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3 - A Guerra entre as Mafias

Minhas mãos latejavam e o suor pingava ao chão. Minhas pernas também tremiam de cansaso, e dor. Talvez já fosse a hora de parar. Ouvi um barulho na porta percebendo alguém abrí-la, e já fui encerrando o treino, alcançando minha toalha de rosto, para me aliviar de todo aquele suor. Me virei de relance, observando o moreno carrancudo, já de roupa trocada, com um calção preto que usa para treinar e uma regata da mesma cor. Eu já ressaltei que esta cor lhe cai bem?

— Onde está os novos sacos que compraram? — perguntou, sem muito ânimo aparente.

— A essa altura, já devia ter seu próprio estoque no seu quarto, já que estoura todos quando treina. – O mesmo, que estava de costas, se virou para mim, com cara de poucos amigos. Dei de ombros, e apontei para a porta marrom a minha frente, não muito longe de mim.

  Me agachei no chão, pegando minha garrafa de água, espirrando direto na garganta, enquanto ele se aproximava, e não vou negar que gostava de aproveitar a visão de seus músculos ao ar livre. Podia sentir seu perfume mesmo que ele estivesse do outro lado da sala, eu sei que ele usava apenas um aerosol simples, mas sabe quando um cheiro marca o rosto de alguém em sua memória? Era automático. Quase tudo era um gatilho para que causasse aquele efeito em mim, qualquer coisa relacionado à ele.

— Você e o David podiam parar de irritar o Tobias, vai acabar prejudicando a equipe. – O ouvi dizer, e quase me engasgo com a água. Dylan quase nunca fala comigo, e quando falava era sempre para me dar broncas, como se ele fosse um grande exemplo.

— Eu não me intrometo nos seus assuntos, então não se intrometa nos meus.

— Irresponsabilidade é sinal de indisciplina, se não sabe seguir ordens você põe todos em risco. – Ele continuou, como se não tivesse me escutado, e fecha a porta do armário com força, após pegar um dos sacos de pancada.

— Você pode estar na sua verdade – dei de ombros. —, só esqueceu que não pedi sua opinião.

— Maturidade, Katherina, sabe o que é isso? – olhou torto para mim, antes de me dar as costas e sair andando, levando um saco em seu ombro.

— Ninguém sabe mais que você, não é? – falei firme, provocando.

Era sempre assim, essa cisma em achar que a verdade dele vale mais do que as dos outros. Dylan é um narcisista assumido. As vezes eu ficava impressionada com até onde a arrogância dele poderia chegar.

— É melhor tomar cuidado com o que fala – retrucou como um aviso.

— Senão o quê? – respondi, outra vez firme.

Vi o momento em que cessou seus passos, mas apenas por dois segundos, que para mim pareciam longos minutos, pois realmente achei que ele fosse largar o saco, e vir tirar satisfações comigo. Mas, eu estou pouco me lixando, ele quem começou. E eu não tenho medo dele, sou tão durona quanto.

Contudo, ele volta a andar, saindo pela porta, provavelmente, voltando para o quarto, onde ele prefere treinar.

  Ele nunca me viu como uma amiga, e nunca me deu bola como mulher, ou pelo menos se esforça, porque eu noto sim seu olhar, principalmente, quando o provoco, como fiz na sala de reuniões há umas duas horas atrás.

Sempre quis me aproximar do mesmo, mas ele nunca baixa sua guarda, é como se ele tivesse medo, já que ele perdera todos que era importante em sua vida, e por esse motivo tem esse trabalho. Eu creio muito que seja isso, que ele evita naturalmente relacionamentos interpessoais como um meio de autodefesa, como se fosse traumatizado, pois todos gostam de mim aqui, e eu sou gente boa. David deve ser uma exceção para ele, porque até ele precisa de um amigo. Ele o deixa estar ao seu lado. O loirinho gosta de irritá-lo, e mesmo assim Dylan o mantém por perto.

  David deve ser o único que o Dylan considera como “amigo”. Antes eu fazia de tudo para também ser colocada nesse meio, confesso que talvez a atração que sinto por ele tivesse sido um gatilho para esse meu desejo. Porém, como eu disse antes, ele não olhava para mim como se me quisesse perto, então preferi me aquietar.

  Contudo, sempre jogando verde, pois uma mulher esperta é aquela que sabe o que quer.

  Me especializei em armas de fogo e em artes marciais, também aperfeiçoei meus conhecimentos em informática, fora o fato de que fui aprendiz de uma médica por toda minha adolescência. E, por último, mas não menos importante, fiquei esperta quando o assunto se trata das necessidades da carne. Eu sou quase uma médica, e sei quando digo que o orgasmo é uma necessidade para a saúde e bem-estar.

— You're so hot, bitch... — fiz algumas poses encarando meu reflexo no grande espelho da parede que havia na entrada da sala de exercícios.

  Quer dizer, os homens não são tão complicados de entender, necessitam tão de sexo quanto nós (mulheres). Não vou mentir pra você, fiz sexo apenas algumas vezes na vida, e não foram lá aquelas coisas, mas hoje em dia prefiro o que está na minha gaveta de baixo, se é que me entende...

  Eu não diria que sou apaixonada pelo o Dylan, eu mal o conheço, mesmo vivendo no mesmo lugar que ele há anos, e ele nem faz questão também, mas há um desejo forte. E isso já faz um bom tempo, mas não desde antes, quando eu queria apenas ser sua amiga. Eu até gostava dele, ele é um bom homem e boa pessoa, mas o máximo que eu fazia era fantasiar um pegação no corredor da academia enquanto o assistia levantar pesos, eu era ingênua, talvez seja por isso que ele passou a treinar em seu quarto.

— Ei! – ouvi atrás de mim, quando já estava na metade do corredor. Girei os calcanhares, encontrando o cabeça-oca se aproximar. — Estava treinando até agora?

— Estava de cabeça cheia, Tobias exagerou um pouco hoje no sermão.

— Ele estava dramático? – começa a me acompanhar.

— É, pode-se dizer que sim! – sinto sua mão segurar o meu braço, me fazendo estancar no lugar e virar para ele, que também havia parado. — O que foi?

— Dylan conversou algo comigo à um tempinho atrás.

— Falaram sobre o quê? – Cruzei os braços, enquanto ele olhava sorrateiro para atrás. — Algum problema, David?

— Sabe o Eduard? – assenti. — Foi à ele quem o Dylan foi tentar ajudar essa tarde.

— Mas...

— É, eu sei, não tinhamos mais autorização para fazer isso, mas o próprio Tobias enviou Dylan...

— David, me fala o que aconteceu – insisti outra vez. Odeio rodeios! E ele olha para os lados novamente.

— Helena foi sequestrada! – sussurra.

— Tá de brincadeira?!

— Você acha que eu iria brincar com uma coisa dessas?! – eu não conseguia dizer mais nada, apenas mantinha minha atenção nele. — Dylan seguiu uma pista aparentemente falsa, por isso chegou estressado. Tudo indica que foi os 'La Familia', mas não temos como provar nada. A equipe não pode agir sem mais provas. Para todos poderem participar da missão, precisamos de mais detalhes, mas Tobias não quis dizer mais nada sobre o assunto.

— Não entendo, o que uma mafia mexicana iria querer com ela? – Ele deu de ombros. — O que posso fazer? – eu sabia que ele pediria algo, e ele sabia que eu faria. Helena é nossa amiga.

— Não pedi isso para o Buck, porque você sabe como ele não gosta de arranjar encrenca, ele prefere ficar na dele, e...

— David, desembucha! – exclamei, impaciente.

— Entra no sistema, tenta achar qualquer coisa. Negociações, arquivos, vídeos de segurança, qualquer coisa! Toda informação que conseguir será de extrema importância, isso parece ser um quebra-cabeça. – Coça a nuca mais uma vez. — Não dá pra ajudar a encontrar alguém estando mais no escuro que a vítima, você sempre diz isso, não é?

— Sabe que não precisa usar argumentos para me convencer. – Olhei ao redor, para as paredes de metais, e em seguida para o azul dos seus olhos. — Com um anel de compromisso, ela ganhou inimigos e uma gangue cheia de neuróticos narcisistas. Mas não entendo como os 'hermanos' esperam lucrar com isso.

— Não sabemos o que de fato aconteceu.

— As mafias do mundo inteiro se enfrentam há anos, isso deve ter sido um deslize, os americanos adoram provocar o México – eu sentia uma raiva crescer dentro de mim, imaginando que Helena estava realmente nas mãos da mafia inimiga. — Eles odeiam a família de seu marido, podem acabar usando ela para se vingarem!

— Não podemos chegar neles e cobrar por algo que não temos certeza, poderia acabar arranjando mais problema do que já existe. Precisamos ter certeza que foram eles.

— Eu sei, eu sei. Farei o meu melhor para descobrir algo. – Lhe dei as costas, começando a sair de lá o mais rápido possível. Precisava iniciar minhas pesquisas naquele instante!

— Quando terminar, fale o que descobriu para Dylan, e obrigado, Kate! – ótimo, e ainda precisarei dar de cara com o carrancudo nervosinho.

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