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Capítulo 6 Bella

Após dobrar cuidadosamente a carta e a guardar em local seguro, voltei para cama, tentando dormir, mas não consegui. Aquela carta, assim como todos os acontecimentos daquela noite, tirou completamente meu sono. Somente depois de muito tempo acordada, remoendo os fatos, o sono finalmente chegou.

Acordei com o barulho do carrinho da enfermeira entrando no meu quarto, trazendo meu café da manhã.

— Bom dia senhorita Annabela! Como passou a noite? — Questionou de forma polida.

— Bem graças a Deus! — Omiti alguns fatos, mas depois comentei: — Durante a noite, eu acordei com barulho de corre-corre no corredor. Aconteceu alguma coisa?

— Nada fora do padrão, senhorita: uma garota que estava em um quarto da UTI, faleceu nesta madrugada.

— O que ouve com ela? — Questionei, me arrepiando e sentindo que eu já sabia a resposta.

— Ela cortou os braços e tomou muitos remédios, mas quando a encontraram já era tarde, pois teve uma overdose. — Contou ela como se fosse algo corriqueiro. Afinal, enfermeiros devem estar acostumados com isto. Pensei, enquanto tomava meu suco natural de goiaba.

— Ela tirou a própria vida! — Pensei alto, sentindo um aperto no coração.

— Sim, foi isto. Bom, vou deixá-la à vontade para tomar o seu café. — Ela falou com um sorriso sincero, saindo do meu quarto.

— Muito obrigada. — Agradeci, vendo a enfermeira fechar a porta, empurrando o seu carrinho. Apesar de tudo aquilo, o resto do dia foi tranquilo. Ao terminar meu café com leite e bolachas, tentei relaxar e assistir um pouco de televisão. Sem sustos, por sinal. Após o almoço, minha mãe apareceu trazendo frutas frescas e um bom livro de romance.

Ficamos algum tempo conversando com as trivialidades, enquanto a televisão continuava ligada. Minha mãe perguntava sobre tudo, mas resolvi omitir alguns fatos. Em seguida, quase no meio do horário de visita, chegaram Laura e Yago.

— Oi coração! Como está hoje? — Questionou Yago sorridente. Havia trazido mais rosas, desta vez cor de rosas. A porta se abriu e outra enfermeira entrou comunicando gentilmente que somente duas pessoas eram permitidas por vez no quarto.

— Filha, eu preciso ir! Vou deixar você com seus amigos e amanhã eu volto para te buscar, tudo bem? — Comentou minha mãe, dando-me um beijo no rosto. Eu agradeci o livro e as peras e morangos devidamente lavados e picados. Em seguida, ela se despediu dos meus amigos e saiu.

— Coração você ainda não me falou como passou o dia?

— Ah, tudo bem, Yago!

— Então quer dizer que vai mesmo sair daqui amanhã?

— Sim Laura! Pois me sinto muito bem e não sinto mais dores. E você Yago? Mais rosas? Vou ficar mal-acostumada, viu? — Brinquei agradecendo as rosas e levando-as ao nariz constatando que o cheiro delas não era tão bom quanto à beleza e perfeição. Ele sorriu satisfeito.

— E quanto ao seu chefe?

— Ele concordou coração! — Respondeu, quase deitando na poltrona de visitas. — E ele me deixou adiantar alguns dias de minhas férias. Deu tudo certo!

— Legal! Fiquei muito feliz! Amanhã eu aviso vocês pelo WhatsApp a hora em que sairei daqui.

— Claro, eu virei buscá-la com o maior prazer, coração. — Comentou, vendo a cara de deboche de Laura. Cada vez que ele me chamava de coração, ela sorria achando graça.

— Podemos ir juntos para a chácara! Será que eu posso dirigir? Onde está meu carro, gente? – Questionei, já desconfiando da resposta. Entretanto o olhar que Laura deu para Yago confirmou o meu desespero: Será que aconteceu alguma coisa com meu carro? Como sou burra! Se eu sofri um acidente com ele, só pode ter acontecido.

— Coração! O seu carro deu perda total! − Contou Yago aproximando-se de mim, abraçando-me.

— Como assim? Perda total? – Questionei sem poder acreditar, que eu escapei quase ilesa do acidente.

— Não teve concerto! Ficou tudo amassado, amiga! Sinto muito, seu Honda Acura virou um monte de lata velha.

— Nossa! Deus esteve comigo naquele momento. −Pensei aliviada em voz alta, por ter escapado e ter seguro do carro.

— Fique tranquila coração! Que seus pais já acionaram o seguro do seu carro! Logo terá outro.

— Graças a Deus! Não aguentaria ficar sem carro.

— Sabemos que não Bella! − Comentou Laura rindo de mim. Eu sorri também, enquanto perguntava quem queria frutas. Em seguida eu disse muito séria:

— Yago e Laura? Eu preciso dividir uma coisa com vocês! − Eu precisava contar para alguém tudo o que eu estava vivendo. E como sempre confiei neles, não precisaria guardar aqueles segredos só para mim. Talvez, eles fossem de grande ajuda.

— Ah coração! Você sabe que pode confiar na gente. Somos seus amigos!

— Eu sei Yago! Mas tenho medo de vocês acharem que estou ficando louca.

— Nossa Bella!! Agora você me deixou curiosa. Conta logo. − Pediu Laura sentada na outra poltrona, curiosa como sempre.

— Não sei como começar!

— Vai Bella não enrola.

— Tudo bem, eu vou contar! Pois tenho como provar que não estou ficando louca.

— Bellaaaaa! − Exclamaram os dois ao mesmo tempo.

— Desde o dia que sai do coma, tenho visto coisas e pessoas estranhas. Cheguei a duvidar da minha sanidade mental. Poderia ser só a minha imaginação. Mas algo mais estranho aconteceu ontem, então começo a achar que pode ser real.

— Que tipo de coisas? – Questionou Laura.

— Esta noite, eu tive a prova que eu precisava para comprovar que tudo que vejo é mesmo real. Eu vejo pessoas aparecendo e desaparecendo em minha frente! – Laura arregalou seus belos olhos verdes e questionou:

— Você quer dizer... Fantasmas? — mastiguei um morango.

— Mas esta noite, eu acordei com alguém gritando e quando percebi, havia uma moça gritando. Eu tentei falar com ela, mas ela não respondeu, apenas fez sinal para segui-la, e foi aí que eu tive a prova de que tudo é mesmo realidade.

— Céus, coração! Que loucura! Mas o que mais aconteceu?

— Então ela me levou em seu próprio quarto, fazendo-me segui-la até o banheiro. – Disse para eles que arregalaram os olhos. Então eu contei o restante da história, exibindo a carta.

— O que isto coração? − Perguntou Yago pegando a carta.

— Você saberá. – Laura sentou-se mais perto dele e ambos leram juntos; o conteúdo da mesma.

— Coração o que significa isso?

— Essa garota levou-me ao seu próprio quarto para que eu encontrasse e entregasse esta carta para o seu namorado.

— Você está querendo dizer que está garota que te procurou.... Está morta? - Admirou-se Laura, entregando-me a carta.

— Exatamente, pessoal! Quero dizer que, até eu encontrar esta carta, ela estava viva. Depois ela desapareceu na minha frente, e os aparelhos que a mantinha viva começaram a apitar, e ela faleceu.

— Acho que foi a sua alma quem me procurou pedindo ajuda. Pois noutra noite, eu vi outra garotinha, que pelo que me informei, tinha falecido quase na hora em que a vi. Mas não sei o motivo de sua morte, só sei que sofreu um acidente. Mas eles me procuram! Estou achando que é para ajudá-los! Pois entendi que essa carta tem que ser entregue ao seu namorado.

Estava mais aliviada, enquanto percebi que meus amigos ficaram apreensivos. Será que acreditaram em mim? Ou achavam que eu estava ficando louca?

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