Luke
Luke
Alguns pingos de chuva caem no para-brisa enquanto observo com satisfação o castelo ao longe. As nuvens estão baixas e cobrem seu topo.
Suspiro.
Só aqui eu me sinto realmente em casa.
Mais à frente, alguns aldeões me veem e me cumprimentam. Eu paro o carro e pego o grande pacote de doces que sempre trago comigo para distribuir para as crianças e abaixando o vidro da Ferrari, estendo para Thomas que já sabe do que se trata. Sorrindo se aproxima do meu carro e o pega com satisfação.
Acenando para eles, piso no acelerador. Ao longe vejo várias crianças que se viraram para olhar a Ferrari passar. Elas sabem quem me lembrei delas. Com um sorriso faço um positivo para elas e depois ergo meu vidro.
Suspiro.
Bem, agora estou aqui, tentando esquecer o fiasco que está minha campanha com a saída de Isabela e descansar um pouco. Curtir minha filha. Hoje também marquei uma entrevista com a babá de Catarina. Rosa não tem dado conta, minha pequena está dando trabalho. Agora com dois anos está pesada, e muitas vezes não quer ficar no carrinho querendo seu colo, ou a deixa louca quando começa a andar pelo castelo.
Kate que não gostou muito da minha ideia de tirar essa semana para mim.
Deus! Aquela mulher respira minha candidatura. Acho que ela venderia a alma para eu conseguir entrar na Câmera Baixa.
Como eu, ela sabe que esse posto na política é café pequeno. Na verdade, quero ser Primeiro Ministro. Mas do jeito que tenho sido alvo de matérias sensacionalistas ao meu respeito, me taxando como playboy e Casanova, meu sonho está cada vez mais distante. Ainda mais agora que Isabela foi vista por todos como mais um caso que tive.
Caso? Deus! Ri. Aquela mulher foi a primeira que passei de dois encontros e não comi. Passo a mão no queixo pensando nisso. Sinto então o local dolorido. Então lembro-me de semanas atrás no hospital.
—Você é louco?
—Louco? —O príncipe Raed urra. —Que espécie de cara é você que a deixa sozinha no meio da noite?
Eu me ergo irado.
—Sozinha? Ela estava com você! Você que deveria estar se sentindo culpado! Achei que iriam se acertar e não que você fosse dispensá-la. —Digo em tom acusatório.
Ele vem para cima de mim novamente. Eu ergo meu queixo, louco para lhe dar uma porrada. Geralmente, não sou assim, fui criado cheio de etiquetas reais. O povo inglês, aliás, é cheio delas. Somos o povo mais pontual do mundo e esses ensinamentos colaborou muito para o meu autocontrole.
—Você estava transando com ela, seu desgraçado! —Ele me acusa.
Deus! Quase rio. Olho para os lados me certificando que ninguém irá ouvir. O que eu irei dizer fere meu orgulho:
—Eu? Transando? Essa garota é um freezer. Não tivemos nenhum contato.
Ele me olha como se custasse a acreditar, respiro fundo e eu cheio de ira, continuo:
—Eu a contratei para ser uma companhia pública. Você esteve com ela esse tempo todo e ainda não a conheceu? Ela é louca por você, seu imbecil!
Ele me olha pálido, minhas palavras foram mais fortes que um soco em seu estômago.
Um bode surge na minha frente, piso no freio quase o atropelando. É muito comum ver o gado montanhês nessa área. Por isso, afasto os pensamentos e fico de olho na estradinha sinuosa. Quando ele sai da minha frente, avanço.
A paisagem aqui em torno do castelo é cada vez mais acidentada, estreita e sinuosamente margeia as ribanceiras arroxeadas pelas callunas e urze.
Passo em frente à igreja católica São Marcos aceno para o padre que varre a calçada, mesmo com o vento frio vindo do mar. Aqui sempre é mais frio que Londres, mas eu gosto. Acho gostoso para dormir, melhor do que aquele ar artificial do condicionado.
Ligo o som e coloco para tocar num volume bem alto Black e começo a cantar com Pearl Jam.
Black
Sheets of empty canvas
Untouched sheets of clay
Were laid spread out before me
As her body once did
All five horizons
Revolved around her soul
As the earth to the sun
Now the air I tasted and breathed
Has taken a turn