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8

Murat

— A culpa foi minha. — Ela me interrompe para a minha surpresa. Continuo a fitá-la e ela continua olhando para a mesa. — Eu o provoquei.

Eu realmente não esperava por isso.

— Mas fui eu quem perdeu o controle. Não devia ter feito o que fiz com você. — Ela finalmente me olha. — Aqui é a sua casa agora, Sila e eu não admito que diga o contrário.

Ela apenas meneia a cabeça em resposta.

— Eu peço desculpas por isso!

Devo dizer que estou ainda mais surpreso.

— Também quero te pedir desculpas e eu prometo que isso não vai acontecer outra vez.

O silêncio toma conta da mesa, porém, algo me satisfaz. Ela está comendo e isso dissipa qualquer frustração causada nesses três dias. Satisfeito, começo a comer também.

— Você disse que se sente sozinha — falo, atraindo a sua atenção para mim outra vez. — Infelizmente eu não posso ficar dentro de casa o dia inteiro, mas prometo acompanhá-la na primeira e na última refeição do dia.

— Não é necessário, Senhor Murat.

E lá está a garota petulante outra vez.

— Sila…

— O Senhor disse que eu posso conversar com os empregados, certo? Será que a Ayla pode ser a minha companhia?

— A Ayla? — Ela força um sorriso de boca fechada.

— Ela tem um gatinho, o Érôn. — A menção desse nome me faz perder o apetite.

— Não, escolha outra! — rosno, bebericando o meu café. Entretanto, Sila une as sobrancelhas.

— Por que não pode ser ela?

— Porque eu disse que não! — respondo com um tom firme. Contudo, a minha esposa parece me avaliar. — O que está fazendo, Sila?

Ela engole em seco.

— Nada. Eu estou me perguntando quais seriam os seus motivos.

— Isso não a interessa, Sila. Você escolhe outra pessoa e estará tudo bem. — Me levanto da cadeira e saio da varanda.

Era só o que me faltava!

Rosno contrariado quando penso que ela queria arrancar uma satisfação de mim. Imediatamente entro no escritório da casa, pego alguns documentos dentro do cofre e saio para ir a empresa. Enquanto dirijo, faço uma ligação para a minha secretária e peço para ela adiantar os preparativos para a reunião com os estrangeiros. Contudo, freio o carro na metade do caminho quando me lembro que me esqueci do relatório de estatísticas em cima da mesinha de cabeceira, no meu quarto.

— Mas que droga, Murat, onde você anda com a cabeça? — retruco, dando meia volta e dirijo rápido, voltando para a mansão. Subo as escadas apressado e adentro imediatamente o corredor. Entretanto, paraliso ao ver a porta do meu quarto entreaberta.

Franzo o cenho e caminho cauteloso para perto da porta, levando uma mão a maçaneta, porém, ela se abre bruscamente e o meu olhar irritado encontra o olhar assustado de minha esposa curiosa.

— Murat?

— O que você está fazendo aqui? — rosno friamente, sem desviar os meus olhos dos seus.

— Eu estava conhecendo a casa. Eu vi essa porta aberta e...

— Você não tem o direito de estar aqui! — brado furiosamente. Ela se assusta com a minha reação e recua um pouco.

— Me desculpe, eu não sabia…

— Saia! — rujo entre dentes.

— Murat, eu…

— EU DISSE PARA SAIR! — rujo ainda mais alto e mais forte agora, puxando-a com violência pelo braço e praticamente a jogo para o outro lado do corredor. O seu corpo se impacta contra uma parede e ofegante ela me encara. — O que esperando, Sila? Eu disse para sair! — rosno em fúria e ela sai correndo como uma desesperada para bem longe de mim.

Imediatamente invado o cômodo, observando cada detalhe dentro dele para ter a certeza de que nada foi tocado. Chego a sentir falta de ar quando penso que aquela mulher entrou aqui. Contudo, após constatar que tudo está no seu devido lugar, me encosto em uma parede e respiro fundo algumas vezes.

— Senhor Murat? — Ayla surge repentina na entrada do cômodo, porém, a sua cara não é das melhores.

— O que aconteceu?

— É a Senhora Arslan.

— O que tem ela?

— É que...

— Fala, Ayla!

— Ela saiu correndo de casa e foi direto para o estábulo.

— Ah, merda! — brado transtornado.

— O Senhor Dimaz não conseguiu detê-la e ela saiu com o Jessé.

Meu coração para uma batida violenta e eu não penso duas vezes em sair correndo direto para o estábulo.

Não é possível que eu tenha que passar por essa tormenta outra vez. Rosno mentalmente à medida que adentro o maldito estábulo, sentindo a mesma névoa negra daquela maldita noite me envolver outra vez. O fato de Sila sair dessa maneira me joga dentro de maldito déjà vu e isso me sufoca de uma maneira violenta.

— Por que a deixou ir? — Praticamente berro ensandecido para o Senhor de meia idade, que se encolhe sem saber o que dizer. — Se algo acontecer com ela, eu juro que o farei pagar com a sua vida! — grito, mas a verdade é que estou tomado de medo. Se algo acontecer com a Sila com certeza ficarei arrasado.

Enquanto cavalgo feito um louco a sua procura, lembranças de uma noite que eu gostaria de esquecer preenchem a minha mente. Lembrar da dor de tê-la arrancado dos meus braços por um destino cruel faz a culpa corroer a minha alma dolorida, me faz sufocar e respirar é algo que eu já não consigo fazer mais.

— SILA? — grito na esperança de que ela me escute e apareça para mim, mas nada acontece. — Vamos, Sila, não faça isso comigo! — rogo baixinho, na esperança de que ela me escute. Contudo, o meu coração dispara enfurecido quando vejo o seu vulto correr cada vez mais rápido para longe de mim e com algumas batidas acelero os galopes do meu cavalo. — Sila?!

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