4 - Hacker
E, mais uma vez, um comando errado. Droga, quando Tobias quer esconder algo, ele sabe bem como fazer. Tomei outra golada de vinho, e voltei ao trabalho. Estava surtando com tanto calor, mesmo que o ar condicionado estivesse no dezoito, meu corpo fervia em adrenalina. A tela azul novamente surgiu com o pedido de verificação de dados, de novo uma senha. Digitei outro comando diferente, e depois de alguns instantes, a luz verde da tela iluminou meu sorriso. Acesso liberado, baby!
— Vamos ver até onde você sabe...
Havia uma pasta chamada “15061989”, e eu poderia arriscar que as numerações eram uma data de nascimento.
Tinha algumas anotações e, por mais estranho que pareça, documentos de adoção. Será que Helena era adotada? Sequestrada, “vista pela última vez no Texas”. Tinha também algumas gravações, todas elas de câmeras de vigilância. Alguns vídeos mostravam ela distraída, mexendo no celular ou mexendo em um livro que estava em suas mãos. E nos dois últimos vídeos, apenas nada. Não mostra ninguém a tirando de lá, muito menos ela mesma saíndo. Com certeza são vídeos editados.
De qualquer forma, por segurança, seria melhor fazer backup de tudo, e mostrar os detalhes ao senhor Dylan Prier zangado. Qualquer palavra ou segundo de pesquisa pode ser uma boa pista, então tudo conta. Temos que verificar cada arquivo delicadamente, sem deixar passar detalhe algum.
Assim que salvei tudo num pendrive, apaguei todo o histórico de pesquisa do servidor, deletando todas as provas da invasão cibernética. E agora vem a parte mais complicada, encarar a carranca de um certo moreno.
Deslizei pelo os corredores, andando naturalmente, enquanto agitava meus cabelos. As câmeras me seguiam e eu apenas sorria para elas, lindamente, como quase sempre debocho. O elevador estava vazio, menos mal.
Assim que consigo chegar no andar acima do meu, dou apenas mais alguns passos até parar na primeira porta. Bati algumas vezes e nada. Só podia estar de sacanagem comigo. Será que ele estava ouvindo música ou...
— Hum? – a porta foi aberta, antes que eu pudesse ficar de fato furiosa.
Uma parte do seu tronco desnudo chama minha atenção, antes que eu lembre de falar qualquer coisa. Então, respiro fundo, tirando minha atenção de seu peitoral malhado e foco apenas em seu rosto.
— Tenho alguns assuntos para discutir com você – ele piscou, totalmente desinteressado. Oh, que novidade!
— Deve ter abusado do vinho, porque não tenho nada pra conversar com você – como ele sabe que estava tomando vinho? Droga, meus lábios deviam estarem roxos. Odeio quando isso acontece.
— Não se vence uma luta apenas com músculos – adentrei de uma vez, me esbarrando em seu braço de propósito. Aproveito todas as oportunidades para toca-lo. —, mas com inteligência também.
— Kate... – disse, ainda segurando a maçaneta da porta aberta. Cruzei os braços lhe encarando de cima a baixo.
— David me pediu para conseguir umas informações pra você sobre o caso da Helena, vim te trazer o que consegui. – Em resposta, ele bateu a porta com força, caminhando até mim.
— Eu não preciso de você ou do David me atrapalhando – rugiu.
— Ela também é uma amiga, nos importamos com ela. – Deu mais um passo até mim, e sua expressão não era nada boa, mas eu não tenho medo de ninguém.
— Eu trabalho sozinho.
— Eu tenho várias teorias. – Continuei, não me importando com a opinião dele. — E uma delas é: se a pista que você seguiu hoje era falsa, pode significar que o próprio Tobias não sabe o que está fazendo... – ele segura meu braço com força. — Ou ele pode ter sido enganado. Ou...
— O quê? Vai surgerir também que ele fez de propósito? – continuei encarando firme suas orbes negras, e puxei meu braço de volta. Quem ele pensa que é?
— Ele deve ter discutido com o Eduard quando soube, Tobias é do tipo que anda com uma faixa de “eu te avisei” na testa, ele nunca foi à favor do matrimônio dos dois, considera uma afronta aos russos. Então, a rivalidade entre os dois pode acabar atrapalhando. A pista falsa pode ter sido o próprio Eduard que entregou à ele. – Dei de ombros.
— Você está viajando, Eduard não brincaria com a vida de Helena — me deu às costas, seguiu até a outra ponta do quarto, caçando algo no chão.
— Vai querer ver o que eu consegui ou não? – me olhou de relance por cima do ombro, e mostrei o pen drive entre meus dedos.
Ele soltou um suspiro dramático, indo até o outro lado do quarto, onde tinha uma cama de casal. Poderíamos usá-la se você quisesse, querido. E volta com um notebook em mãos.
— É bom não me fazer perder tempo.
Deposita na mesa ao meu lado. Me adianto o abrindo e encaixando o pen drive na entrada USB. O conteúdo logo surge na tela com um papel de parede preto. Ele gostava mesmo de preto. E a pasta copiada aparece.
— Estes são vídeos de uma única câmera de segurança no Texas, que capturou imagens dela parada, as vezes mexendo no celular ou abrindo um livro que também segurava. E nas duas últimas gravações, ela simplesmente não aparece mais, e nem um dos seus pertences também. Não mostra ela indo embora ou sendo levada por alguém.
— Informa onde exatamente é o lugar?
— No segundo vídeo dá pra ver metade de um armazém, pesquisei os endereços com esse nome e só há um no Texas, ele fica um pouco antes da fronteira. Posso montar uma rota no mapa.
— Pode deixar que faço isso – ele fecha o notebook e então volto a ficar ereta na cadeira, com uma expressão tão azeda quanto a dele. —, e se não se importar de deixar o pen drive...
— Me importo sim. – E então ele mesmo o desconecta e me oferece de volta. — Por que não me deixa te ajudar? Posso te oferecer suporte quando estiver lá, e...
— Não lembro de ter pedido a sua ajuda.
— Não devia considerar questões de afinidade, quando algo importante está em jogo, já que eu posso te ajudar...
— Não, você só vai me atrapalhar. Já disse, eu trabalho sozinho! – põe, grosseiramente, o pen drive na mesa, e pisa duro até a porta, abrindo-a, esperando que eu fosse embora.
— Tudo bem – deixo o pen drive na mesa mesmo, e sigo desfilando até a porta. — Só não ferre com tudo por causa desse seu orgulho idiota. – Joguei mechas dos meus cabelos em sua carranca e saí rebolando para fora do quarto, ouvindo a forte batida na porta atrás de mim. Babaca.