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Capítulo 6

Ela bufou ruidosamente, mancou até o banheiro e encheu a banheira com água fervente. Ele levantou a perna e a colocou sobre a poltrona. O curativo estava bem apertado e o sangue havia parado de sair do ferimento, mas a dor ainda estava presente. Ele tomou cuidado para não escorregar e colocou o tornozelo na borda da banheira para não molhar o curativo.

Vou terminar o que ele começou.

As palavras de Jack voltaram à sua mente, fazendo-a estremecer. Ele . Nicholas, que a havia desafiado e que havia morrido. E ela havia tomado o lugar dele como líder da matilha. Alguns dos lobos foram embora quando ela foi coroada rainha. Nem todos a aceitaram, ou o trono que ela assumiu, ou como ela o assumiu. Matando. Duas vezes.

Não foram muitos os lobos da alcateia que a abandonaram, cerca de vinte, talvez trinta, no máximo, mas... ainda assim, foi um golpe duro para ela, que estava empenhada em ressuscitar das cinzas os membros que considerava amigos. Tentando consertar tudo o que Nicholas havia estragado. Eles eram agora sua nova família.

Porque a dela estava morta e ela havia criado uma nova.

Selenia cerrou os punhos, as bolhas voaram ao seu redor e estouraram, enchendo seus ouvidos. Você o amava e ele a traiu.

Você era boa em traí-lo, em ser a prostituta dele por um tempo, sua puta gananciosa.

Era nisso que todos acreditavam. Era nisso que todos acreditavam. Que a culpa era somente dela. Que foi ela quem o enganou para assumir o trono. Mas ele... ele a havia desafiado. Em uma luta até a morte. O que ele deveria ter feito?

E você, Catherine... você ainda é um amortecedor entre eles ou desistiu disso agora que colocou o pobre Eric na cama?

O maldito sabia, entendia o que se passava em sua cabeça. Ele sabia o que havia acontecido no ano passado, apesar de ele e os outros membros da matilha terem desaparecido. Ele conhecia os medos e as cicatrizes dela e os usou para colocá-la contra Catherine... e Jonathan. Selenia cerrou os dentes e tocou sua barriga lisa, onde aquela maldita diagonal permaneceria para sempre, indelével em sua pele como uma tatuagem. A cicatriz que Nicholas havia deixado nela durante a luta, assim como os três arranhões em suas costas.

Para lembrá-lo todos os dias do que ele havia feito. Para lembrá-la do que ele era capaz de fazer com ela até que ela implorasse por misericórdia. Para lembrá-lo do que ele havia perdido e do que jamais poderia ter novamente.

Selenia deu um pulo quando alguém bateu na porta do banheiro. Perdida em seus pensamentos, ela nem havia notado a presença dele. Jonathan estava de braços cruzados, com os olhos cansados, mas ainda alerta, o rosto pálido de alguém que não havia dormido uma única hora nas últimas vinte e quatro horas. Por ela. Para guardá-la, para protegê-la.

Ela nem sequer merecia essa proteção.

- Catherine me disse que você acordou", murmurou o loiro, "eu queria... ver como você estava. -

Selenia assentiu e apoiou o queixo nos joelhos. Jonathan respirou fundo, sentou-se na poltrona e levantou o queixo dela com o dedo indicador para forçá-la a olhar para ele.

- O que você vai fazer com tudo isso? - Ele acariciou gentilmente a perna enfaixada, úmida pelo vapor, tão úmida que ela teria que trocá-la de qualquer maneira, então ele a tirou e a ajudou a ensaboá-la lentamente. As feridas estavam cicatrizando, mas o músculo doía como se ela tivesse sido marcada.

- Não sei", respondeu ela, com os olhos voltados para a espuma, "talvez eu deva me entregar por vontade própria. -

- Não - Jonathan enrubesceu - Você não pode estar falando sério. -

- Que escolha eu tenho? - ela acenou com as mãos, jogando gotas de água por toda parte. Ela umedeceu as bochechas de Jonathan, sobre as quais colocou seus dedos trêmulos. Ele engoliu ao toque e olhou para os lábios. Ele voltará, mais cedo ou mais tarde. Ele voltará e nos fará em pedaços se eu não me entregar. Ele me quer. -

- Ele quer o grupo inteiro. Você é apenas a cereja do bolo. Um último desafio para lhe mostrar o que ele pode fazer. Você não pode desistir assim", ele apertou a mão dela enquanto ela acariciava sua bochecha. Selenia sentiu seu autocontrole se esvair com aquela carícia, seus músculos derretendo e seu coração indo para o inferno.

- Se eu não me render, ele matará outros. Ele matará todos eles até que só reste eu. -

- Não vou deixar você fazer isso. Você sabe que eu não vou deixar. -

Selenia bufou pelo nariz e balançou a cabeça. Ela tentou abaixar o braço, mas Jonathan estava segurando sua mão com força. Ela engoliu com força o caroço que se formou em sua garganta e deslizou as pontas dos dedos pela pele dele até aqueles lábios cheios que a estavam deixando louca. Jonathan prendeu a respiração mais uma vez.

- Eu poderia ordenar que você me deixasse em paz e você deveria. -

- Eu desobedeceria sem pestanejar. -

-Jonathan...

- Não - ele beijou a palma da mão dela e olhou para a sua - Você não vai se entregar. Isso está fora de questão. -

- Você poderia ser a próxima - ele teve que limpar a garganta para falar, sua voz fraca como se não tivesse falado por meses - Ou Catherine, ou Eric...

- Ou o príncipe dos vampiros, você não acha? -

Selenia ficou tensa e, instintivamente, retirou a mão da bochecha dele. Jonathan, sem a mão dela acariciando-o, sentiu uma súbita pontada no peito. Estava frio. Porque aquele toque o havia aquecido tantas vezes em tantas noites que, sem ele, ele agora se sentia... vazio.

- O que o príncipe tem a ver com isso? -

- Você ia dormir com ele", ele rosnou.

- Com quem eu durmo não é da sua conta. -

- Sim, droga. Sim!" Ele apertou os ombros dela e a olhou com olhos arregalados, chocado com suas próprias palavras. Selenia mordeu o lábio inferior, que agora estava tão rachado que se partia a cada mordida. Abordar esse assunto significaria entrar em campos minados, e ela sabia disso.

- Jonathan - ela respirou fundo, esperando não ter um ataque ou parecer muito fria com o que estava prestes a dizer - Você e eu... nós dois não estamos juntos. Não pode funcionar entre nós dessa forma. -

- Por que não? - perguntou ela, com a respiração curta e o coração acelerado - Você realmente não pode saber. -

Você deveria contar a ele. Suas intenções, o que você fez... você deveria contar a ela.

Selenia cerrou os dentes enquanto a voz de Catherine fazia suas têmporas latejarem. Ela balançou a cabeça, mas Jonathan apertou seus ombros novamente e levantou seu queixo para olhá-la.

- Não posso", respirou a rainha. O coração de Jonathan pararia em breve, se ela pudesse sentir isso.

- Por quê? -

- Porque eu não posso lhe dar o que você quer um dia. -

Aqui está você. Ele havia dito isso.

Jonathan ofegou, caiu sobre a poltrona com um baque e deixou os braços ao lado do corpo. Selenia aproveitou a oportunidade para evitar os olhos azuis dele, um mar tempestuoso contra o verde-esmeralda dos seus.

- É por isso que você não quer se relacionar comigo dessa forma? - Até mesmo respirar tornou-se difícil ao vê-la nesse estado, ao ouvir as palavras que saíam de sua boca - É por isso? Só por causa disso? -

-Jonathan ...- _

- Eu não me importo - respirou o General - Eu amo você. Sempre amei você. -

- Você se importará quando os anos passarem e quando perceber que não poderei lhe dar o que você quer. Cada solstício e equinócio seria uma agonia para nós dois. -

- Eu lhe disse que não me importo. -

- Bem, eu me importo! - O rosto dela se distorceu em uma careta de dor, e os olhos de Jonathan se arregalaram como pires ao vê-la gemer. Ele colocou o braço sob a perna dela, mas ela se afastou do toque dele e balançou a cabeça. Mas eu não posso. -

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