Capítulo 6
- Cuidadoso? — repito, um pouco assustado.
— Ou, no meu caso, preste atenção. – pisca.
- Sexta-feira. — Tase diz assim que fecho o armário. Fico assustado quando quase colido com seu corpo — Não marque nada.
Eu dou a ele um olhar desconfiado. Percebo que ele sempre aparece de repente e nunca inicia uma conversa normalmente.
- Não estou interesada. — respondo, digitando a combinação de senha para fechar o porta-malas.
Eu me viro e o encaro. Seu cabelo está mais bagunçado que o normal, o que, curiosamente, o torna mais atraente. Combina bem com ela e não posso negar que a beleza caótica me agrada. Mas ainda não estou convencido.
- Não? —Há uma certa diversão em seu rosto e em sua voz, e pensei já ter deixado a resposta clara.
— Não vou sair com você, Doan.
Viro as costas para ele e no mesmo momento ouço uma risada. Paralisia. Eu me viro e sua expressão se transforma em pura comédia.
Eu franzir a testa.
- Sair comigo? — explode numa risada exagerada, recostando-se com os ombros trêmulos. —Eu não te convidei em namoro.
Dou um passo para trás, apreensiva, sem entender suas intenções.
— Festa noturna, na minha casa. — anuncia, quando finalmente se recupera da risada irritante, mas sem quebrar o sorriso arrogante — Ligue para seus amigos — ele morde o lábio inferior — principalmente Catarina. — se afasta, atraindo todos os olhares para ele a cada passo.
Festa ?
Por um momento, fico parada, observando-o no corredor. Não sei se me abandonaram ou me abandonaram, mas sei que não há chance de eu aceitar o seu convite, seja ele qual for.
E nem eu, nem Katherine, nem nenhum de nós. Praticamente todas as sextas-feiras, depois do baile, vamos à esplanada, é como uma tradição e ninguém a quebraria.
Ainda assim, sinto minhas bochechas queimando.
—Quando ele te contou? — Kat fica exultante quando eu preguiçosamente lhe conto a novidade. Praticamente esqueça o garfo com a comida.
—Depois da segunda hora.
—E você vem falar comigo agora?
Foster usa uma blusa justa com botões, sendo dois deles abertos, expondo um pouco de seu decote.
– Catarina. — suspiro — Foi literalmente na última mudança de turma.
— Este é um alerta vermelho! - ele quase grita. — Você deveria ter me contado imediatamente.
Nós temos três. Alerta vermelho, urgente, questão de vida ou morte. Alerta amarelo, algo interessante que vale a pena trocar mensagens durante a aula. E alerta violeta que… pra falar a verdade eu nem sei. Mas eu me pergunto onde é uma emergência dizer que um cara pediu para você te convidar para uma festa.
— Você não está ajudando pessoas em recuperação neste momento?
— Sim, mas não é que eu precisasse do ponto extra.
Katherine Foster é presidente do governo estudantil, tem ótimas notas e um currículo ainda melhor. Em alguns intervalos, ele se compromete a dar aulas para quem não obteve nota mínima na última prova.
Ela é popular e bonita o suficiente para ser líder de torcida, sentar no meio do refeitório e sair com pessoas como Charlotte. Mas não, porque ela sabe exatamente quem é e o que quer, e é isso que mais admiro nela.
—Mas que diferença isso faz? Nós realmente não vamos. - Eu concluo.
—O que você quer dizer com não vamos? —Katherine e Charlie perguntam em uníssono.
Tento esconder uma certa decepção.
—Sexta-feira é dia de esplanada.
— Esta partida é uma exceção. — finalmente coloca os talheres na boca.
Mordo meus lábios, olhando para os outros dois.
—Estou com Skyler. —Eleanor se posiciona, quebrando o silêncio.
—Estou com Katherine. - Charlie responde.
Reviro os olhos sutilmente.
— Mas agora — começa Kat, percebendo minha reação — vamos conversar sobre algo realmente sério e importante. — ele se aproxima de nós, como se fosse contar um segredo — Quem é mais bonito? Tase ou seu irmão?
Eu olho para cima, desinteressado.
Tudo parece uma grande piada interna da qual estou fora. Não faço ideia de quem as pessoas falam durante o almoço, em grupo ou mesmo numa esplanada. Eu não conhecia Tase e não conheço o irmão dele, nem pretendo conhecer.
Sinto que fiquei isolado por mais tempo do que pensei que ficaria.
—Se forem remotamente parecidos, eu passo.
O tempo entre um sinal e outro passa insuportavelmente devagar até que o último toca, me fazendo suspirar de alívio. São cinquenta minutos cada, mas a concepção de tempo é relativa então hoje posso dizer que ele está bravo comigo. Eu também estou. Katherine e Charlie não estão exatamente bravos, mas sei que eles acham uma merda eu não querer ir à festa. Kat convenceu Eleanor, mas ela sabe que não poderia fazer o mesmo por mim.
No final da tarde pego a bicicleta e pedalo até o mercado, segurando a lista de compras escrita pela minha mãe. Comida, macarrão, vinhos secos e cenouras.
Observo o pôr do sol, o céu muda do amarelo para o rosa e finalmente se mistura com o azul cobalto. Os produtos balançam na cesta e tomo cuidado para não correr muito rápido, embora queira dirigir quilômetros por hora só para sentir o vento no rosto e chegar antes que escureça completamente.