Biblioteca
Português
Capítulos
Configurações

2

Alice e Lorenzo (17 anos de idade)

Lorenzo

Acordo com o celular vibrando sobre o chão. A luz forte e clara ilumina parcialmente meu rosto devido a proximidade, viro a cabeça para o lado contrário tentando fugir da luminosidade nada bem vinda aquele horário. O barulho persiste por mais alguns segundos e enfim eu me rendo, tateio cegamente a procura do objeto e desbloqueio a tela em seguida. Uma série de mensagens começa a pipocar no visor, e lentamente, passo os olhos pela primeira.

"Enzo, amorzinho da minha vida, preciso de hum... ajuda." - Mi princesita

Sorrio ao ver o remetente. Só poderia ser ela mesma, a primeira pessoa a me importunar logo pela manhã.

Segunda mensagem:

"Enzo, Enzooo! Tá aí? Me responde, por favor!" - Mi princesita

Reviro os olhos, Alice só podia estar de brincadeira comigo. O que era tão urgente assim para tal desespero?

"Responde logo essa merda, caramba!" - Mi princesita

Uuuuh! Agora ela estava perdendo a paciência? Rio e resmungo qualquer coisa sem sentindo ao rolar a tela e ver outras dezenas de mensagens da mesma, só que com um nível crescente de irritação a cada mensagem devido a falta de respostas. Como o sono já havia me abandonado há tempos, resolvo me levantar e tomar uma ducha antes de ir ao encontro de Alice.

Quinze minutos depois, vestido e perfumado, me despeço do meu pai que tomava seu café tranquilamente enquanto lia o jornal no ipad na mesa da cozinha, subo em minha moto e sigo rumo a residência da família Morales, que era também como uma segunda casa para mim. Estaciono a moto no mesmo lugar de sempre, na vaga ao lado do carro da família, e deixo o capacete por ali mesmo como de costume.

Pronto. Estou aqui agora. Satisfeita, dona Alice? -indago mentalmente antes de tocar o interfone e espero até que alguém venha atender.

-Mas já? -Henrique é quem me recebe com uma careta de desagrado. -Você não acabou de sair daqui agora pouco? Não completou nem vinte quatros horas desde a sua ausência, rapaz! -ele reclama com as mãos na cintura em uma pose de indignação.

-Senti saudades. -brinco com um sorriso de lado que não é acompanhado por ele.

-Você é um garoto muito folgado, sabia? -Henrique diz, os olhos estreito em minha direção e eu apenas me limito a rir.

-Fazer o que, né , sogrão? -brinco para em seguida ganhar um tapa rápido e certeiro na nuca. -Ai, que isso, tio! O senhor nunca foi de me agredir antigamente, então porque começar agora? -rio me afastando dele.

-Porque antigamente você era só um garotinho pequeno e comportado que sabia o momento certo de manter a boca fechada. Agora é cavalo velho que vive grudado na minha princesinha dia e noite, para cima e para baixo. -ele rebate.

-Henrique, deixa o garoto entrar pelo amor de Deus. Quanta grosseria e falta de educação. -Ana Júlia grita da cozinha para o marido, que a contragosto, após ponderar por alguns instantes, ainda resoluto, finalmente abre a porta de casa para mim.

-Enzoooo! -Luna berra correndo em minha direção e se joga em meus braços assim que me vê em sua sala.

-Oi, gracinha. Como está a garotinha mais linda e levada que eu conheço? -pergunto com ela ainda em meus braços e caminho para o interior da casa sem esperar por um convite.

-É um abusado mesmo... -Henrique resmunga ficando para trás.

-Está fabulosa e cheia de glitter como sempre. -ela responde e ganho um beijo estalado na bochecha. -Hoje eu e o Dan, construímos um castelo e um foguete no jardim.

-É mesmo? Que legal.

-Só que o tonto do Dan, acabou derrubando metade do vidro de cola no Hulk. -deixo uma risada escapar ao imaginar a cena do pobre cachorro todo grudento e pegajoso. -E pra não ficar feio, eu joguei o restinho de purpurina que tinha no potinho nele. Agora ele tá bonitão e todo brilhoso.

-E o que seus pais acharam dessa pequena travessura? -questiono curioso e a coloco de volta no chão, sentindo meus braços começarem a adormecer. -Você está bem pesadinha, hein bonita?

-Mamãe ficou uma fera. -ela ri, o rostinho angelical e inocente, mascarando o prazer de ter aprontado. -Já o papai achou bem engraçado na hora, eu vi quando ele se escondeu para rir. Mas depois quando a mamãe mandou ele limpar a bagunça já que estava achando tudo tão divertido, ele ficou bravo e fez a gente ajudar na tarefa. Um saco isso. -Luna resmunga revirando os olhos.

-E falando no seu irmão, cadê aquele pestinha?

-Danteeeee! O Enzo tá aqui. -ela grita pelo irmão de onde está e me deixa sozinho, para em seguida ir procurá-lo.

-Lolo! -Dante aparece em poucos segundos, sua voz infantil soa animada ao chamar pelo meu nome e ele corre, seus passos apressados e curtos devido suas pernas pequeninas.

-E aí, campeão? -eu o ergo no alto e ele gargalha com o movimento. -Está fortão hoje, o que anda comendo, garoto? Deve ter crescido uns bons dez centímetros desde a última vez que te vi.

-Tô mesmo. -ele se envaidece. -Papai falou que eu pareço até o homem de ferro, grandão e fortão.

-Realmente. Quase não aguento mais pega-lo no colo. -finjo uma careta e o garotinho só falta explodir de tanto orgulho. -Mas acho que ainda está faltando alguma coisa...

Dante vira o rosto para o lado, finge que não sabe do que estou falando e faz força para descer dos meus braços.

-Estou esperando, mocinho. -eu insisto.

-Hum... não! -finalmente ele consegue ficar sobre os próprios pés. -Já estou grande e velho demais para beijos. -Dante diz de nariz empinado, os braços cruzados sobre o peito em uma postura desafiadora.

-Se ele não quer, eu quero. -Alice surge por trás do irmão que aproveita o momento para fugir.

Envolvendo-me pelo pescoço com um braço, ela me puxa para um abraço um tanto desastrado.

-Ei! -retribuo o gesto, e quando faço menção de beijar seu rosto, nos movimentamos ao mesmo tempo e nossas bocas se encontram em um leve roçar de lábios por ínfimos segundos.

-Ops, desculpa. -ela pede ao se fastar, o rosto corando de vergonha e eu acho isso ainda mais encantador.

-Não, que isso... -faço de conta que não ligo. -Está tudo bem. -ela parece aliviada por um instante e então resolvo provocá-la mais um pouquinho. -Sempre soube que você era doida para tirar uma casquinha de mim. Mas eu entendo, sou irresistível demais. -dou de ombros de modo displicente.

-Idiota. -ela resmunga e desfere um soco em minha barriga que não faz o menor estrago.

-Na próxima vez quem sabe você consiga fazer melhor. -digo rindo ao me referir ao golpe. -Continue praticando, gatinha, porque eu mal senti alguma coisa.

Alice está pronta para retrucar ou dar uma de suas famosas repostas espertinhas quando é impedida por sua mãe que nos chama.

-Crianças, o almoço está pronto. Venham comer! -ela grita. -Ah, Lorenzo, fiz aquele assado que você adora! -ela avisa e eu sou todo sorrisos quando vou ao seu encontro.

-É por isso que eu te amo, tia Ana! -eu exclamo ao chegar na cozinha e inspirar o delicioso aroma do matambre perfumando o ar.

-Cala a boca e senta logo, garoto, antes que eu te mande embora de uma vez por todas. -Henrique ameaça ao entrar no local trazendo a reboque os dois filhos mais novos, um no colo e a outra segurando o cós de sua calça, querendo atenção.

***

Horas depois, de estômago cheio e com uma enorme preguiça, estou deitado no sofá da biblioteca da casa de Alice com um livro em mãos tentando concluir a leitura, porém não consigo ir muito além. É quase impossível me concentrar com o barulho de seus suspiros altos, forçados de tempos em tempos para que assim fossem percebidos. Bufo impaciente, empurro os óculos de leitura sobre a ponte do nariz e viro mais uma página.

Mais um suspiro.

Eu perco a paciência e finalmente deixo o livro de lado sobre o sofá.

-O que você tem, Alice? -me rendo, sabendo que ela faria exatamente isso, ela sempre faz, porque eu sempre acabo cedendo a suas vontades.

-Eu não consigo entender nada dessa coisa de álgebra! Dá um nó na minha cabeça terrível. -ela resmunga levantando-se do chão, onde estava sentada há vários minutos tentando resolver os exercícios que eu tinha lhe passado, e se joga ao meu lado no sofá, próximo das minhas pernas. -Eu desisto! -ela declara dramática.

-Nem pensar. Para com isso, Alice. Deixa de preguiça, você sabe que consegue.

-Nãaaao. Não consigo e nem quero. Eu não aguento mais, dá um tempo, Enzo... O que você está lendo aí? -ela espia por sobre meus ombros para decifrar a capa do livro que agora está jogado atrás de mim.

-Nada que seja da sua conta.

-Grosso. -Alice puxa meus cabelos de brincadeira e eu a agarro pela cintura prendendo-a contra o sofá.

-Intrometida. -devolvo a implicância.

-Feio. -ela continua e eu rebato com a mesma rapidez.

-Ta aí uma coisa que você sabe que não é verdade. -eu rio e ela balança a cabeça em negação, mas também está sorrindo.

Com o movimento, seus cachos roçam levemente sobre meu rosto fazendo-me sentir cócegas e um calorzinho bom aquecer o peito. Era maravilhosa a sensação de ter Alice tão próxima, praticamente em meus braços, com aquele perfume intenso a invadir meu olfato e seus belos e risonhos olhos verdes a me olhar daquele jeito, como se eu fosse centro do universo, o motivo de seus sorrisos mais sinceros. E tudo que meu cérebro ao contrário do coração apaixonado e traiçoeiro, pede de volta é, por favor, não me olhe assim Alice, porque como o maior otário da galáxia eu irei acreditar que é verdade.

-Enzo... -Alice me desperta do transe em que me encontro, nossos narizes a milímetros de distância.

-O que? -pergunto meio abobalhado.

-Se eu te pedisse uma... coisa incomum. Você acharia muito estranho? -ela questiona visivelmente envergonhada.

Ah, Mi princesita! Para que falar assim? Nesse tom tão doce de mistério? Você sabe que eu te daria até metade do mundo se me pedisse.

-Depende. -brinco, querendo aliviar o clima, mas parece não funcionar muito bem. Ela está concentrada demais em algo que se passa somente em sua cabeça e eu me pergunto se também estou envolvido no assunto.

-Eu queria... bom, na verdade eu quero. -ela respira fundo antes de prosseguir, enquanto eu estou quase prendendo o fôlego, na expectativa, ansioso. -Um beijo. -ela diz de uma vez e desvia o olhar por um momento. -Eu queria ter o meu primeiro beijo com uma pessoa em quem confio. E quem melhor do que o meu melhor amigo para isso? Eu confio em você. E não... seria estranho, nem nada demais, apenas um beijo inocente entre amigos, certo? -ela busca a confirmação em meu olhar, entretanto sou incapaz de responder qualquer coisa com sentido nesse instante.

Estou tão surpreso que o silêncio é a única resposta que sai de mim. Meu coração está acelerado, as palavras fugiram da mente e não sei ao certo o que fazer agora. Muitos sentimentos lutam dentro de mim, euforia e esperança por ter a chance de beijar a garota pela qual sou apaixonado por tanto tempo, pela primeira vez... Mas também há certa decepção e medo ao ser lembrando de que para Alice, eu era somente o melhor amigo, com quem dividiria apenas mais uma experiência de vida, e não alguém com quem pudesse tentar algo diferente.

O que eu deveria fazer? A dúvida era cruel e os segundos corriam na velocidade da luz enquanto eu tentava chegar a uma conclusão. Contudo, a resposta era mais do que óbvia, eu sabia disso. Alice talvez por ser ingênua ou cega demais, não tinha enxergado ainda, mas era claro que a resposta seria sim. Para ela sempre seria sim. Eu jamais seria capaz de negar algo aquela garota, e o fato de poder realizar um sonho antigo também era um forte contribuinte. Por isso, não penso muito a respeito antes de abrir a boca e dizer sim.

-Então... como a gente faz? -Alice pergunta insegura, a mão repousando sobre meu peito quase pode sentir as batidas enlouquecidas do meu coração.

-Deixa que eu te mostro. -digo em sussurro baixo, os olhos fixos nos seus gravando cada segundo em minha mente. Eu me recordaria daquele momento para sempre e desejava que ela também pudesse nunca se esquecer.

Com cuidado para não assustá-la, mergulho uma mão em sua coroa de cachos esplêndidos e trago sua cabeça em minha direção, a outra desce em direção a sua cintura delgada. A princípio encosto meus lábios com suavidade sobre os seus, mas já me sinto no paraíso. Sua boca é macia e delicada, ela tem lábios fartos e vermelhos, percebo agora vendo-os mais de perto. Eu poderia morrer a qualquer segundo e já me sentiria o cara mais feliz e sortudo da Terra. Timidamente Alice começa a mover sua boca sobre a minha e eu a auxilio, mas sempre deixando que ela dite tudo a seu tempo, a seu modo.

E ao seu comando, ambos descobrimos novos horizontes aquela tarde. Eu me sinto orgulhoso e ainda mais apaixonado do que seria considerado saudável, por ser eu a pessoa com quem Alice descobrira esse novo mundo... mesmo que ela sequer cogitasse o que se passava em minha mente e coração naqueles poucos minutos, que para mim sempre seriam contados como horas.

Baixe o aplicativo agora para receber a recompensa
Digitalize o código QR para baixar o aplicativo Hinovel.