7
Murat
— Você não devia estar curtindo a sua esposa na lua de mel agora? — Taylor pergunta quando nos acomodamos em uma mesa redonda na calçada de um Café. Sem lhe responder faço sinal para o atendente atrás do balcão e ele se aproxima em segundos.
— Gostaria de café turco bem forte — peço e fito o meu amigo do outro lado da mesa.
— Eu quero o mesmo e traga algumas torradas também.
— Certo. — O rapaz se afasta e agora ele me olha.
— O que foi aquilo na noite passada? — inquiro com um tom sério demais.
— Aquilo o que, meu amigo?
— Taylor, não se faça de besta. Eu percebi que você e a Sila...
— Epa, calma aí! O que tem a Sila e eu?
Sorrio, porém, não vejo graça alguma no que está se passando pela minha cabeça.
— Você me conhece a quanto tempo, Taylor?
— Tempo o suficiente para saber que você está encontrando um motivo para fugir desse seu casamento, meu amigo. O que é isso? A sua esposa está sozinha em casa exatamente quando você deveria estar lá com ela. E você está aqui me interrogando? — Ele rebate, porém, apenas aceno para ele.
— Eu percebi uma certa tenção entre vocês na noite passada.
— Murat, vê se não viaja.
— Eu vou perguntar só uma vez e eu espero que você seja sincero comigo, Taylor. Conhecia a Sila antes do nosso casamento?
— Não, eu não a conhecia. — Ele responde firme.
— Tem certeza disso?
— Que droga, Murat, é claro que eu tenho!
Bufo audivelmente. Ele está mentindo para mim, mas por quê? O que existe ou existiu entre eles?
— Ok, eu vou te levar para o aeroporto.
— Mas, os nossos pedidos ainda não chegaram.
— Você come alguma coisa no avião — rebato rudemente, me levantando da mesa e sigo para o carro. Taylor entra segundos depois e enquanto o veículo corre pelo asfalto penso na conversa que acabamos de ter.
Como o meu amigo mencionou nos conhecemos há muitos anos. Taylor Miller é meu amigo desde a faculdade e ele testemunhou muitos acontecimentos extraordinários na minha vida ao longo do tempo. A minha formatura, o meu casamento com Cecília, o nascimento do Ali e até a morte precoce da minha esposa. Ele assistiu a minha dor e o meu isolamento do mundo de perto. Contudo, eu também o conheço muito bem e sei quando ele está mentindo para mim. A pergunta é, até que ponto eles se conheceram e por que estão escondendo isso de mim?
— Foi um prazer te ver outra vez, meu amigo! — Ele diz quando o seu voo é anunciado, deixando um abraço bem apertado. — Vê se não some, Murat, minha tia está louca de saudades suas.
— É claro, mande um abraço para ela.
— Pode deixar.
Enfim, seja lá o que ele esteja escondendo ficará no passado e de qualquer forma eu tenho apenas um objetivo com esse casamento: manter o poder da minha empresa nas minhas mãos. No mais, o meu coração jamais será tocado por outra mulher e com um tempo a Sila irá descobrir isso.
***
... NÃO, POR FAVOR! Por favor não faça!
Os seus gritos ainda ecoam alto dentro dos meus ouvidos, enquanto estingo o cavalo correr cada vez mais veloz pelo extenso campo. O vento frio da noite não é capaz de aplacar o fogo ardendo dentro do meu peito e em algum momento o faço parar.
... Eu não sou a sua prisioneira!
— Aaaaaah!! — grito várias vezes o mais alto que consigo, tentando pôr toda a minha fúria para fora.
Ela é afrontosa, não sabe se calar, não sabe aceitar a sua realidade e ainda provoca o animal enfurecido dentro de mim. Eu quis mostrá-la o seu lugar. Queria que ela visse quem mandava ali, mas ela não parou, simplesmente me enfrentou e eu me vi perdendo o meu controle pela primeira vez.
E eu odeio perder o controle!
Respiro fundo algumas vezes.
... O que você está fazendo?!
... Tomando a minha esposa!
Merda, Murat! Rosno mentalmente.
Você não pode me contestar assim outra vez, Sila ou terei que pôr-a no seu devido lugar. Penso, voltando a montar no cavalo e cavalgo de volta para casa. Assim que adentro a mansão percebo a sua quietude e caminho apressado para as escadarias. Contudo, antes de adentrar o corredor da ala sul me viro para olhar para trás. Suspiro olhando para dentro do corredor norte e me pego caminhando para lá. Entretanto, paro em frente a porta do seu quarto e me aproximo para ouvir algum som lá de dentro. O seu silêncio me faz levar uma mão para a maçaneta e à medida que adentro o quarto semiescuro, me livro das luvas de montaria. Sila está dormindo, mas existe alguns vestígios de lágrimas no seu rosto.
Trinco o maxilar.
No entanto, vou para perto de uma janela que fica de frente para a cama e fico parado lá apenas a observando dormir por um longo tempo.
***
Na manhã seguinte…
— O café da manhã já está servido, Senhor Arslan.
— Certo. A Senhora Arslan já desceu?
— Ainda não, Senhor.
— Vá até o quarto e peça para ela...
Paro de falar quando a vejo no topo da escadaria.
— Vá lá para dentro! — ordeno com um tom baixo e firme, e a mulher sai da sala no mesmo instante.
Entretando, observo a minha esposa descer o primeiro degrau sem me olhar nos olhos e quando ela caminha para a varanda, sigo logo atrás dela. Silenciosamente Sila puxa uma cadeira para se sentar e eu faço o mesmo, sentando-me de frente para ela. É inevitável observá-la enquanto ela fixa o seu olhar na mesa farta, porém, ela não mexe em nada.
— Bom dia! — falo com o meu habitual tom seco, porém, levemente rude.
— Bom dia! — Ela diz baixo demais.
— Sila, sobre ontem à noite...