Capítulo 5
Senhora da Noite?
- Fechar a janela. - Eu ordeno.
Já tenho que me contentar com a iluminação da rua, que reduz drasticamente a minha visão, e com a luz do seu quarto não consigo ver nada com clareza.
- Não quero. — ele refuta — Você não deveria, não sei — ele passa o polegar pelo queixo em uma pausa — conversar com os amigos sobre meninos? Sobre mim?
Deixei escapar uma risada sarcástica.
"Você seria engraçado", começo, "se não fosse arrogante."
—Eu sou os dois, e você também.
Reviro os olhos quase involuntariamente.
—Você não precisa ser assim em nenhum outro lugar, certo? — minhas mãos formando garras no suporte.
– Só às dez.
Bufar. Agora que penso no passado, eu nunca deveria ter expulsado os crentes.
—Você conhece o amor à primeira vista, Tase? - Eu fingi um sorriso. — Acho que tive isso com você, só que diferente... — Faço uma pausa dramática e meu rosto se franze — odeio à primeira vista.
Desvio o olhar, mas ele não faz o mesmo.
- Isso é perigoso. Se você me odeia, você já tem sentimentos suficientes por mim.
Eu rosno.
Tase é o tipo de pessoa que você ama ou odeia, sem nada no meio, mas ele não parece querer aceitar que estou no último grupo.
—Você não acha que estou em desvantagem? — ele se inclina para frente, apoiando a cabeça nas mãos — Você sabe meu nome e eu não sei o seu.
- Continue assim.
Eu o ouço suspirar profundamente.
—Nesse caso terei que ficar aqui até descobrir. — O canto do olho, torcendo a boca e tensionando a mandíbula — Algum problema, dona da noite?
Eu clico minha língua.
— Skyler — eu admito — Meu nome é Skyler.
Espero que você me deixe em paz.
-Eu me sinto muito bem. —suaviza— Skyler...
A maneira como ele testa meu nome com sua voz rouca me dá arrepios por alguns segundos. Sinto necessidade de dar um passo atrás, de olhar para o outro lado, de sair daqui.
Mas então ele se afasta da janela e, antes que possa franzir a testa, a luz se apaga. Aperto meus lábios em um pequeno sorriso, virando meus olhos para as lentes. O céu é como um mar no qual mergulho. Eu me perco na escuridão brilhante.
- O que você está vendo? —suas palavras não me distraem, mas coexistem no espaço.
Aponto meu dedo para o ponto mais brilhante acima, eclipsando quase todas as outras estrelas com sua presença.
—Qual é o nome desta estrela?
—Não é uma estrela. — Corrijo — É Vênus.
Ele murmura algo, surpreso.
— Eu não sabia que podíamos ver planetas daqui.
— Você pode ver Marte, Vênus e Júpiter de vez em quando — Viro-me para ele com as sobrancelhas levantadas — Você pode zombar de Peter o quanto quiser, mas com ele posso ver todo o caminho até Saturno. - eu me vanglorio.
-Pedro? - ele pergunta confuso.
Limpo a garganta e não respondo.
Então o silêncio paira no ar. Tão profundo que sinto como se ouvisse o sussurro do fogo dos corpos celestes. Normalmente fico alheio a tudo e a todos nesses momentos, mas agora parte da minha atenção está voltada para ele, debruçado na janela.
Olhamos para o mesmo céu?
-Perseguir! — uma forte voz masculina agora ressoa, fazendo-me dispersar.
Desvio minha atenção do telescópio a tempo de vê-lo também pular em estado de choque e, sem se despedir, fecha brutalmente a janela em um segundo.
Eu recuo com o barulho do metal. A reação dele acaba me assustando mais do que o grito e tomo isso como um sinal para ir para a cama.
Eu fiz cereal para você. —Marie anuncia, como baixo, num tom muito mais alto do que é aceitável pela manhã.
Esta é a sua maneira de se desculpar por ontem, ou talvez por toda a minha vida.
— O cereal está pronto.
Sento-me à mesa de quatro pessoas. Puxo outra cadeira e apoio o pé nela. Minha mãe está fazendo o mesmo. Quase uma metáfora inconsciente de como enfrentamos a ausência.
—Mas eu coloquei na sua tigela. — ele coloca na minha frente, bem mais do que eu normalmente faço — E eu comprei o leite.
- Obrigado. - murmuro.
Ela me entrega a caixa e eu despejo o líquido no recipiente onde já estão as alças. Mexo a colher e olho para a tigela colorida. Acho que deveria ter parado de comê-lo quando tinha doze anos, mas agora é como uma porta de entrada para essa idade, além de ser tarde demais.
— Você sabe que posso te levar para a escola, certo?
Levanto a cabeça e paro de brincar de mergulhar os pedaços verdes na substância branca, cena típica do Titanic. Concordo com a cabeça, porque já tivemos a mesma conversa muitas vezes antes, antes do início das aulas.
Porém, assim que você sobe para se arrumar, você come o mais rápido possível para não ter que esbarrar com ela na porta e sair antes que você perceba.
.
Hoje é um daqueles dias em que você sente frio sem casaco, mas aquece com ele. Um desastre no formato da hora; É como nunca estar confortável.
Mal estou sentado no ônibus quando Katherine começa a falar sobre Doan. Ele me pergunta se eu o vi, como ele estava, o que ele fez.
Deixo minha jaqueta cair sobre os ombros e cubro os braços, tentando encontrar um meio-termo para o desconforto.
—Por que isso te interessa tanto? — interrompo ela no meio, sem pensar muito — Gostou ou algo assim?
- Não! Pelo amor de Deus, não. — Ele nega rapidamente, balançando a cabeça, e eu suspiro de alívio — Mas é claro, se ele quisesse ficar comigo, eu não recusaria. — enrola uma mecha de seu cabelo cacheado com os dedos, junto com seu olhar malicioso.
—Então por que as perguntas? —Arqueio as sobrancelhas.
- Curiosidade, Skyler. — Ela abre um espelho em miniatura e tira um brilho labial da bolsa, aplicando-o cuidadosamente nos lábios carnudos. —Vamos imaginar que um dia você planeja fazer um massacre na escola. Você pode ver e nos avisar e depois avisaremos o resto dos alunos. — Fiquei sem palavras — Exceto Charlotte, obviamente.
– Catarina? _ — Eu a repreendo, e não pela última parte.
- Que? — ele se vira para mim com um olhar inocente — Não, não estou dizendo que ele fará isso. — meu rosto ainda não se acalma — E eu não faria isso, mas só... — ele escolhe as palavras e se vira completamente para mim — Ninguém sabe qual é a dele, dizem que é melhor tomar cuidado.