CAPITULO 3
Lis andou de um lado para o outro inquieta. Ela não havia saído do quarto desde que Sebastian havia a deixado lá, e agora se perguntava o que faria naquele lugar. O exagerado silencio assim como a sensação de aprisionamento fez com que a sua paciência se esgotasse rapidamente e antes que se desse conta, já havia aberto a porta.
O corredor encontrava-se silencioso, talvez mais do que o seu novo quarto, e ao caminhar a esmo se viu indo na direção oposta a das escadas. Lis desejava descobrir quantos quartos haviam naquele lado e, talvez, buscasse o quarto do príncipe.
Por algum motivo desejava vê-lo novamente somente para ter a certeza de que ele seria o seu inimigo.
Seus passos não faziam barulho ao andar e quando estava prestes a tocar em uma das maçanetas sentiu uma mão em seu ombro. Virou-se abruptamente, encarando o Príncipe Michael.
Lis não conseguiu evitar de admirar a beleza fria que ele exalava. Seus cabelos encontravam-se levemente molhados, sua calça jeans colava em sua perna e sua blusa social lhe dava um ar mais despojado do que deveria.
— Parece que o rei conseguiu lhe domar. – Michael falou sério ao encarar Lis – E o que faz andando livremente? Dentro desse palácio é como uma prisioneira. Não tem vontade própria e muito menos livre arbítrio. Deve seguir as ordens de todos, entende, certo?
A arrogância e a forma petulante como Michael a olhava e falava com Lis a fez passar a língua pelo seu lábio inferior levemente, gesto que fazia sempre que a raiva começava a se alastrar por todo o seu corpo.
— Acredita ser algum tipo de Deus? Você é um nada, lembre-se disso. Está sendo forçado a isso tanto quanto eu – Falou debochando dele ao revirar os olhos – E agora fica se fazendo de forte. É por isso que desprezo pessoas como você, sabia disso? Arrogância, prepotência e egoísmo. – Lis continuou a falar sem se intimidar como a forma que Michael se aproximava dela nem mesmo quando sentiu a parede em suas costas. Ele havia a encurralado. – Isso é alguma ameaça? – Sorriu ao erguer a cabeça para manter seu olhar fixo no olhar de Michael, entretanto não esperou que ele segurasse o seu pescoço com mais força do que conseguia aguentar. Suas mãos seguraram os braços de Michael em um reflexo.
— Você é um nada, não eu – Disse com uma estranha calma sem tirar os olhos de Lis – Nunca mais diga que sou um nada, como você – A advertiu ao soltá-la. A jovem olhou para o príncipe assustada. E não demorou para tudo se encaixar. Por todo o reino, uma conversa sobre um dos príncipes ser louco e agressivo circundava, contudo ninguém jamais soube ao certo o nome correto e agora o monstro a encarava de volta.
— Você é um monstro – Grunhiu ao levar as mãos ao próprio pescoço – Acha que isso ficará assim? -–Perguntou ao avançar em direção a Michael. Ela sabia que estava em desvantagem, mas não iria permitir que ele a fizesse se sentir incapaz e fraca. Ergueu a mão pronta para marcar a face do príncipe com seus cinco dedos quando escutou palmas atrás de Michael. Olhou surpresa para o homem que os olhava dividido entre o susto e admiração.
— Eu não deveria interromper, eu acho – O primeiro príncipe, Augusto falou acanhado tentando compreender o que havia acontecido entre o casal para que a jovem estivesse prestes a bater em seu irmão. Augusto poderia ser considerado idêntico a Michael se não fosse pelos seus olhos mais claros e seu rosto mais expressivo. – Sou Augusto e imagino que seja a noiva do meu irmão.
— Não mais – Lis disse altiva – Vocês que vão para o inferno. Podem me matar, matar meus pais, eu não me importo. – Disse ao passar por Michael contudo sentiu a mão dele segurá-la – Me solte – O avisou ao encará-lo – Se atreva a fazer algo e...
— Ameaças? – Michael sorriu exibindo covinhas. – Está tão assustada com o monstro que vai fugir.
— Espera que eu diga que irei enfrenta-lo? Não sou uma idiota. Se tem coragem para fazer isso comigo agora, depois só vai piorar.
Michael se limitou a sorrir ao aproximar seus lábios do ouvido dela.
— Meu pai está desesperado ao ponto de mata-la, se recusar. Estou falando sério – A advertiu baixo – Aceite esse aviso como um presente de noivado – A soltou, deu de ombros e foi em direção a Augusto, com as mãos no bolso da calça. – O que faz aqui? Pensei que tivesse um reunião com o consulado hoje.
— Eu tinha, na verdade transferi outro dia para poder conhecer a minha cunhada, e fiquei surpreso com o que encontrei – Admitiu sorrindo descontraído – Tente não irritá-la, está bem? Mulheres bravas são as melhores, mas quando se irritam – Suspirou – Nem Deus pode salvar o homem.
Michael se limitou a assentir, sem vontade de fingir interesse na conversa.
— Vou para o jardim – Michael falou ao passar pelo irmão, o deixando confuso.
— Qual o problema com vocês? – Lis perguntou assim que se viu sozinha no corredor com Augusto – Como podem brincar com a vida das pessoas assim? Somos seres humanos assim como vocês – O ultrajante comportamento de Michael assim como o seu aviso a deixou mais frágil do que gostaria de admitir.
— Eu sinto muito – Augusto se limitou a falar incomodado como a forma que Lis o encarava – Não sei o que está acontecendo, mas talvez posso ajuda-la.
Lis sorriu com escarnio.
— Destrua esse rei doente e seu filho psicopata então – Lis falou ao menear a cabeça. O seu pescoço doía e sentia dificuldade em engolir a saliva. Ela jamais havia sofrido uma tentativa de estrangulamento antes.
Ele realmente iria me matar?
— O que eles fizeram com você? – Augusto perguntou assim que Lis passou por ele.
—Destruíram a minha vida – Respondeu sem lhe dar atenção ao continuar a andar em direção ao quarto.
***
Augusto mantinha o seu olhar fixo no ponto a frente sem prestar atenção no que o seu secretário falava de forma animada. Seus dedos foram de encontro aos labios, como se recordasse de algo tentador.
— Príncipe – O secretário o chamou, fazendo com que Augusto sorrisse em resposta – Devo falar novamente?
— Por favor, Julian – Pediu educado fazendo o seu secretário sorrir em resposta. Julian trabalhava com Augusto desde que o príncipe havia se casado, dois anos atrás. – Certo, tem uma reunião com a sua esposa hoje as dezenove horas, mas antes precisa se encontrar com o rei e com o grupo de empresários chineses.
— Não tem problema, vamos conseguir manter o horário – Augusto o assegurou como sempre fazia mesmo sabendo que a probabilidade era pequena. Empresários chineses sempre gostavam de beber em meio a reunião ou após. – Diga-me, o que sabe sobre a noiva do meu irmão?
— Lis Muller, é uma jovem que foi escolhida pelo próprio rei, como sempre – Sorriu – O que deseja saber? Posso fazer um dossiê.
— Por favor, faça. Estou realmente curioso sobre que tipo de pessoa será a minha cunhada – Sorriu genuinamente diante do olhar de compreensão de Julian. – Que tipo de pessoa faria Michael perder o controle tão rápido? Isso realmente é divertido. Nem eu consigo isso, mas o que farei se ela for divertida? – Questionou-se curioso e animado com o futuro. Augusto regorjear-se ao imaginar seus próximos passos.
***
O som de inúmeros vasos sendo quebrados continuamente chamaram a atenção das empregadas, as quais permaneciam caladas, assustadas. Todas sabiam que o único responsável por fazer um ato agressivo como aquele seria Michael, o príncipe sádico.
— O que iremos fazer? – Uma das empregadas questionou para a outra permanecendo escondidas próximas a porta do aposento, onde Michael destruía os objetos em um acesso de fúria.
— Esperar o sádico ir embora para limpar – A outra respondeu inexpressiva. Todos que trabalhavam no palácio já conheciam o temperamento explosivo do príncipe.
O suor escorria pelo rosto de Michael contrastando com o seu olhar raivoso ao olhar para os diversos casos dos objetos que quebrara. A raiva ainda estava presente mesmo após machucar a jovem que o irritara.
— Vou fazer ela se arrepender – Prometeu a si mesmo ao pegar mais um vaso e jogá-lo no chão, sem importar-se com o barulho ou o quanto os vasos eram valiosos. E muito menos prestou atenção nos sons dos passos que se aproximavam dele.
— O que está fazendo? – A voz cansada de sua mãe, o fez se virar e a encarar. Ela havia escutado das empregadas sobre o modo agressivo e lunático do seu filho, e sem alternativa se viu indo acalmá-lo, como se habituara a fazer. – Está quebrando todas as porcelanas e obras de arte. Espero que seja por um bom motivo.
— Isso não lhe interessa, minha mãe – Michael falou ao desviar o olhar. – Pagarei por tudo.
— Sempre é sobre dinheiro para você. Michael, nem tudo é sobre dinheiro e sim preocupação. Vai me contar o que houve? – Perguntou com a voz calma ao se aproximar de Michael, pois mesmo que todos tivessem medo dele, ela ainda o amava, de seu próprio jeito.
O sorriso de escarnio fez com que Gloria suspirasse. Sempre que Michael sorria daquela forma, ela sabia que logo escutaria alguma lamuria ou um tipo de difamação sobre alguém da família.
— O rei Leopold, isso foi o que aconteceu – Disse sorrindo, gritando de frustração em seguida – Aquele velho acha que vai me controlar da mesma forma que fez com meu irmão.
— Você faz parte da família real, é isso que sempre aconteceu e continuará acontecendo. Cresça.
— Crescer? Não sou alguém como Augusto. Odeio ser manipulado, vocês sabem bem sobre isso, e colocar essa mulher em minhas mãos é o mesmo que implorar para que eu a destrua.
Destruir. A palavra fez Gloria desviar o olhar, incomodada ao se recordar do passado. Ela não gostava de lembrar do que Michael era capaz de fazer.
— Sinceramente, não me importo o que fará, mas ela deve ser conhecida como a sua esposa. Entende isso? Queremos que ela seja idolatrada.
— O que realmente esperam com tudo isso? – Michael perguntou encarando fixamente a sua mãe. Ele já havia desconfiado sobre as intenções do rei.
— Apenas prosperidade – Disse sorridente antes de lhe dar as costas deixando Michael pensativo para trás.