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3

Alice e Lorenzo (18 anos de idade)

Alice

A faculdade é um lugar completamente estranho, isso é um fato. Me sinto na maior parte do tempo como um peixinho fora do aquário. Ainda estou tentando a cada dia me adaptar, mas... é estranho. Nada mais é igual ao ensino médio, não há professores ditando ordens a todo momento, conferindo se você fez as lições de casa ou mesmo ligando para seus pais para avisar daquela última nota baixa que você tirou. Não, é bem diferente. Eles não ligam a mínima para você. Mas veja pelo lado bom, uso todas essas mudanças a meu favor, como um tipo de alavanca que me ajuda a crescer, evoluir e ser uma pessoa melhor. Entretanto, ultimamente algo tem me causado certo incômodo. É final do segundo semestre, a primeira etapa já superada, porém com o passar dos meses, desde que eu e Lorenzo ingressamos na mesma universidade, tenho notado certas... mudanças nele. Tanto no âmbito físico quanto no comportamental, e isso tem me deixado um tanto... não sei dizer, talvez receosa? Chateada?

É muito claro para quem possui um par de olhos e uma boa visão, que Lorenzo digamos que... evoluiu muito desde a fase da adolescência. Ele se transformou de um garoto bonitinho em um homem incrivelmente lindo. As garotas do seu curso ou as que tem a sorte de cruzar com ele por um dos campus, vivem babando pelos cantos e algumas mais ousadas só faltam pular em seu pescoço e arrancar um belo de um pedaço. E o idiota nem parece se dar conta disso ou talvez finja muito bem, vai saber...

Mas o pior foi quando o danado resolveu adotar aquele visual de hipsterzinho metido a nerd, barba grande e cabelos longos... Aí que as oferecidas caíram matando em cima mesmo. Chega até ser insuportável tamanho assédio. Será que ele não se incomodava nenhum um pouquinho com aquele tipo de situação? Provavelmente não, penso comigo mesma. Uma risada sarcástica me escapa pelos lábios mediante tal ideia. Viver cercado de meninas bonitas não deve ser nenhum tipo de fardo quando se é jovem e descolado como Lorenzo. Ele deve adorar cada segundo, isso sim. Isso se não aproveitar também de várias maneiras que eu nem gosto de imaginar.

***

[Lorenzo]

-Ei, Lorenzo! Tem um minutinho? -Camila, umas das primeiras amizades que formei na turma do meu curso, me chama quando acabo de deixar o prédio da biblioteca central.

-Para você? Tenho até dez. -brinco e ganho um grande sorriso brilhante em resposta. -Me acompanha?

-Claro. -ela ajeita a mochila sobre as costas, passando os dois braços sobre as alças da mesma. -Eu queria discutir sobre aquele seminário que o professor comentou hoje. Sei que ele nem marcou a data da apresentação ainda, mas gostaria que fizesse parte do meu grupo. Já até comentei com o Ricardo e a Rafa, agora queria saber de você. E aí, topa? A gente pode chamar mais pessoas também... de acordo com tempo. -Camila diz aguardando por uma resposta positiva minha, os olhos fixos nos meus enquanto morde o lábio inferior em expectativa.

-Hum... claro. Seria legal. Eu topo sim. -concordo piscando um olho em sua direção e noto suas bochechas se avermelharem. -Ah, o Gustavo e o Alberto também seriam de grande valia no grupo. -comento após me lembrar dos nossos colegas de turma, eu não os conhecia muito bem, mas sabia que eram muito inteligentes e esforçados.

-É claro, é claro. -ela assente rapidamente. -Então... eu acho que era só isso. -a garota parece não saber o que dizer por um momento e eu ergo uma sobrancelha achando graça da situação . -Estamos combinados então. -ela me sorri constrangida. -A gente se vê por aí, Enzo. -ela diz interrompendo a caminhada ao meu lado e eu fico um pouco surpreso ao ouvi-la me chamar pelo apelido pela primeira vez.

-Certo, Camila. Nos esbarramos nas próximas aulas. -digo divertido e bato em seu ombro com o meu, isso faz com que seus olhos castanhos se enruguem tamanho o sorriso que esboça no rosto. Um sorriso muito bonito por sinal.

-Então... tchau. -Camila completa antes de me envolver com seus braços estreitos em um abraço rápido, o qual retribuo e deixo um beijinho de despedida em sua bochecha corada.

-Tchau, Camila. Tenha uma boa tarde. -me despeço e ela logo se afasta alguns centímetros, me olha por mais alguns segundos e vai embora tão repentinamente quanto apareceu.

-O senhor hipster está pronto para ir embora ou eu terei que esperar mais um pouco? -Alice pergunta e eu me viro em direção ao som de sua voz vendo-a revirar os olhos.

Observo ao redor e percebo que estamos no estacionamento da faculdade, eu nem havia notado que já tinha chegado. Alice está encostada em minha moto, as pernas cruzadas na altura dos tornozelos, a coroa de cachos revoltos enfeitando-lhe o rosto em forma de coração. Ela está especialmente mais linda hoje.

-Oi para você também. -a alfineto já colocando o capacete sobre sua cabeça com cuidado. -Não vai responder nada? -questiono para receber apenas um bufar desdenhoso, dou partida na moto deixando o campus para trás. -Ah, qual é Alice? O que eu fiz dessa vez que te deixou chateada?

-Nada. -ela diz com cinismos, percebo isso através de seu tom de voz.

Ela está com raiva de mim. Mas a pergunta que não quer calar é: porque?

-Eu não me lembro de ter feito algo a você, então você terá que me dizer. -digo um tanto exasperado quando paramos em um semáforo fechado.

-Eu já disse que não é nada. -ela resmunga e suas mãos que antes se encontravam em minha cintura em busca de equilíbrio, deixam imediatamente o local, como se me tocar fosse um aborrecimento.

E eu sinto falta imediatamente do calor de seu toque.

-Não seja estúpida ou imprudente, Ali.-seguro suas mãos com as minhas e faço com que seus braços me cerquem novamente.

Assim está bem melhor, resmungo mentalmente.

-Agora quer fazer o favor de falar comigo direito? -eu insisto no assunto. -Está me deixando decepcionado, sinceramente. Nem parece minha amiga mais, sempre dividimos tudo um com o outro. O que mudou? -resolvo apelar, sei que pode parecer golpe baixo apelar para nossa amizade, mas sei que esse é único jeito de fazê-la se abrir comigo.

-Tá bom. -ela finalmente se rende. -Você... não fez nada, eu acho. É só que... às vezes sinto que está me deixando meio que de lado, só isso. -sinto quando ela se movimenta, talvez dando de ombros e eu franzo o cenho. Sua voz está mais baixa do que de costume, o que é realmente estranho.

-E porque você acha isso, Ali? -afago suas mãos sobre meu estômago em típico carinho.

-Sei lá. Eu só... esquece o que eu disse. -ela suspira e ligo o pisca alerta avisando aos demais veículos que vem atrás que irei encostar no meio-fio. -O que está fazendo, Enzo? -Alice agarra meus ombros tentando descobrir o que estou fazendo, mas não digo uma palavra.

Só quando estou devidamente parado é que salto da moto e me posiciono de frente para ela. Retiro nossos capacetes e seguro suas mãos entre as minhas. Alice faz menção de descer também, porém não permito. Quero que ela esteja assim mesmo, do modo em que está, os olhos na altura dos meus, prestando bastante atenção nas próximas palavras que irei dizer.

-Escute uma coisa, Ali, e escute com muita atenção. Você é minha melhor amiga e eu nunca iria magoa-la, não intencionalmente. Você sabe, é minha parceira desde que nos entendemos por gente, sempre tão atenciosa e alegre, iluminando os meus dias. É você garota, a voz da minha consciência, que diz a verdade para mim, independente se eu gosto ou não do que vou ouvir.

-Isso é um ponto um tanto questionável, já que você é o mais ajuizado entre nós dois. -ela diz e nós rimos, o momento de tensão sendo quebrado com a piada.

-Olha, eu amo você... como um amigo. -me corrijo rapidamente com medo do que ela possa pensar mediante tal revelação, os olhos arregalados em seu rosto e o suspiro de alívio já são resposta suficiente. -E como seu amigo é que digo que sempre estou aqui para você, haja o que houver. Por isso quero fazer as pazes, não gosto quando ficamos assim, nesse clima esquisito e de meias palavras não ditas. Você é minha amiga mais querida, tem um lugar reservado no meu coração e nós já passamos por tanta coisa juntos... A vida sem o seu sorriso seria tão difícil que eu nem consigo imaginar. Seria horrível. Então, o que me diz? Acredita em mim? Amigos de novo?

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