pai.

-- Cilius, você prometeu que ficaria com Cellina!-- disse Cellia, irritada.

-- Por que está alterando a voz para mim sem motivo?-- indaga o shizen, que aparentava também querer ficar bravo.

-- Você só fica trabalhando naquele escritório! Não pode aproveitar um pouco o tempo com a sua filha? Ela sente sua falta, homem!

-- Eu sei que ela sente minha falta, mas eu preciso dar a melhor qualidade de vida para os shizens! A maioria das espécies estão sendo extintas! Eu preciso fazer algo a respeito!

Cellina estava com vontade de chorar. Nunca viu seus pais brigando e quando agora presencia isso, começou a carregar um sentimento de culpa para si.

- Quer saber de uma coisa? Façam o que quiserem. Cansei de vocês! -- dizia o shizen.

Cilius subia as escadas. Estava irritado com aquilo que se passara. Cellina estava chorando. Não pôde suportar e começou a culpar a si mesma por causa daquela recente discussão.

 -- Cellia, me serve um pouco de chá, que esqueci de tomar!!!-- Gritava Cilius, direto de seu escritório.

Aquilo irritou a mãe de Cellina. Esta pegava uma xícara e preparava um chá.

-- Vou jogar esse chá na sua cara.-- murmurava a shizen.

Entretanto, estaria pensando em algo:

--"Eu não aguento mais essa vida. Cellina está sofrendo. Cilius está me deixando louca. Não sei mais o que faço. Eu só queria ter uma família normal e decente e não alguém que só se preocupa com o seu trabalho e com mais nada."

Nesse momento, ela procurava por açúcar para pôr no chá de Cilius, quando encontra uma lata. Dentro desta, tinha uma certa quantidade de pó, que cheirando, tinha um cheiro ruim.

-- "Veneno."-- pensava a shizen.

Será que matando Cilius as coisas iriam se endireitar? Óbvio que não. Porém, ela pensaria que iriam as coisas funcionar do jeito como ela quer e para isso, decide matar Cilius.

Ela põe veneno no chá e misturava. 

-- Já volto, Cellina.-- disse Cellia, que caminhava com a xícara em mãos, enquanto que Cellina ainda se encontrava em lágrimas.

Chegando no escritório, lá estava Cilius terminando um relatório.

-- Não acredito que terminei.- disse o shizen.-- O que acha, Cellia?

-- Eis aqui o seu chá.-- disse a shizen, sem querer dizer nada.

Ambos brigaram, mas o rei agia como se nada tivesse acontecido. Motivo? Não queria estar mais estressado do que já estava.

Nesse momento, Cilius pegava a xícara e bebia um gole. Quando terminava de fazer o relatório, ele começou a se sentir mal. Seus sensores de calor estavam confusos e ele começava a sentir uma leve parada cardíaca e cerebral. De repente, ele havia sofrido um infarto e acabou ficando desacordado aos poucos.

- O que... Você... Fez?- indaga Cilius.

Cellia ria com uma risada macabra e intimidadora. Era a primeira vez em sua vida que escutava sua esposa rir daquele jeito. Ela se agachava e dizia:

- Isso é para que quando você reencarne, se certifique de não ser tão focado em trabalhar, a ponto de ter que esquecer sua família.

Garras crescem em sua mão e ela crava no coração de Cilius, intensificando ainda mais o veneno. O shizen não resiste e morre.

Um grito era ouvido atrás da shizen e ela se vira para ver quem era: Cellina. Pela primeira vez na vida, de alguém morto.

Cellia olhava para o seu lado e via um chicote. Ela o pegava e via Cellina abraçar seu pai, enquanto chorava. Estava tão triste e deprimida porque Cilius morreu, que isso cortou um pouco o coração de Cellia. Entretanto, por conta de sua falta de família e por Cilius agir de uma forma inaceitável para ela, foi que a shizen decidiu fazer aquilo que acha correto.

Com o chicote, ela bate nas costas de Cellina, a fazendo chorar.

-- Huhuhuhu, você é boa de bater com isso, Cellina.-- dizia Cellia.

- Mamãe?

A shizen bate com o chicote em um de seus olhos, o fazendo sangrar. Era uma mistura de lágrimas com sangue e Cellia continuava.

-- Escute bem, pirralha. Pelo visto você terá que sofrer para que assim esqueça aquele patético do seu pai!-- dizia Cellia.-- Pode deixar. Darei um jeito em você.

Ela se aproximava de sua filha e arranhava suas roupas e a deixava com os pés descalços. Em seguida, ela batia com o seu chicote nas pernas dela e dizia:

-- A partir de agora, você será a minha escrava e os shizens, esses malditos shizens, eles irão me pagar por ter tirado Cilius de mim. A partir de agora, eu serei a rainha e irei declarar um novo regime por aqui!

Cellina estava sentada no chão, trêmula, com uma mão em seu olho e com ambos em lágrimas. Cellia voltava a chicotear a pequena e se escutavam sinceros gritos de dor, que revezavam com os gritos imperativos de Cellia.

Naquele momento, ela assume o trono e assim, declara sua ditadura. Os shizens estavam aliviados por Leon ter saído do poder, mas quando Cellia anuncia sua posse, todos ficam intimidados, pois o reinado antes de Cilius, também era ditatorial.

Que situação! Cilius morre envenenado! Cellina escravizada! Os shizens ficam apavorados com essa nova ditadura!

O que poderá acontecer em seguida?

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