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Capítulo 4

Charlotte

Meu Deus, eu vim.

Ainda não acredito que eu fiz isso.

Espero que a coxinha valha a pena.

- S-sim, Camilla, o Cris é um pouquinho bonitinho. - Balanço a cabeça veementemente nervosa tentando não olhar a cara chocada do Christopher e da Sara.

Meu Deus. Eu chamei ele de Cris? E disse que ele é bonito?

Alguém me belisca por favor porque eu devo estar em um pesadelo.

Evito olhar para ele e está sendo bem difícil pois ele está bem em minha frente, ao lado de Camilla.

Como eles queriam que eu discordasse dela?

Jamais!

Nunquinha na vida que eu iria dizer para qualquer mulher na face da terra que o filho dela é feio. Nem pra mãe do Cris. Christopher! Sub consciente, Christopher.

- Obrigada Charlotte, me sinto lisonjeado, acho que isso foi um elogio, estou certo? - Christopher pergunta em um sorriso quase simpático, porém eu sei que lá no fundo desse sorriso existe a arrogância.

Mas... Que droga de sorriso lindo!

- Foi sim, não sou nenhuma mentirosa, então disse o óbvio. - Digo sorrindo para Camilla e evitando Christopher.

Idiota. Canalha. Horroroso.

Não. Horroroso não.

Sara olhou com um sorrisinho insinuante para mim mas eu ignorei.

Me calei depois disso, fiquei apenas prestando atenção na breve conversa de Sara e Camilla... E observando de soslaio os passos de Christopher: mexendo no celular sentado em uma poltrona completamente distraído.

Idiota.

- Vamos então? - Sara pergunta de repente me flagrando observando o Cris.

Nos despedimos de Camilla e caminhei direto pra saída, sem ao menos esperar pela Sara.

Fico esperando na porta.

Não acredito que vou ter que ir embora de carona com ele.

Arg! Sara! Você me paga!

- Está com pressa por quê? - Sinto seu hálito quente com aroma de hortelã assoprar em meu ouvido e então eu paraliso sem reação

Ele continua no mesmo lugar: atrás de mim com sua boca encostada em minha orelha. E eu paralisada.

- Christopher...

Ele apenas assopra pra dentro do meu ouvido, causando um incômodo ruim e me afasto.

- Nossa, se casem de uma vez! - A traidora da Sara diz.

- Não! Pronuncia mais uma vez essas palavras e eu te mato esfaqueada com a minha unha! - Digo furiosa enquanto seguimos o Cris pelo shopping à fora.

- Não sei como você me mataria esfaqueada com as unhas. - Sara ri.

Christopher está sério, acho que perdeu o senso de humor pelo caminho, o pouco que ele tinha.

Ainda bem! Prefiro ele assim, caladinho.

Quando chegamos no estacionamento ele abre a porta da camionete e aponta para mim entrar.

- Entre primeiro Charlotte. - Pede sorrindo irônico.

- Obrigada! - Respondo revirando os olhos.

- Sara você vai na frente comigo, pode ser? - Ah? Claro que não!

- Sim, claro Cris. - Traidora.

Bufo.

- Sara, por que foi que eu e você nunca rolou? - Sério que ele está perguntando isso pra Sara?

- Cala a sua boca guri! Se for pra falar besteira é melhor ficar de bico calado! - Falo estressada.

Sara começa a gargalhar.

- Calma Lóh! Não acho que ele tenha falado sério. - hahaha.

Garanto que falou sério.

Galinha do jeito que é.

- Mas e quanto ao Pedrinho? O cara é mó gente boa e é caidinho por você desde sei lá, a segunda série. - Ele está me ignorando?

Será que a Sara não enxerga isso?

- Sério? Ah! Não vou acreditar em você Cris, mas já chegamos em minha casa? O tempo passou rápido! - Sara diz esticando a cabeça pra perto de mim me beijando o rosto.

Não sorrio. Estou brava com ela.

- Agora tenho que levar essa daí, você sabe onde é que ela mora Sara? - Christopher pergunta olhando pela janela.

- Não se incomode, eu posso muito bem ir sozinha! - Falo brava e tento abrir a porta.

Está trancada.

- Boa piada Cris! - Sara ri e acena a mão pra nós dois.

- Sério Christopher, me deixe sair, não precisa me levar. - Falo mas logo percebo que ele não está me ouvindo, pois o carro já está em movimento. - Ótimo! Vamos brincar de ignorar a Charlotte! Adoro esse jogo. - Falo e então começo a roer minha unha do mindinho.

Uns dois longos minutos se passaram em um silêncio constrangedor dentro do carro.

Acho que essa é a segunda vez que ficamos sozinhos na vida, a primeira vez foi quando éramos crianças, na primeira vez em que nos vimos.

Foi tão... Decepcionante.

- Eu não estou ignorando você.

- O quê?

- Estou apenas evitando que briguemos.

- Dane-se! Não me importo. - Falo sem nem ao menos prestar atenção no que ele disse direito.

Ele ri.

- Por que parou? - Pergunto quando percebo que ele estacionou o carro em um lugar qualquer.

Ele tira o sinto e abre a porta do carro, mas, ele não vai para lugar algum, ele vem até a porta de trás e abre.

Será que ele vai me deixar aqui?

Idiota. Ele não pode fazer isso.

Oh! Ele está entrando aqui atrás! Junto comigo!

Me afasto para o outro lado quando ele fecha a porta ficando aqui dentro do carro.

- O que está fazendo? - Pergunto assustada.

Será que ele vai me matar?

Haha claro que não. Deve estar querendo me assustar.

- Charlotte, Charlotte! - Aproxima-se sentando cada vez mais perto de mim e seu perfume penetra por minhas narinas. - Por que você simplesmente não assume que me deseja?

Ele está bem pertinho agora, como no shopping, com a boca em minha orelha.

- Está louco? Afaste-se de mim! - Peço sem olhar pra ele.

- Até quando vamos com isso? Você não se cansa disso? - Beija meu pescoço afastando meu cabelo e me assusto quando reconheço a sensação de atração.

Ele está me atraindo, está me seduzindo.

- Para de ser idiota... - Peço com os olhos fechados.

- Esta vendo? Podemos ser mais do que dois inimigos... Podemos ser mais... - Suas mãos estão massageando meus ombros enquanto sua boca está beijando meu pescoço.

E um flashback invade a minha mente: tínhamos na faixa de seis anos de idade... Era o aniversário de seis anos da Sara e o Christopher com o Pedro estavam lá, eu estava com um vestido rosa brilhante muito bonito, e no momento em que pus os olhos no Christopher eu me apaixonei (paixão de criança, não me julgue), e fiquei seguindo ele pela festa toda... Ele percebeu e me chamou em um lugar escondido "quer namorar comigo?" perguntou, e eu logo respondi que sim... E me senti muito feliz, demos as mãos e saímos do cantinho escuro de volta para a festa... Alguns minutos depois Christopher se afastou de mim e reparei que ele estava dando a mão para outra menina,"por que está fazendo isso?" perguntei muito triste... "eu sou menino, meninos podem namorar muitas meninas, podemos fazer tudo na verdade, já as meninas não, sua bobinha, mas eu gosto de você também... " fiquei atônita, e uma raiva se apoderou de mim, "guri idiota! As meninas podem fazer tudo o que os meninos fazem! Vou provar pra você!" e então eu dei um celinho em um menino que estava próximo, e todos viram...

- Christopher! Pare com isso! - Peço tentando afastá-lo de mim.

- Não se cansa de me punir? - Pergunta com a voz rouca me fazendo trincar por dentro.

- Pare de ser idiota e me leve embora por favor! Não pense que eu vou cair nesse seu joguinho não! Nunca na vida! - Afirmo.

Ele respira fundo, sai do carro e volta para o volante.

Seguimos o restante do caminho em silêncio, mas ainda posso sentir sua boca em meu pescoço.

Droga. Vai ser difícil apagar isso.

Que raiva! Por que ele fez isso? Nunca mais caio na lábia dele.

- Tchau. - Falo quando desço do carro.

Ele não responde e sai cantando pneu.

E minhas mãos vão para meu pescoço.

Dane-se.

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