Capítulo 6
— É por isso — tira a carteira do bolso e nos entrega um pequeno bilhete que abro imediatamente — Meu querido Beni, estou doente e me restam alguns dias de vida. Tento te contar toda vez que nos encontramos, mas as palavras nunca vêm... como se eu também não quisesse aceitar. Estou escrevendo esta pequena mensagem para você enquanto você dorme em mim. Seus pais correm o risco de morrer e você imediatamente me ligou para correr para o Cérebro. Você não ligou para Cortada, mas me ligou... por quê? Sim, já sei da sua relação com o professor há alguns meses, peguei ele se aproximando de você diversas vezes mas guardei segredo para não te incomodar. Só quero avisar sobre ele, é um homem perigoso e se mistura com pessoas desagradáveis. Tenho que ir, dizem que tenho que tirar a moto do estacionamento. Eu te amo muito, seu Aldo. /—
Preciso relê-lo mais uma vez para entender que isso não é um sonho. O pai de Rafael, além de ser muito próximo de tia Beni, era apaixonado por ela.
— Diz aqui que ele estava doente e tinha poucos dias de vida, como você sabe que ele foi assassinado? - pergunta Sharon, que é muito mais racional que eu.
—Minha mãe deveria encontrá-lo naquele mesmo dia para falar com ele sobre mim, mas ela nunca mais o viu. Naquele dia uma pessoa morreu no estacionamento do hospital, ninguém sabe quem foi. Todas as evidências foram apagadas.
—Você acha que foi o tio Bilel? - ele sibilou, olhando para ele ameaçadoramente.
- Não estou excluindo ninguém. - Rafael desabafa, cruzando os braços.
—Mas… como isso é conseguido? —Sharon pergunta, ainda segurando o papel na mão.
— Benedetta — ele responde com simplicidade.
Então tia Beni sabe de uma coisa.
- Olá pessoal, tudo bem com vocês? — Uma pessoa entra na cozinha e vemos tio Bilel afrouxar a gravata e caminhar em direção à geladeira.
Todos ficamos paralisados.
—Rosita fez um bolo, você quer? Rafael pergunta como se nada tivesse acontecido.
Ele é um ator nato.
— Aquele cheiro era bom, claro — Tio Bilel se serve de água fria e se aproxima do balcão.
- Tudo está bem? Se você continuar esmagando a boneca da Sharon ela vai quebrar, sabe? —Tio Bilel diz, apontando meu controle rígido sobre Sharon.
"Nós... estávamos indo embora", ele murmurou, recuando com ela.
—Você não vai ficar para jantar? -
- Nono. Mamãe quer que estejamos em casa para jantar, talvez em outra hora. Coloquei a mão no quadril de Sharon para puxá-la para mim.
— Ah, claro, como posso contradizer a Viviana. Até breve pessoal - Tio Bilel nos cumprimenta, comendo o pedaço de bolo enquanto eu lhe dou um sorriso tenso e, pegando minha mochila, arrasto Inês para fora, que está visivelmente tremendo.
—Ei, olhe para mim— eu pego o rosto dele enquanto continuo andando.
Ele parece apavorado, eu também.
— Estamos indo embora, ok? —sussurro em seu rosto, acariciando seus cabelos para acalmá-la.
— E se tio Bilel... — ele começa a dizer mas coloco um dedo em seus lábios — Agora não, pequenino, vamos para casa primeiro. -
Eu pego a mão dela e a tiro de lá.
—Giorgio, é você? - mamãe grita quando abro a porta da frente.
— Sim, estou com Sharon —
- Você estudou? -
— Muito, vou subir para tomar banho — Arrasto Sharon escada acima e, levando-a para o meu quarto, faço-a sentar na cama.
“Não achei que o assunto fosse tão sério”, sussurra Sharon, ainda chocada.
—E se ele estiver mentindo? E se eu tivesse escrito aquele bilhete? —Sento-me ao lado dele.
Sharon imediatamente balança a cabeça: “Não, não parecia que ela estava mentindo.”
“Você mentiu sobre sua idade esse tempo todo”, lembro a ele.
— Eu vi seus olhos furiosos. Ele quer justiça e não vai parar até conseguir.
- O que fazemos então? Devemos avisar o tio Bilel e a tia Beni? —Pergunto, passando a mão pelo cabelo.
— Claro que não, primeiro precisamos entender até que ponto eles estão envolvidos com a morte do pai de Rafael —
- E como? -
—Quem protegeria o tio Bilel se ele cometesse um crime, além de sua família? -
Estou pensando nisso - Seu advogado -. Sharon assente e só agora percebo: seu pai, seu pai sabe. -
— Exatamente, temos que ir ao estúdio dele —
- Agora? -
- E quando? Mover! — Sharon corre até a janela e olha para sair dali.
—Por que não podemos entrar pela porta? —Eu a sigo atrás.
— Como existem câmeras, temos que agir incógnitos... socorro! — Eu a pego a tempo antes que ela quebre algumas costelas — Cuidado — murmuro, trazendo-a para mais perto de mim.
— Estou bem — em vez disso ela rejeita todo o meu contato e volta a caminhar como um equilibrista na corda bamba ao longo do tronco robusto que liga a minha janela à dela.
Sigo ela em silêncio e entrando em seu quarto, olho um pouco em volta.
Faz anos que não ponho os pés nele, tem o mesmo aroma floral que eu lembrava.
-Jorge? — Sharon me traz de volta à realidade quando sai da sala.
— Sim, estou indo — Desvio o olhar das fotos em cima da mesa, em algumas parece que estou lá também.
"É lento", ela sussurra, ficando na ponta dos pés.
"Mas não há ninguém em casa", murmuro, seguindo-a pelo corredor.
— Shh! — ele me repreende enquanto abre a porta do escritório do pai.
—Rápido—, ele me arrasta para dentro e fecha a porta atrás de nós.
— Você está ciente de que está fingindo ser um ladrão em sua própria casa? -
—Cale a boca e me ajude com isso—ele aponta para alguns arquivos gigantes dentro do armário.
- Por favor não? -
— Gigi! - ele retruca severamente.
— Eu entendo, eu entendo. -
—Não sei você, mas estou morrendo de fome—murmuro em meio a mil arquivos, uma infinidade de papéis e nenhum vestígio de Aldo Herman depois de duas horas de investigação.
— Não acredito que não tem nada — Sharon geme, irritada, e continua procurando.
—Posso ir fazer um sanduíche ou você vai me prender na sua casa? -
- Vá, vá. —Sharon nem olha para mim, ela está muito focada em seu objetivo.
Eu bufo e me levanto dos papéis e saio do escritório, fechando a porta.
Começo a descer até a cozinha, mas meu olhar é atraído para a porta do quarto dele, que ainda está aberta.
Olho para trás e dou passos em direção ao quarto dele.
Fico um pouco assustado quando entro e tenho que abaixar um pouco a cabeça para não bater no teto.
Coloco as mãos nos bolsos e caminho até o centro da sala, sobre o tapete branco e felpudo, e inalo profundamente seu perfume. Deus, se eu pudesse capturá-lo e carregá-lo sempre comigo.
Olho para sua estação de maquiagem elegante e minimalista junto com as joias penduradas e o espelho decorado com luzes de fadas que farão um lindo efeito uma vez acesas. Ao lado também são classificados vários perfumes que exalam um cheiro delicioso.
Abro as gavetas com curiosidade, mas só encontro batons e outros cosméticos diversos.
Ao fundo está a escrivaninha com livros sobre todos os assuntos e diversos artigos de papelaria. Acima está um quadro de cortiça com fotos anexadas e eu sorrio ao ver fotos nossas juntos.
Em uma estamos à beira-mar em frente a um castelo de areia feito inteiramente por mim, mas pelo qual Sharon levou o crédito... em outra estamos no parque, eu de bicicleta e ela de triciclo nos perseguindo e no a última, embora sejamos um pouco mais velhos, talvez uma das últimas que tiramos antes de ela partir.
Estamos usando alguns chapéus de Natal bobos e é uma selfie nossa fazendo caretas engraçadas para a câmera.
Balanço a cabeça quando vejo outra foto ainda mais escondida que as outras... é meu aniversário e Sharon está soprando minhas velas. Fiquei feliz em deixá-la fazer isso porque ela era o objeto do meu desejo todos os anos. Foi justo que ela apagasse minhas velas.
—Você não deveria fazer um sanduíche? —Sharon pergunta atrás de mim.
Rapidamente me viro e a vejo na porta me olhando perplexa... tantos anos depois dessas fotos poucas coisas mudaram: sua beleza, seus olhos, sua mini estatura e meu eterno amor por ela.
—Por que você continuou me enviando cartas sabendo que nunca receberia uma resposta minha? — pergunto logo, sempre foi um dilema ao qual não consegui dar resposta.
Sharon imediatamente arregala os olhos, surpresa com a pergunta: eu... eu não queria perder você. — ela respira fundo e desvia o olhar envergonhada ao confessar — Foi uma forma de manter nosso vínculo forte, de fazer você saber que você sempre esteve em meus pensamentos... mesmo eu estando do outro lado do mundo —
Fico em silêncio para assimilar cada palavra até que ela pergunta: E você? Por que você nunca me respondeu? Eu vi minhas cartas debaixo da sua cama.
Balanço a cabeça: queria punir você. Você me abandonou e agora sofreria como eu, embora duvide que tenha sofrido pelo menos uma pequena porcentagem do que eu sofri.
— Você se engana — ele se aproxima de mim e murmura, me olhando direto nos olhos — Voltei para te buscar Gigio, não aguentava mais sua distância —
Meu coração começa a bater mais rápido que uma locomotiva, enquanto sinto que estou pegando fogo e suando como uma fera. Sempre sonhei com o momento em que um dia ela voltaria para mim e agora que ela está aqui, tenho medo de acordar do sonho.
—Tive um acidente logo após nossa última conversa. Não fui muito claro e um jipe se aproximou de mim andando a cem quilômetros por hora. Não pude fazer nada, acertou em cheio e saí voando pelo ar. Acordei depois de vários dias em coma no hospital e disse aos meus pais para mentirem para todos.
- Então não… -