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III - Cyber Suit - Parte 1

Quando vi aqueles olhos azuis me encarando eu sabia que eram artificiais. Ainda assim, sabia que me salvaria e confiava minha vida a ele. Não sei dizer como, mas sinto que me apaixonei no primeiro instante, mesmo sabendo que não se tratava de um humano. Nossos destinos não se cruzavam ao acaso, eu vinha procurando por ele, mesmo quando todos riam e diziam que eu perseguia uma lenda, um fantasma. E agora eu sentia que ele esperava por mim.

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Victoria arrastava-se para trás apoiada sobre os cotovelos. Abaixo de si tinha aquele líquido azulado que escorrera do tubo de criogenia de onde saíra aquele garoto a poucos metros de si. Que idade ele teria? Era pequeno e magro, parecia pouco mais alto que ela, não deveria ter mais que um metro e cinquenta.

Seja lá como fosse, ele sabia quem eram os inimigos. O jovem falara com os X Hunters como se os conhecesse intimamente. Além disso, graças a ele, os Reploids tinham respondido no idioma de Vic. Ela agora sabia que as sentinelas compreendiam o que os humanos falavam. E realmente tinham personalidades e peculiaridades como os humanos. Não eram simples máquinas de matar.

—Vamos descobrir se você tem as habilidades de que se gaba, humano – disse o Reploid de armadura vermelha – Prepare-se para uma morte indolor. Ou pelo menos rápida.

A humanidade tinha uma razão simples para temer todas as sentinelas. Não havia qualquer tipo de aviso antes dos ataques mortais. Principalmente quando se tratava de X Hunters, a elite de caçadores das máquinas.

Victoria olhava surpresa para o que acontecia bem diante de seus olhos. Se sobrevivesse àquele evento certamente ninguém acreditaria nela.

O ataque viera com força. O Reploid com cabeça de dragão deveria ter mais de dois metros de altura e golpeara com o punho fechado em um ataque de cima para baixo direcionado à cabeça do garoto.

Era estranho ver uma sentinela, principalmente um Reploid classe X Hunter atacando com um golpe físico. Aqueles robôs preferiam atirar, de metralhadoras a armas laser ou poderosos canhões. Suas investidas sempre que rastreavam um grupo de resistência humana eram verdadeiros massacres.

Vic já se imaginava sendo a próxima vítima. Fechara os olhos e cerrara os dentes prendendo a respiração, torcendo para que o choque fosse direto e sua morte fosse indolor. Ouvira um som agudo e sentira quando o chão abaixo de si vibrara. O ruído era o impacto de metal contra metal e mesmo após abrir os olhos ainda não entendia o que realmente tinha acontecido.

Abrira apenas o olho direito arqueando a sobrancelha. Sentia dores pelo corpo e a respiração ainda falhava. Apesar de tudo, eram sinais de que ainda estava viva. O rapaz que falara com ela instantes antes continuava em pé bem à sua frente, porém, algo tinha acontecido.

O mesmo tinha o braço direito erguido e do cotovelo até sua mão havia uma espécie de luva, um tipo de armadura azul feita de diversas peças reluzentes. Não apenas nesse braço, mas dos joelhos para baixo usava algum tipo de bota nas duas pernas, detalhadas em peças azuis que brilhavam e pareciam ser feitas por algum tipo de metal.

Contudo, o surgimento daquelas peças de armadura naquele instante em que tinha fechado os olhos era a menor das surpresas. O rapaz havia erguido o braço esquerdo para defender-se do ataque do X Hunter.

E havia conseguido!

Victoria precisou abrir os dois olhos para acreditar na cena.

Abaixo dos pés do rapaz, agora cobertos pelas botas da armadura de metal azul, diversas rachaduras nas pedras indicavam que ele tinha sido pressionado com grande força contra o chão. No entanto, o mesmo continuava com o braço erguido e o punho fechado. Ambos punhos, dele e do gigante vermelho tinham se chocado e parado no mesmo lugar.

O jovem não parecia ferido, era como se tivesse erguido o braço e permitido que uma mosca pousasse em sua mão. Era surreal.

O X Hunter voltara o punho e saltara para trás no mesmo instante, parando próximo ao outro. Se suas faces pudessem expressar emoções, ambos Reploids estariam demonstrando surpresa.

—Como é possível? – disse o caçador vermelho – Eu ouvi seu coração bater. Mas não existe humano como esse poder.

—Ele não é um humano – disse o outro, o Reploid azul e branco.

Magma Draccoon, o robô com armadura vermelha e dourada então ativou o scanner, um acessório básico que todos os X Hunters tinham.

—É estranho – comentou a sentinela – Posso identificar traços orgânicos em sua pele, cabelos e outros detalhes superficiais. E também sinais de respiração e seus batimentos cardíacos. Mas está cheio de elementos não catalogados. Seu corpo está carregado por algum tipo de metal desconhecido… Se estivesse ouvindo isso de outro não estaria acreditando.

—Devemos levá-lo conosco para análises – argumentou Killerfrost Bear, o Reploid com detalhes prateados e azuis – Precisa de ajuda para derrubá-lo?

Enquanto os caçadores pareciam surpresos com o jovem, o mesmo voltara-se para Victoria, caminhando e ajoelhando ao lado dela. A luva da armadura de metal azul que usava havia desaparecido. Tinha se dividido em dezenas de pequenas partes e entrado literalmente para dentro da pele do braço do rapaz.

—Você está bem? – disse ele. Sua voz era calma e suave.

—Eu… – começou ela, cheia de dúvidas, cheia de perguntas que sabia não ser possível fazer naquele momento – Sim, não me feri gravemente – respondeu – Quem é você? – perguntou finalmente.

—Eu me chamo Cyber. Cyber X, na verdade. Pelo menos era esse o nome do projeto em que fui desenvolvido – respondeu o garoto – Pode me chamar de Cyber ou de X, como preferir. Como é o seu nome? – indagou.

—Vic… Victoria. Meus amigos me chamam de Vic.

—Victoria, eu vou pedir que se segure forte em mim, está bem? Agarre-se com todas as forças que tiver e não solte – disse o menino, tomando a garota nos braços e erguendo-a do chão.

A jovem envolveu os braços por seu pescoço, ele tinha a pele quente e macia e seu cheiro era bom, um perfume doce que Vic jamais esperaria sentir naquele lugar.

—O que pensa que está fazendo? Acha que vai simplesmente conseguir fugir daqui assim? – rugiu o Reploid azul e branco. Sua voz era metálica e grossa, reverberando pelas pareces daquele lugar em ruínas.

—Não conseguirá escapar de nós – emendou o outro, com sua voz suave e harmoniosa.

—Nós vamos fugir? – sussurrou a menina com a face escondida no pescoço do garoto que a tinha em seus braços.

Era incrível que se sentisse daquela forma naquela situação, mas Vic tinha certeza de que não importava quem era seus inimigos, Cyber a protegeria dos mesmos.

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