Capítulo 8
—Somos todos colegas de classe—
Infelizmente.
— Certo… posso te mostrar seu novo quarto? Realmente não mudou muito desde que você saiu...
Sorrio ao lembrar daqueles momentos em que passei a noite na casa de Gigio e tia Viviana mobiliou um dos quartos de hóspedes ao meu gosto.
Acho que ela sempre sonhou em ter uma menina, mas ficou traumatizada demais com o primeiro parto para ter mais filhos, na verdade acho que os tios dela adotaram várias crianças em dificuldades pelo mundo.
Eu gostaria de poder adotar um também quando puder pagar sem a ajuda da mãe e do pai.
Subimos as escadas até o meu quarto e engulo em seco ao ver que fica bem em frente ao do Gigio, havíamos escolhido aquele para ficar perto.
— Nada mudou — repito, surpreso, o papel de parede creme com as florzinhas rosa continua o mesmo.
A poltrona de veludo em forma de concha fica no canto habitual, a cama foi substituída por uma cama de casal e os móveis de cor creme combinam perfeitamente com a cor da parede.
Tia Vivi coloca a sacola no tapete branco e vai abrir a janela, afastando as cortinas bege.
— Me deram um armário maior e... vem cá — ele me leva ao banheiro e me mostra um cantinho de maquiagem novo.
Pena que raramente uso maquiagem.
— Está tudo maravilhoso tia, obrigada do fundo do coração — abraço-a agradecida e vejo seu sorriso de satisfação.
— Vamos, fique à vontade e arrume suas coisas, jantaremos em breve. Comi lasanha feita com abóbora, provola e bechamel.
Eu levanto meus polegares com muita alegria. Estou tentando eliminar ao máximo a carne e o peixe da minha dieta e depois eliminá-los completamente.
Vou sentir muita falta do sushi, mas sei que é a decisão certa. Sempre me sinto culpado depois de comer carne, não sei quanto tempo mais aguentarei esse tormento.
— Querida, você pode nos ligar para qualquer coisa. Podemos deixar você em paz? -
— Claro mamãe, pense no trabalho, porque aqui tia Vivi e tio Adil vão me mimar — abraço mamãe e papai e gravo em minha mente o aroma deles.
Sinto que estou revivendo aquela época em que saí da Itália e não conseguia parar de chorar enquanto segurava eles.
— Então vamos embora — Papai me deixa um beijo na testa e sai com mamãe e tia Vivi.
— Me ligue quando pousar! — Lembro-me enquanto papai pisca para mim e vai embora para sempre.
Solto um suspiro e olhando para frente fico olhando para a porta do quarto de Giorgio, só a porta me dá arrepios.
Depois daquela briga com o Rafael na casa da tia Beni, ele nunca mais falou comigo e voltamos a nos evitar como antes.
Achei que depois daquele episódio no aeroporto as coisas poderiam mudar entre nós, mas quando damos um passo à frente, damos outros dez para trás.
Fecho a porta, abro minha bolsa e começo a trabalhar.
Aproveito para terminar de revisar meu grego para amanhã e, arrumando todos os outros livros na escrivaninha e na estante, desço para a cozinha.
"Que cheiro", murmuro, entrando na cozinha enquanto tia Viviana corta a lasanha fumegante. "Bem na hora, você pode me trazer a louça?" -
— O cara não vem jantar? - pergunto, entregando-lhe apenas os nossos dois pratos.
— Depois do paddle vão sempre ao sushi para se embebedarem. É o suficiente para você? —coloca uma porção generosa de lasanha no meu prato.
— Sisi, está tudo bem e... Giorgio? —Pergunto com indiferença, colocando o prato no balcão antes que me queime.
— Ele quase nunca janta em casa nos finais de semana, acho que ele vai passar no Bartis para dormir esta noite —
— Ah... nós temos a casa só para nós, então —
- Spritzer? — Tia Vivi tira a garrafa de Aperol da geladeira.
- Porque não? Nunca experimentei a combinação de spritz e lasanha; Eu rio enquanto me sento no banquinho.
Como somos só nós, também podemos comer no balcão.
- Claro? É uma loucura! Ver para crer -
Tia Vivi coloca o spritz nos copos e, erguendo-o, começa a dizer — Isa isa isa —
Nós abaixamos — Cala cala cala —
Vamos nos encontrar com nossos óculos - Pare, pare, pare -
E no final bebemos dizendo - À nossa saúde! -
A lasanha não é boa mas é espaçada, faço um bis apesar da porção inicial generosa e tia Vivi também traz alguns doces que pediu só para mim.
Os meus preferidos são os cestos de massa quebrada com natas e morangos, aliás como em abundância e no final do jantar chegamos os dois demasiado cheios.
“Acho que vou sair da cozinha”, diz tia Vivi, me fazendo rir.
—Você gostaria de um filme? - pergunto, ainda sem sono, estranho.
— Partiu, me ajude —
Nos ajudamos rindo e chegando no cinema, optamos por - Um príncipe meu -.
Tia Vivi já o terá visto centenas de vezes e não se cansa de ver, como eu faço com o fabuloso mundo de Amélie.
Depois de um tempo temos a fantástica ideia de terminar os doces antes do filme e ir procurá-los, aproveitamos para a segunda parte do filme.
- Que horas são? — Tia Vivi boceja enquanto os créditos rolam na tela.
- São onze e cinquenta -
— Você tem aula amanhã, certo? -
— Então é melhor irmos para a cama — saímos do cinema e ao descermos para jogar a frigideira vazia na cozinha, ouvimos a porta da frente.
O coração dispara e quando penso que Giorgio voltou, ouvimos tio Adil gritar: cheguei! -
Escondo minha decepção e vou me despedir dele. Acho mesmo que amanhã verei o Giorgio novamente diretamente na escola.
Se ele vier.
— Vou dormir, boa noite pessoal — beijo os dois e subo as escadas.
“Boa noite alegria, você pode acordar tia Viviana para qualquer coisa”, diz tio Adil. Recebi um tapa da minha tia.
- Piada! Seja o primeiro a me acordar, a tia não vai acordar nem com bombas.
—Terminou, idiota? - Tia o insulta, me fazendo rir.
— Vamos nos revezar, não se preocupe — os cumprimento antes de subir os últimos degraus e virar à direita.
Acaricio meu abdômen inchado de doces e, chegando na frente do meu quarto, olho em direção à porta de Giorgio.
Mordo o lábio com curiosidade enquanto uma ideia maluca ganha espaço em meus pensamentos e, olhando em volta, abaixo a maçaneta da porta ao entrar.
Fecho-o imediatamente depois e permaneço em silêncio por um momento na escuridão.
Não acredito que estou realmente aqui.
Acendo a luminária ao meu lado e, engolindo em seco, dou os primeiros passos com medo.
Quando acordei aqui em seus braços não tive tempo de estudar o quarto, queria fugir daqui o mais rápido possível.
Agora, porém, ele teria todo o tempo do mundo, já que Giorgio não voltará.
Abro a gaveta de cima da mesa de cabeceira e, encontrando uma pilha de preservativos e lixo, fecho-a.
Eu esperava encontrar algumas fotos nossas escondidas, lembro que as tinha penduradas na parede.
Agora, obviamente, não resta mais nada.
Olho para a escrivaninha com alguns cadernos desorganizados e páginas rasgadas nos cantos, abro um e vejo que é um desenho.
Acaricio com os dedos o contorno artisticamente desenhado da motocicleta e um casal zunindo no alto.
Ele tem cabelos longos que balançam ao vento, mas seu rosto não está definido.
Será Clarisa?
Dobro o desenho com cuidado e coloco no bolso do pijama. Se Giorgo não aprecia sua arte, eu apreciarei.
Vou até a mesa que contém principalmente videogames e sorrio ao pegar The Sims... foi o único jogo que joguei e Giorgio conseguiu todas as edições possíveis.
Sinto falta de brincar juntos, nos divertimos muito.
Percebo um casaco no sofá ao meu lado e, lembrando daquele que ele me emprestou na praia, pego-o e levo-o ao nariz, sentindo o perfume de Giorgio invadir meus sentidos.
É uma mistura de almíscar branco, sândalo e cigarro. Eu odeio gostar tanto desse perfume.
Deixo o casaco onde estava e sento na cama testando o colchão, que é bem macio.
Eu pulo nele e me assusto ao senti-lo se levantar um pouco, que diabos eu fiz.