02 - Henrique Carter
Henrique Carter
Separo todos os legumes e verduras que minha mãe usa e vou cortando eles do jeito que ela gosta, depois que tudo está preparado, limpo o que sujei, retiro o lixo da cozinha e dos banheiros e os jogo fora. Volto para a cozinha, preparo uma pipoca, faço um suco e já encho as garrafas de água, que ver a fúria da minha mãe é chegar em casa e não ter água gelada e as garrafas secas.
Vou com meu balde de pipoca para o sofá e meu copo de suco e continuo assistindo à série, já pego meu celular e vou procurando o contato daquele branquelo azedo.
— O que você quer Henrique, não basta me ver 5 dias na semana? — Petter me atende em inglês.
— Na minha terra você fala meu idioma branquelo azedo. — Começamos a rir, ele estava com voz de sono.
— Vai a merda. — Ele agora fala no meu idioma bem carregado com sotaque.
— Falei com a minha mãe, ela deixou você dormir aqui, já pediu da sua mãe? — Dou logo a notícia a ele.
Os pais do Petter são separados, o pai dele mora em Nova York e trabalha de guarda costa e ele fala que ele terá a mesma profissão que o pai para quando o filho do patrão precisar de segurança, ele diz que essa função passa de pai para filho, já a mãe dele veio com ele para que ele pudesse fazer as aulas e não ficar sozinho em um país diferente, cultura diferente.
— Já, sim, estava só esperando você me dizer que posso ir, minha mãe vai me deixar aí, a sua já chegou? — A mãe dele é bem cuidadosa.
— Ainda não, assim que ela chegar eu te avisarei, hoje ela cozinhará aquele peixe. — Falo por que sei que ele também gosta.
— Sério que ela fará? Não brinca com o monstro que tem no meu estômago Henrique, aquele peixe da sua mãe é maravilhoso. — Até o gringo já se rendeu o famoso peixe de dona Cleide.
Assim que desligamos volto assistir minha série de advogados, estou estudando muito para passar na federal em Direito e ser o orgulho de dona Cleide, não quero que ela trabalhe até ficar velha, quero poder dar a ela uma velhice tranquila.
Enquanto assistia o terceiro episódio da série, minha mãe chegou, me deu um beijo, foi até o escritório, depois subiu e trocou de roupa.
Pausei minha série e fui ver como o Augusto estava naquela montanha de papéis, ele já tinha tirado os sapatos, jogado o terno de qualquer jeito e aberto a camisa, me sentei no sofá e olhei alguns documentos, ele me olhava enquanto pegava em alguns documentos.
— Meu amigo daqui a pouco está chegando, está precisando de ajuda com alguma coisa. — Continuava lendo a pasta de documento e um nome em específico me chamou atenção.
— Por enquanto estou bem aqui, sua mãe disse que fará aquela moqueca de peixe. — Ele fala e presta atenção em mim.
— Sobre o que é esse caso? — Pergunto tentando entender o que estou lendo.
— Um garoto está sendo acusado por homicídio doloso, mas a família diz que ele estava em casa, ainda não fiz a entrevista com a família e nem peguei o depoimento do rapaz. — Ele ri para mim, achando que me interessei pelo caso.
— Parece interessante, posso ajudar em algo. — Olho para ele com a melhor cara de cachorro pidão.
— Não vejo por que não, enquanto estiver aqui em casa pode me ajudar, depois que terminar seu afazeres com o estudo. — Pode ter certeza que vou ajudar sim.
Largo as folhas e vou até meu quarto para procurar algum documento meu, esse nome que só me dá raiva é um nome que sempre me forço a esquecer, pego minha certidão e leio.
— Henrique Muniz Carter, filho de Cleide Gomes Muniz e James Silas Carter.
Pode ser apenas uma coincidência, não deve ser a mesma pessoa e não preocuparei minha mãe com isso, ela demorou anos para superar aquele monstro que tanto mal fez a ela, se para proteger minha mãe seja necessário que eu mate aquele desgraçado farei isso.
Meu telefone toca e minha mãe me chama lá de baixo, tenho que mudar meu humor para que ninguém perceba.
— Querido, acredito que seu amigo chegou. — Vou até o portão, abro recebendo meu amigo e a mãe dele, os convido para entrar.
— Mãe, essa é a Sr.ª Marília Harris, a mãe do Petter. — Minha mãe sai da cozinha e vai até a mulher que estava na sala.
— Seja bem-vinda Marília, finalmente conseguimos nos conhecer. — Minha mãe sorri para ela.
— Você é uma mulher muito bonita e feliz. — Ela fala meio insegura e acho que ainda é insegurança com o idioma.
— Pode ficar tranquila que ele ficará seguro aqui, deseja ficar para o jantar? — Dona Cleide como sempre muito receptiva.
— Não é necessário, eu marquei uma reunião com algumas amigas, aproveitarei minha solidão. — Elas duas começam a rir.
— Credo, mãe, não preciso saber o que fará mais tarde. — Começo a rir do Petter.
Me despeço da Sr.ª Harris e levo o Petter até o meu quarto para podermos arrumar as coisas dele e não demora muito, minha mãe nos chama para jantar, descemos para sentarmos a mesa com a família e meu amigo, comemos rindo e contamos os planos para amanhã irmos para o cinema.