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Literalmente.
Não havia como a Violet Prince saber disso, éramos apenas nós... - Você sente os poderes dela? -
- Estamos interligados de certa forma. Nossos elementos se complementam. Fui eu quem deu a ela força suficiente para escapar daquele acampamento imundo. Ela só não foi sequestrada novamente porque eu escondi seus rastros e, quando você a encontrou, eu me comprometi a vigiar seus passos com a desculpa de recuperá-la. -
- A família Nash estava envolvida nisso? - pergunto assim que ele termina.
- Muitos conselheiros são corruptos, Sr. Hill. Acho que seu irmão é o único homem limpo naquele lugar. A história de que a resistência foi criada para derrubá-los não passa de uma bobagem. Eles nunca estiveram interessados em pôr um fim real a isso, pois a guerra enche seus bolsos de dinheiro. Basta lembrar quem fornece as armas, as bombas, os suprimentos... enquanto isso, pessoas inocentes estão morrendo. -
Sempre soubemos que havia conselheiros corruptos, mas nunca tivemos como provar isso. Talvez ter a Violet do nosso lado não seja uma má ideia.
- Você disse neutralizadores... - Repito mais uma vez. - Conheço alguns, mas eles não neutralizarão Meg - sorrio para a loira que não consigo mais ver como uma jovem inocente. - Você será impotente até provar que podemos confiar em você. -
- Apenas... - Ela faz uma careta. - Mas se a resistência me levar, prometa-me que cuidará de Meg.
Não preciso prometer isso.
Proteger Meg é minha obrigação. Não existe um mundo em que eu não a mantenha longe de qualquer coisa que possa machucá-la, seja arrancando suas cabeças ou provocando uma guerra mundial. Posso não participar ativamente do vínculo, mas ainda assim me sinto obrigado a cuidar de sua segurança.
Maldito vínculo.
Pego meu celular e começo a fazer a ligação que dará o primeiro passo para essa missão.
Ser o Hill significa que muitas pessoas me devem todo tipo de favor. Sem mencionar que conhecemos tudo, desde a alta sociedade até o submundo dos superdotados.
Conheço as pessoas perfeitas para o trabalho.
Elisa
Há coisas na vida que eu adoro, como o cheiro de terra molhada durante as chuvas de verão, poder acordar mais tarde em um domingo, jantar com meus pais em uma sexta-feira à noite... mas também há coisas que eu odeio.
A maneira como minha vida piora quando acho que vai melhorar é uma delas.
Não tenho mais lágrimas para chorar. Acho que todo ser humano já teve momentos como esse, em que as lágrimas simplesmente desaparecem e dão lugar à força de vontade para uma mudança cada vez maior.
Este momento é um deles.
- Está me dizendo que Violet diz ser minha irmã? Está louco? - Meu tom de voz acaba se tornando indignado. - Eles nem deveriam tê-la deixado falar! -
Pelo que Shade acabou de dizer, ela pode ser um risco para todos nós.
- Meus pais não mentiriam assim... Não desse jeito! - Mentiriam?
Maldita Violet! Primeiro ela zomba do meu parceiro e agora está me fazendo duvidar do caráter dos meus pais.
Eu não acredito nisso.
Meus pais são civis éticos, não atrasam seus impostos, são o tipo de pessoa que volta para devolver o troco errado. Eles nunca se encaixariam em um cenário como esse.
- O teste de DNA confirmou o que ele disse, nós apenas passamos isso para você. Não queremos deixá-lo no escuro por mais tempo. - A voz tranquilizadora de Shade não ajuda muito.
Levanto-me de minha cadeira com agitação.
Droga! Não é suficiente descobrir que sou facilmente enganado, nem queimar meu parceiro vivo....
Ace.
Onde ele está?
Não consigo olhá-lo nos olhos desde que me dei conta do que fiz. Gostaria de poder voltar no tempo e consertar isso.
- Ei! Você não queria machucá-lo. - A voz carinhosa de Barbara me desperta de meu devaneio.
- Não está bloqueando sua mente agora? Fique fora de meus pensamentos. Você não tem esse direito! -
- Eu disse que fiz isso para o seu bem! Meu lobo queria matá-los, foi você quem me trouxe de volta. Você não teria sido capaz de esconder sua fúria se eu tivesse falado. Desculpe-me por ter priorizado sua segurança. - Ela passa as mãos pelos cabelos loiros.
Barbara parece mais magra, seu rosto não tem mais aquele brilho quando ela sorri, na verdade, posso ver os traços de preocupação.
Eu poderia ficar comovido com sua condição. Eu poderia... mas não vou.
- Nenhum de vocês se preocupou em seguir Ace. - Eu digo, olhando pela janela.
O dia está lindo, se não fosse pela raiva que atrapalha minha visão...
- Não vejo isso acontecendo com meus pais. Se mamãe briga com um deles, pelo menos um fica com ela e os outros o ajudam a se desculpar. Sempre foi assim. Uma unidade familiar tem de se manter unida. - Suspiro e olho para o céu azul-celeste, depois me viro para olhar para eles.
Barbara parece preocupada, Nate e Shade têm expressões ilegíveis, e Jorge está sentado no sofá com os cotovelos nos joelhos, girando o anel em seu dedo indicador.
Seus rostos parecem muito familiares agora. Houve um dia em que eu me perguntava como eles eram, outro em que eu queria vê-los, mas agora não sei o que sinto.
O ataque de Ace a Shade não foi nem mesmo por causa de Barbara, mas porque ele considerou o que Violet disse.
Então eu soltei chamas.
- Quero falar com a Violet... - Eles tentam me interromper, mas eu levanto a mão, silenciando-os. - Mas primeiro preciso ver o Ace. Sozinho! -
Todos parecem ter entendido o que eu disse, mas nenhum deles tem coragem de rebater.
- Eu posso levá-lo... - Jorge oferece, mas eu sacudo a cabeça.
- Preciso fazer isso sozinho. O parceiro é meu, ele e eu precisamos nos entender. Você pode cuidar do que quiser, afinal, Nate sempre tem uma reunião, Shade tem uma missão, Barbara tem um jogo e você... - aponto para Jorge. - Nada de brigas clandestinas. -
- Sim, senhora. - O Jorge é o único que responde.
- Eu levo seu motorista. - Declaro a Nate que apenas me encara por trás daqueles olhos escuros.
O vínculo me atrai, mas eu o ignoro completamente.
Isso é o que acontece quando você tem mais de um parceiro. Quando você acha que vai passar o dia vivendo um romance clichê, você acaba queimando um deles e quebrando algumas coisas.
Algumas coisas.
Olho em volta do escritório decadente de Nate. Já perdi a cabeça uma ou duas vezes. Meu direito.
O mínimo que uma garota pode fazer para evitar matar seus próprios colegas de trabalho é quebrar alguns pratos.
Ou bebidas. Tenho certeza de que havia algum uísque envelhecido ali.
Abandono meus companheiros e, quando saio pela porta da frente, encontro o motorista de Nate esperando por mim. Ele provavelmente já o avisou de minhas intenções.
Ace pode estar em dois lugares.
Na universidade ou em seu apartamento.
Seria estúpido da parte dele ir para o trabalho depois de todos os acontecimentos de hoje, então peço ao motorista para me levar até onde ele mora.
A ansiedade toma conta de meu estômago o tempo todo. Minhas cutículas começam a doer de tanto morder meus dedos.
O que devo dizer?
- Desculpe por tê-lo queimado? -
Não parece certo, mas foi exatamente isso que aconteceu.
Queimar.