IV - Cyber Suit - Parte 2
Killerfrost Bear era mais impaciente que o X Hunter que tinha como parceiro. Apontara com aquele canhão no qual seu braço esquerdo tinha se transformado e atirara sem fazer mais perguntas. Nunca antes um X Hunter tinha parado para falar com suas presas e aquela conversa já tinha durado demais.
O disparo do Reploid explodira no local onde o garoto estava com a menina deixando uma enorme cratera de gelo em seu lugar. Todos os ataques daquele X Hunter eram desenvolvidos com tecnologia hipotérmica e o mesmo podia congelar qualquer coisa que fosse capaz de atingir.
Não era o que havia acontecido.
—Para onde ele foi? – indagou o Reploid com a voz mais alta que antes.
—Ele evadiu antes que o atingisse – respondeu o vermelho – É mais rápido que esperávamos. Irei segui-lo por dentro, saia e analise possíveis saídas dessa área, esteja pronto para abatê-lo se escapar antes que eu o destrua.
—Você irá destruí-lo? – murmurou o robô azul e prata – Precisamos dele para saber que tipo de tecnologia é essa.
—O levaremos para análises vivo ou morto – respondeu o companheiro – Viu o que ele fez? Ele conseguiu bloquear um de meus ataques com um punho. Se pode fazer isso, o que mais podemos esperar? Não podemos subestimar suas habilidades. Se a única forma de o conter for destruindo-o, farei o que for melhor. Não podemos correr o risco de que uma ameaça dessas chegue até a base.
—Odeio quando você tem razão. Vamos acabar com isso. Force-o a sair para a superfície – respondeu o outro – Irei solicitar um destacamento de apoio das sentinelas próximas.
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Victoria podia sentir o vento em seus cabelos enquanto o garoto corria com ela em seus braços. Apesar da velocidade, ela não sentia grandes solavancos da corrida, mesmo quando ele saltava. Ele a segurava com força, mas ao mesmo tempo parecia que o fazia com carinho. Ele se preocupava com ela?
—Por que não lutou com eles? – sussurrou a garota com a cabeça deitada em seu pescoço, os olhos ainda fechados – Você é o guerreiro das lendas. Tenho certeza de que poderia os ter derrotado – ela sabia que ele podia ouvi-la mesmo enquanto corria.
—Guerreiro das Lendas? Não sei do que está falando, mas certamente não sou eu. De qualquer forma, os espaços dentro dessas ruínas são apertados para combates – respondeu o rapaz – Seria impossível lutar com os dois e protegê-la ao mesmo tempo. Não posso permitir que lhe façam mal.
—Eles ainda virão atrás de nós…
—Estou contando com isso. Por essa razão estou registrando dados sobre esse lugar. Nada aqui é como me lembro – explicou o garoto – Tão logo encontre um lugar seguro para deixá-la, cuidarei das ameaças.
—Por favor, X… posso chamá-lo assim? Não me deixe para trás – pediu Vic.
Sem que a menina soubesse, o menino era capaz de ouvir seus batimentos.
—Nunca irei abandoná-la. Eu prometo, confie em mim – respondeu.
Correndo por uma parede, antes que perdesse impulso o jovem saltara para uma outra e então outra. Equilibrando-se sobre um pilar quebrado pela metade o mesmo olhara em volta, mapeando o local. Rastreara uma câmara a poucos metros de onde estavam e descera até ela.
Já próximo de uma parede muito alta, o rapaz colocara Victoria no chão.
—Para onde iremos agora? – perguntou a menina.
O rapaz indicara uma pequena passagem aberta pela erosão próxima ao solo. Era como uma cicatriz na roxa, quase invisível na escuridão.
—Preciso que se esconda aqui e me aguarde. Irei voltar e confrontar aqueles X Hunters, do contrário, não será possível tirá-la daqui em segurança.
—Eu não quero ficar sozinha, tenho medo. E se outro deles aparecer? Fique comigo, por favor – implorou a garota com os olhos em lágrimas.
Cyber segurou uma das mãos da menina e seus olhos azuis brilharam. Eram como minúsculos pontos luminosos naquela escuridão.
—Eu voltarei por você. Se estiver ao meu lado eles a usarão como recurso para ter vantagem em batalha. Não permitirei que qualquer sentinela venha para esse lado. Estará segura. Eu prome… – Vic havia colocado a mão direita sobre a face do rapaz e movera o polegar sobre seus lábios.
—Não precisa prometer – respondeu ela enxugando as lágrimas com as costas da outra mão. Tinha a face suja de terra pelos tombos anteriores – Já pediu para confiar em você. Eu estou sendo mimada, sempre jogam isso na minha cara. Mas não sou criança, já tenho treze anos. Estarei esperando. Vença e volte para mim.
O garoto aproximara-se e a abraçara. Vic nunca havia experimentado um calor como aquele tão perto.
—Não está sendo mimada. É normal ter medo. Mas tente se manter calma – respondeu o rapaz – Estarei de volta logo.
Dando dois passos para trás, por todo o corpo do garoto centenas de placas azuis começaram a surgir boiando sobre sua pele, encaixando umas nas outras como uma gigantesco quebra-cabeças. Em alguns segundos o mesmo estava com uma armadura azul metálica que lhe cobria o corpo todo até o pescoço.
—Lindo – sussurrou a menina pensando alto.
—Meu pai a chamava de Cyber Suit – comentou ele referindo-se à armadura.
Vic acenara com a cabeça e agachara, engatinhando para dentro da fenda indicada na parede. O rapaz voltara-se para a escuridão atrás de si. Era hora de mostrar aos Hunters o poder que possuía.