Capítulo 5 Bella
— O que foi Bella! Por que gritou? Você parece assustada!
— A garotinha daquela noite, acabou de passar aqui em frente! — Comentei quando saímos do elevador. Minhas pernas tremiam e eu sentia que minha pressão estava caindo.
— Engraçado, pois eu não vi nada! — Comentou olhando em volta. Mais uma vez, ela desapareceu.
— Você está bem? — Questionou ele todo cuidadoso, percebendo meu mal-estar súbito.
— Acho que não. — Ele me abraçou e caminhou comigo assim para o quarto.
— Olha acho que você deve pensar que sou louca, não é? — Consegui balbuciar, ainda me sentindo meio tonta.
— Claro que não Bella! Eu acredito que tenham pessoas sensíveis, e que consigam ver coisas e espíritos, ou como dizem ‘’fantasma’’.
— Mas eu confesso que não sei o porquê vejo esses... Espíritos? Minha tontura parecia aumentar. Respirei fundo, mas logo voltei ao normal. — Pode ser somente minha imaginação. Afinal, tudo isto jamais aconteceu! Não antes do meu acidente. Tudo isto tem me assustado muito.
— Pode ficar tranquila, pois você chegou muito perto da morte. Dizem que quando isso acontece, ficamos mais sensíveis a tudo, por isto, às vezes vemos coisas que não entendemos, mas isso não quer dizer que esteja ficando louca! –Riu ele, parecendo compreensivo. — Pense que você agora tem um dom especial!
— Como um dom? Se eu nem sei o que vejo!
— Se não sabe, porque você não tenta descobrir?
— Você tem razão! Vou tentar, só não sei ainda como. — Entramos em meu quarto e após uma rápida passada no banheiro para minha higiene pessoal, fui me deitar, pois nem percebemos que já estava tarde.
— Tenta dormir agora, pois vou estar aqui com você, pode ficar tranquila. Você precisa descansar.
— Vou tentar! — Respondi sorrindo, enquanto me acomodava embaixo das cobertas de minha cama.
— Boa noite e obrigada por estar aqui comigo.
Ele apenas sorriu, enquanto eu fechava os olhos tentando dormir. Não entendo como um rapaz tão lindo como ele, poderia estar perdendo seu tempo comigo! Se ele poderia estar se divertindo com seus amigos ou a sua namorada, talvez. Como ele vai embora para casa? Céus, eu nem perguntei onde ele mora e porque fica aqui até tão tarde. Será que fazia o turno da noite e estava em horário de folga? Pensei em tudo isto, me dando conta que tudo o que acontecia era um tanto muito sinistro. Suspirei fundo, a fim de focar no sono que demorava por vir. Abri os olhos e mesmo com as luzes apagadas, dava para ver a penumbra do quarto. Eric continuava ali, parecia cochilar. Agora mais aliviada, eu fechei novamente os olhos e adormeci pensando nele.
Dei um pulo da cama, pois acordei com alguém gritando do meu lado. Um grito agudo e contínuo.
Fiquei com medo de olhar, então olhei para a poltrona que o Eric estava sentado, mas ele já tinha ido embora.
Levantei o mais rápido que pude da cama, e vasculhei todo o quarto, a fim de ver quem estava gritando. De repente forcei minha vista acostumando-me com a penumbra e avistei encostada no cantinho do quarto, próximo ao banheiro; uma moça. Parecia a mesma moça do outro dia. Só que dessa vez ela gritava. Assustada, me aproximei e percebi sua palidez e que havia sangue escorrendo em seus finos braços, cujos cortes estavam abertos e feios. Parei com a cena, tentando me recuperar do choque. Ao perceber que eu aproximava, ela me olhou, dando uma pausa naqueles gritos. Olhos nos olhos, nós duas parecíamos assustadas. Então para quebrar aquele silêncio sepulcral, tentei puxar conversa:
— Qual é o seu nome? Posso te ajudar em alguma coisa? — Ela não respondeu, mas continuava fazendo cara e expressão de dor. De repente ela fez sinal para eu segui-la.
Ainda receosa e com muito medo, resolvi ver onde ela queria me levar, pois pensei no que o Eric me falou: descobrir o que estava acontecendo e por quê. O destino daquela caminhada silenciosa pelo hospital na penumbra me levou outro quarto. Ao abrir a porta, avistei uma cama. As luzes encontravam-se acesas. Deitada na mesma, eu percebi a moça cheia de tubos e aparelhos. Mas fui direcionada para um banheiro, onde a tal mocinha me mostrou uma jaqueta preta de couro pendurada atrás da porta. Será que ela queria me mostrar alguma coisa? Nos bolsos talvez? Ainda com o coração batendo forte, peguei a roupa pendurada num cabide e comecei a vasculhar os bolsos. Em um deles senti alguma coisa e ao puxar, percebi que era um papel dobrado.
— Uma carta? — Perguntei olhando para a moça e algo mais chocante aconteceu: a moça sumiu na minha frente. Desapareceu.
Pisquei meus olhos, quase caindo de tontura. Segurei-me na beirada da pia. Estaria louca? Ou realmente vendo fantasmas? Voltei para o quarto e ao chegar perto da moça deitada, quase tive um treco, pois era a mesma mocinha que apareceu no quarto e levou-me até ali. Fiquei toda arrepiada e quase caí no chão, mas me recuperei, respirando fundo. Eu ainda estava com a carta em mãos, de repente os aparelhos começaram a apitar. Deveria ser algum sinal. Imediatamente eu apertei a campainha para chamar a enfermeira, e sai dali o mais rápido que eu pude, pois se me encontrasse ali, poderiam estranhar. Fui direto para o meu quarto com a carta na mão. Fechando a porta atrás de mim, respirei fundo umas duas ou três vezes, então sentei em minha cama, e pensamentos foram clareando a minha mente: Eric tinha razão! Cheguei perto da morte, e por algum motivo apareceu este dom. Tudo indica que eu vejo a alma das pessoas que estão prestes a falecer ou já se foram para o andar de cima. Só pode ser isto! Elas me procuraram porque eu consigo vê-las, e por algum motivo. Ajuda, decerto. Pensei enquanto abria aquela carta, ávida por saber do seu conteúdo.
"Para Nathan Perli"
"Nathan se você receber essa carta é porque eu já não estou mais entre os vivos. Sei que o que fiz foi errado, tirando a minha própria vida, mas sem você eu não poderia mais viver. Não se culpe! Pois a escolha foi minha. Apesar das nossas diferenças de idade, ninguém poderia se intrometer em nossa relação, mas já que aconteceu, prefiro tirar minha vida a ficar longe de você. Pois o amor que sinto por você está sempre comigo, e isto ninguém vai tirar de mim. Nathan, eu estarei sempre contigo em seu coração. De seu amor: Lena. "
— Meu Deus! Essa garota tirou sua própria vida por amor! — Pensei arrepiada e tremendo toda. — E agora quer que eu entregue essa carta para seu namorado! Agora entendo porque ela vinha até mim; ela queria ajuda! Mas como vou encontrar esse tal Nathan Perli?