Capítulo 4
-Quem eram aqueles caras?
-Homens que tinham dívidas com meu pai e acabaram querendo se vingar de mim.
Mas e você? Está melhor? ~ Ele muda de assunto e eu aceno.
-Sim. Eu só quero ir para casa e descansar. Saí de casa pronto para uma entrevista e quase enfrentei a morte. ~ Digo rindo da minha desgraça.
-A única vítima foi o cachorro de Anne. Ela estava triste, mas farei tudo o que puder para garantir que sua perda não a faça sofrer.
Sua irmã está bem. Ele dorme com Anne. Você foi o herói dele hoje. Eu me sentia impotente por não poder cuidar da minha filha. Espero que você esqueça o que aconteceu hoje. Um evento que nunca mais acontecerá, sem dúvida.
-O que aconteceu com o garoto que estava em cima de mim?~ pergunto com visível nervosismo.
-Eu resolvi esse problema, não se preocupe.~Responda.
-Eu devo a você.~ Ele diz sentando ao meu lado.
Seus olhos se fixam nos meus e posso finalmente ver sua cor. Era azul. Um azul raro. Calmo e sereno.
Irônico, certo? O homem que continuou a me levar a sério com suas palavras tinha serenidade nos olhos.
-Você não me deve nada. Agora eu tenho que ir.~ Digo me levantando e ele respira fundo.
-Eu te dei uma semana. Você acha que foi suficiente ir embora e nunca mais voltar? ~ Ele pergunta e não sei dizer se ele estava falando sério.
Depois de tudo o que aconteceu, ele realmente queria que eu fosse embora?
-Amanhã estou de volta. Não desisto facilmente.~ Falo e ando em direção à porta, saindo e indo em direção ao quarto de Anne, que descobri ser ao lado daquele onde eu estava.
Então ele estava no quarto de Henry?
Entro devagar e vejo que os dois estão dormindo pacificamente. Pego a minha irmã nos braços e saio de casa onde o Sr. Luís me esperava no carro.
-Você foi muito corajosa garota.~Elogie com simplicidade.
-Obrigado por cuidar da minha irmã.~ Agradeço e ele balança a cabeça, ligando o carro.
-Você não precisa agradecer por nada. Porém, não acho que seus pais vão deixar você trabalhar mais aqui depois do que aconteceu.~ Ele diz saindo de casa e percebo que já está escurecendo. Eu não tinha ideia de que horas eram.
-Não se preocupe com isso. Somos apenas Eva e eu. ~Eu respondo e ela se move em meus braços.
-Você não mora com seus pais?~ Ele pergunta e eu abaixo a cabeça para falar sobre o assunto em questão.
-Eles morreram em um acidente. A mesma que deixou Eva sem conseguir andar.~ Falo e vejo seus olhos abertos.
-Desculpe. Eu não fazia ideia...
-Não se preocupe. Está tudo bem agora.~ Falo e tento não lembrar daquela noite que tirou minha paz.
Chegando em casa me despeço do Seu Luís e vou tomar banho.
Quando Eva acordou, ela disse que estava com muito medo de me perder e ter que morar sozinha. Prometi a ela que nunca a abandonaria e ela dormiu em paz novamente.
Naquela noite fui para a cama pensando que estava sempre próximo da morte, mas que ela nunca poderia me atingir.
Respirei fundo e fechei os olhos tentando não me lembrar de nada que pudesse me fazer chorar.
*
*
*
Acordo ouvindo meu celular me acordar. Eu tinha colocado minha música favorita e agora odiava por sempre me acordar de manhã.
-LORENA POR FAVOR DESLIGUE.~Eva grita e eu sorrio, me espreguiçando.
-Você não quer ver Anne? ~Eu pergunto e seus olhos se arregalam, seus lindos olhos castanhos claros se arregalam.
-Essa é outra história.~ Ele fala e nós dois rimos.
-Você conhece Lore? Ontem seu pai estava muito preocupado com você. Ele atirou naquele homem e carregou você para casa nos braços. Ela fala pensativa e eu sento na cama lembrando que não gostaria que ela testemunhasse isso.
-Eva, talvez seja melhor não voltarmos para lá. Aquele lugar pode trazer de volta memórias de algo que eu não gostaria que você visse.~ Digo, passando a mão pelos cabelos dele.
-Não. Já passamos por muita coisa para você perder o emprego agora, Lore. Sem contar que gosto muito da Anne.~ Ele diz sorrindo e pegando minha mão.
-Eu não sei o que eu faria sem você.~ Digo a ela apertando o nariz e ela balança a cabeça.
-Ele sabe? Eu me pergunto se quando você se casar você ainda vai me amar quando tiver uma filha.~ Ele diz desviando o olhar e virando o rosto para mim.
-Eu nunca, NUNCA, NUNCA vou deixar de te amar Eva, você foi o navio mais forte que me segurou e não me deixou afundar. Se não fosse por você, talvez eu tivesse desistido da vida.~ Confesso, lembrando o quanto foi difícil continuar sem nossos pais.
-Um dia Deus vai te recompensar por tudo que você faz por mim Lore. Você ainda ficará muito feliz em compensar todo o sofrimento. ~Ele fala, se espreguiçando, me oferecendo um abraço, que aceito, sentindo lágrimas nos olhos.
O que ela não sabia era que eu não precisava de mais nada para ser feliz.
Enquanto eu a tivesse ao meu lado, eu seria seu apoio.
Ele não precisava de mais ninguém naquele momento porque ela era quem ele mais amava.
E felicidade? Bom, minha vida seguiu em frente e quem sabe minha próxima parada seria no topo da roda gigante?
Lorena
-Olá! ~digo entrando no quarto de Anne e ela imediatamente corre para abraçar Eva que estava na minha frente em sua cadeira.
-Olá. Está tudo bem?~ Ele pergunta e eu digo com um sorriso, mas Eva logo começa a conversar.
Quando cheguei em casa não tinha visto o Henry nem o Luis, nem nenhum outro funcionário, o que foi estranho.
-Onde estão as pessoas nesta casa? ~pergunto abrindo as cortinas
e ela coça a cabeça.
-Não tenho ideia. Acordei cedo e meu pai não veio me dar bom dia como de costume. Então me preparei para a aula e fiquei esperando você chegar.
Anne tinha aulas particulares em casa com um professor todos os dias. Ele tinha um quarto na casa reservado só para isso. Talvez por isso gostasse tanto de Eva, já que não tinha muitos amigos. Eu me perguntei por que o pai dela não a mandou para uma escola particular, mas a resposta era clara para mim. Ele era rico.
Quem pode pode.
-Eva não vai à escola?~ Ele pergunta e minha irmã começa a mexer no cabelo dele sem responder.
-Então querido, depois do acidente ela decidiu que não estava totalmente preparada para voltar a estudar além do tempo que teria que passar por fisioterapia e tantos outros exames. Então ela não estuda mas ano que vem ela vai voltar.~ Eu respondo e ela pula animada.
-Ela poderia estudar comigo. A professora Romilda é muito simpática apesar de velha e gorda, ela é uma pessoa doce. ~ Ela fala e eu e Eva começamos a rir.
-A verdade é que não tenho dinheiro para pagar um professor particular.
-Ei, papai paga. Ele não se importaria com Lorena. Ele pode ser durão de certa forma, mas tem um bom coração, acredite.
-Me desculpe mas não gosto que me aproveitem assim.~ Falo e Eva troca um olhar astuto com sua nova amiga.
-Gostaria até de estudar com a Loreninha dela. ~Ele diz sorrindo e eu balanço minha cabeça.
-Bem, vou descer e ver se encontro alguém.~ Digo e beijo Eva na cabeça.
Quando desço as escadas ouço barulhos vindos do escritório. Barulho de vidros quebrados.
Entro rapidamente e vejo os funcionários segurando Henry enquanto ele quebra tudo na sala.
Seus olhos azuis estavam vermelhos e a raiva emanava dele.
-SAIA DE MIM! ~Ele grita e eu o vejo empurrar Luís, fazendo-o quase cair no chão.
-Que diabos é isso?~ pergunto segurando Seu Luís.
-Saia daqui garota. Suba e fique com Anne e Eva. As coisas não estão indo bem aqui.~ Ele fala nervoso e vejo Henry dando um soco em um segurança e depois jogando o computador no chão.
-Meu Deus.~ Digo cobrindo a boca com a mão e Seu Luís me empurra em direção à porta.
-Vamos garota. Uau! ~ Envie com medo de que algo aconteça comigo.
- INFELIZ! ~Ele começou a gritar novamente e eu percebi que sua raiva talvez fosse dirigida a uma mulher.
-Você tem que parar com isso Henry, as meninas vão ficar com medo.~ pergunto me aproximando e ele ainda está chateado. Então eu seguro com os dois braços e agito.
-VOCÊ ME OUVIU? PARE COM ISSO AGORA OU VAI ACABAR ASSUSTANDO AS MENINAS, PORRA. ~O grito é um silêncio que se instala na sala.
Feche os olhos e respire profundamente. As pessoas na sala suspiram de alívio porque parou. Ouço Anne me chamando lá de cima, assustada, e olho para o Sr. Luís, pedindo silenciosamente que ele vá até lá.
-Todos saiam daqui. E Lorena? Qualquer coisa, é só gritar.~Seu Luís fala e aos poucos todos vão embora.
-Você pode me deixar ir agora.~Henry fala assim que a última pessoa sai.
-Excelente. ~Eu respondo indo embora.
-Você pode ir embora também.~Ele fala com raiva visível em sua voz.
-Vou procurar a Anne...
-Eu quero Anne longe de mim.~ Ele responde batendo na mesa e eu fico com medo.
-O que diabos aconteceu com você? ~Eu pergunto com raiva e ele estende a mão e segura meus dois braços como eu fiz com ele minutos atrás.
-O QUE DIABOS JÁ ME ENTROU? ACABEI DE DESCOBRIR QUE ELA NÃO É MINHA FILHA. PIOR, ELA É FILHA DO MEU INIMIGO. O HOMEM QUE MATOU SUA MÃE... NÃO POSSO PENSAR EM ANNE NO MOMENTO QUE QUERO ME AFASTAR DELA.~ Depois dessas palavras minha mão involuntariamente lhe dá um tapa na cara.
Um rangido alto que percebo em olhos que parecem assustados através da porta.
Primeiro vi surpresa em seus olhos, depois vi fúria.
Excelente. Você pode entrar quente e eu estou fervendo, seu idiota.
-VOCÊ É FOGO.~Ele fala e eu juro que fogo saiu de seus olhos.
O azul do céu era o fogo do inferno, pois era capaz de matar alguém.
-TENHO UMA SEMANA DE EXPERIÊNCIA. E EM RELAÇÃO À SUA FILHA VOCÊ A CRIOU, VOCÊ CUIDA DELA, DÁ A ELA SEU AMOR E CUIDADO PARA QUE NÃO IMPORTE SE ELA É FILHA DO HOMEM QUE MATOU SUA ESPOSA, ELA É SUA FILHA ANTES DE QUALQUER COISA. ~digo apontando com o dedo e ele pega minha mão e aproxima seu corpo do meu.