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Capítulo 5

- Não quero falar sobre isso - ele teve de limpar a garganta, pois se sentia terrivelmente seco. Catherine entendeu e lhe entregou um copo de água, que ela aceitou de bom grado, antes de olhar para o céu. O sol se destacava entre grandes nuvens cinzentas que logo o escureceriam e perfurariam o céu com relâmpagos.

- Quanto tempo eu dormi? - ela esfregou a perna e não conseguiu conter um estremecimento. Cath suspirou, passou a mão pelos cabelos e lhe entregou um pedaço de torta de maçã. Os olhos de Selenia se iluminaram quando ela deu a primeira mordida.

- Durante todo o dia. O ataque aconteceu duas noites atrás: Selenia bebeu mais um pouco até que Cath percebeu que ela havia terminado a garrafa inteira.

-Jonathan? -

- Ele está bem. Todos nós estamos bem. Vou ligar para ele... -

- Não - ela conseguiu se esticar o suficiente para agarrar o pulso dele, embora a dor em sua perna a deixasse sem fôlego. Catherine ficou vermelha ao vê-la sofrer daquela maneira - Eu quero... eu quero falar com você. Venha cá", ele deu um tapinha no lado dela, convidando-a a se deitar ao lado dele.

Catherine assentiu e se deitou ao lado dele. Selenia respirou fundo, tentou mover a perna, dobrá-la, mas não havia como. A dor era muito forte.

- Você terá que esperar alguns dias até que os medicamentos e nossos poderes a curem completamente", explicou Cath, "Não pudemos protegê-la. Não pudemos protegê-lo. -

- A culpa não é sua. -

- Jonathan acha que é, e eu também. Somos o segundo e o terceiro no comando e, ainda assim, não pudemos evitar que você se machucasse dessa maneira. Devemos parecer realmente inúteis para você. -

- Vocês não são inúteis - ele balançou a cabeça e afastou uma mecha de cabelo da testa - Vocês são meus melhores amigos e eu os amo muito. O que aconteceu... depois que voltamos para o castelo? -

- Jane e eu cuidamos de seu ferimento. Jonathan, por outro lado, trancou Jack no porão, ele queria esperar até que você acordasse para interrogá-lo. -

- E o príncipe? -

- Ele queria vir ver como você estava - ele sorriu e balançou a cabeça lentamente - Jonathan não deixou. Ele colocou Rhisiart e Bruce do lado de fora de sua porta e ordenou que não o deixassem entrar. -

- Típico - ela bufou e olhou para o teto, sua perna estava começando a formigar. Ela teria adormecido se ele não a tivesse movido nem um pouco, então ela lentamente virou o pé e novamente uma pontada de dor a atingiu - Eu queria.... Eu queria perguntar se você acha que as palavras de Jack mexeram com algo em Jonathan e, especialmente, como você está depois de Logan. -

Catherine moveu seu olhar para o teto do quarto de Selenia, seus olhos escureceram e a rainha percebeu, então ela apertou sua mão gentilmente e se aproximou para abraçá-la.

- Logan não era apenas meu irmão", ela sussurrou, "ele... ele era a minha salvação. Você sabe, depois que meus pais morreram. Acho... acho que posso seguir em frente. Quero dizer, tenho que seguir em frente, de um jeito ou de outro. -

- Levar você para a cama, Eric, não é uma boa maneira de seguir em frente. -

- Eu sei disso... -

- Cath, ele está tentando... -

- Eu também sei disso. E acho que também o amo - os olhos de sua rainha se arregalaram, Cath pôde sentir seu coração parar e começar a bater mais rápido - Eu queria esperar pelo solstício de inverno, mas... você acha que ele concordaria em se tornar meu companheiro? -

O rosto de Selenia se abriu em um lindo sorriso, tão lindo que Cath ficou emocionada quando ela a abraçou. Não apenas sua rainha, sua chefe, mas também sua melhor amiga. Selenia apertou as bochechas e acenou vigorosamente com a cabeça.

- É claro que eu aceitaria", ela respondeu com um sorriso cheio de dentes, "estou muito feliz por vocês dois terem se encontrado. Mas prometa-me... ou melhor, jure-me que tem certeza, mil por cento. -

Catherine sorriu e assentiu com a cabeça. Selenia não pôde deixar de abraçá-la ainda mais forte e seus olhos se encheram de lágrimas.

- Quanto a Jonathan, porém - ele se afastou lentamente dela, e os olhos de Selenia escureceram mais uma vez - eu... eu não sei exatamente que efeito as palavras de Jack tiveram. Mas quando ele disse que eu sou seu amortecedor... Não sei, foi como se ele tivesse entendido alguma coisa. -

- Como você encara isso? -

- Talvez tenha sido só impressão minha, mas, de qualquer forma, ele estava mais ocupado em garantir que sua perna sarasse e que o príncipe não entrasse escondido em seu quarto. Ele estava tão bravo... -

- Não podemos continuar assim - respirou Selenia.

- Você deve contar a ele. Suas intenções, o que você fez... você deveria contar a ele. -

Selenia se retesou, Catherine podia ver os músculos flexionados em seus ombros, as cicatrizes que se destacavam em sua pele nua por causa da combinação de roupas decotadas que usava. Ela se sentou e se virou de costas para ele, com as garras disparando descontroladamente e arranhando os lençóis cor de creme.

- Eu não posso. Você sabe que não posso. -

- Selenia - O Terceiro se aproximou mais dela, pegou seu rosto entre as mãos e olhou em seus olhos - Jonathan tem o direito de saber por que você não pode ficar com ele. -

- O que ele sabe até agora será suficiente para ele. -

- Não, por outro lado. Não pode ser suficiente para ele, mas você não viu como ele olha para você? Como ele mal consegue conter a vontade de matar o príncipe? Ele teria rasgado a garganta dele se tivesse entrado no escritório antes de mim! - Ele aproximou suas mãos das dela e as apertou com mais força, como se quisesse mantê-la na realidade, ali com ela. Como se quisesse ajudá-la a pensar: Sel, por favor. Ele não merece ser usado assim. -

- E você acha que eu não sei disso? - Selenia rosnou - Ele tem se saído bem até agora. Por que ele deveria mudar alguma coisa agora? -

- Porque tenho certeza de que ele está pensando nas palavras de Jack desde que ele as disse. Ele entendeu que eu tinha algo a ver com isso, mas ainda não sabe o quê, não sabe por quê. Sel, por favor... -

- Não", declarou ele, "já chega. -

Catalina entendeu que era uma ordem e que não podia fazer nada para evitá-la. Então, ele soltou as mãos dela e balançou a cabeça para demonstrar seu desapontamento. Selenia, no entanto, não a olhou mais no rosto, pois não tinha coragem.

- Quando você vai parar de ter medo? -

- Quando eu pagar por meus pecados. -

- Selênia... -

A rainha pegou a mesa de cabeceira e se levantou, apesar da dor terrível que sentia na perna. Ela chegou até o parapeito da janela, as nuvens haviam se movido e coberto completamente o céu. Logo começaria uma tempestade.

Selenia não tinha ideia de quando essa tempestade terminaria. Ela só sabia quando ela havia começado. Dois anos antes.

- Tudo bem", murmurou a ruiva, "vou avisar a matilha que você está bem. -

Catherine não esperou por uma resposta dele. Ele saiu e fechou a porta atrás de si. Selenia engoliu e abaixou a cabeça, com mechas de cabelo escuro emoldurando seu rosto. Sentiu vontade de estragar tudo, esmurrar as paredes de seu quarto, gritar até que as janelas explodissem.

Mas não podia.

Porque ela era a dona dos lobos. Ela era a líder da matilha. Ela era a rainha deles. E se ela parasse de lutar, ninguém mais pararia.

Afinal de contas, a responsabilidade era dela.

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