CAPITULO 4
Lis não conseguiu evitar que seu olhar fixasse no segundo príncipe, o seu noivo. Ela permanecia sentada no lugar que o Sebastian havia designado para ela na elegante mesa de jantar do rei. Sem importa-se com sua roupa, optara por uma calça jeans e uma blusa folgada preta com a imagem de uma banda de rock. Lis ignorava os olhares, discretos, das empregadas e dos murmúrios que escutava na mesa, enquanto Michael a encarava fixamente. O segundo príncipe encontrava-se sentado a sua frente.
— Estou contente por finalmente Michael ter uma noiva – A mulher de olhar frio falou ao exibir um sorriso discreto. – Sou a esposa de Augusto, Regina – Sorriu um pouco mais ao olhar para Lis, a qual encarou a mulher. Regina possuía cabelos loiros, olhos claros e exalava elegância desde a sua postura até seus gestos calculados.
— Acredito que deve ser a única contente com a situação – Lis respondeu ao desviar o olhar, sentindo-se incomodada com o modo incisivo de Michael. Ele a encarava exageradamente e sem ao menos manter-se discreto sobre isso, contudo ninguém parecia se incomodar com a situação, apenas ela.
— Ela é bem animada – Augusto comentou sorridente ao manter seus olho fixos em Lis ignorando a sua esposa, a qual estava sentada ao seu lado – E quando meu irmão irá aparecer? Desde aquela reunião que não vejo o Philipe, papai. Estou curioso para saber onde ele está se escondendo.
— Ele virá hoje – Leopold anunciou impaciente ao olhar para Lis, avaliando-a. – Senhorita Muller, como está sendo a sua estadia?
— A minha prisão está bem confortável – Respondeu indiferente ao olhar para a taça de vinho branco colocada a sua frente. – Obrigada por perguntar – O sarcasmo evidente em sua voz fez com que Augusto gargalhasse, e Michael a encarasse com curiosidade.
— Parece que realmente escolhi a pessoa certa – O rei Leopold murmurou ao voltar a sua atenção para o prato que lhe fora servido minutos antes. Ninguém ousou falar uma palavra até a chegada de Philipe, o terceiro príncipe.
Philipe manteve sua expressão apática ao sentar-se e comer em silêncio. Todos já estavam acostumados com o modo taciturno do terceiro príncipe, com exceção de Lis.
Ela olhava para todos incrédula em como se mantinham frios uns com os outros.
Que tipo de família é essa?
Se perguntou ao ingerir o vinho branco mais rápido do que deveria. A bebida desceu pela sua garganta fazendo-a se sentir mais relaxada por alguns minutos. A sensação de ser preenchida pelo álcool a ajudava em situações que não sabia como lidar, exatamente como aquela. E antes que pudesse perceber, sua taça foi preenchida novamente por um dos empregados.
— Tão nervosa que precisa beber? – Michael perguntou sem se importar com os olhares de acusação – Se continuar assim, vai acabar morrendo antes que eu tenha a chance de fazer algo – Sorriu perverso ao vê-la lhe fuzilar.
—Já chega! – O rei gritou – Ela é a sua noiva, Michael.
— Eu não me importo – Lis disse dando de ombros – O segundo príncipe é exatamente como uma criança teimosa sedenta por atenção. Não dou atenção a crianças e muito menos me importo com elas – Sorriu levemente ao ver um sorriso discreto na face da rainha, a qual se mantinha em silencio ao lado do rei.
— Ao menos ela é interessante – Philipe falou sem olhar para Lis ou qualquer outra pessoa sentada a mesa. – Só quero saber quanto tempo ela irá aguentar.
— Pare com isso, Philipe – Gloria falou se pronunciando pela primeira vez – E quando irá anunciar o noivado deles, querido? – O rei sorriu ao olhar para Gloria antes de responder.
— Amanhã será anunciado oficialmente – Leopold respondeu – E daqui a três dias, os noivos estarão se mudando para que a Lis possa começar a cursar seu curso. A casa já está preparada, os empregados já foram avisados da ida deles e a imprensa notificada. É provável que no aeroporto tenha alguns reportares, mas enviarei seguranças.
— Está dizendo que todos foram deste país vão saber sobre isso? – Lis indagou surpresa. Para ela, aquela situação ficaria escondida de todos. – Não posso fazer isso. – Se levantou assustada – Não quero que saibam que me casei com alguém como ele. Não quero que pensem que eu conseguir tudo por causa de vocês – A sua voz demonstrava todo o seu temor.
Michael a olhava se divertindo.
—Realmente acreditou que ninguém mais saberia sobre isso? Não seja ingênua, mas o que se pode esperar de uma plebeia como você, afinal.
— Antes ser uma plebeia do que um psicopata narcisista – Disse ao fuzila-lo com o olhar – E mesmo que seja anunciado para o mundo, sempre deixarei claro o quando o desprezo.
— Isso será divertido – Michael se limitou ao dizer ao levar o vinho aos labios.
O restante do jantar fez com que Lis desejasse fugir daquela situação. Os membros da família real pareciam a ignorar ao mesmo tempo que a olhavam com ódio, enquanto Michael a encarava como se fosse o seu mais novo brinquedo.
— Isso é realmente doentio – Lis murmurou assim que entrou em seu quarto, fechando a porta atrás de si. A raiva aumentava gradativamente ao se recordar dos olhares e dos murmúrios. Ela começava a odiar tudo relacionado a família real. – Eles não podem me usar como um brinquedo por ser conveniente.
A cada pensamento, sentia-se ainda mais enojada pelo que eles estavam fazendo com ela.
Preciso fazer algo.
Foi a única coisa que permaneceu em sua mente.
***
No dia seguinte, todos do país comemoraram e sentiram compaixão pela noiva do príncipe Michael. Ninguém ousou questionar os motivos que os fizeram casar, contudo todos concordavam em rezar pela nova princesa. Todos temiam que ela não sobrevivesse ao sadismo do príncipe.
Lis ignorava as ligações do seu pai por medo do que poderia falar ou de chorar, revelando a tórrida verdade. Ela não desejava que seu pai sofresse por ela e muito menos que se culpasse pelo seu destino.
Eu vou falar com ele assim que for sorte o suficiente. Assim que eu conseguir fugir de tudo isso, eu iria atrás deles.
Prometeu a si mesma ao desligar o celular e sair do quarto, o qual a sufocava. Caminhou pelo corredor recordando-se do caminho feito na outra noite afim de ir para o jardim, onde poderia pensar e sentir-se em liberdade, mesmo que na realidade estivesse sendo vigiada pelos guardas.
Ignorou os olhares das empregadas e dos guardas ao descer as escadas, passar pelo corredor que antes havia a impressionado e se dirigiu para o jardim que ficava em frente ao palácio. O calor agradável do sol a fez sorrir levemente, ao sentir seus olhos incomodados com a luz, para em seguida uma leve brisa a agraciar. Lis fechou os olhos apreciando o momento e o silencio até seus passos a levarem para um banco localizado na parte lateral do palácio. Sentou-se, respirou fundo enquanto pensava em suas opções, constatando tristemente não serem muitas. Ela era uma prisioneira daquela família.
— Como farei para escapar? – Se perguntou escutando passos atrás de si, virando-se em seguida. O terceiro príncipe a olhava com o semblante sério. Por alguns segundos, Lis se viu inquieta com o olhar penetrante do príncipe. – Alteza – Disse ao se levantar, sem saber como deveria se comportar.
— Se pretende escapar falar seus planos em voz alta é algo extremamente estupido – Philipe disse ao observar Lis com atenção – Fugir desse rei lunático não é uma boa escolha, se posso dizer.
— Todos tem medo do rei? – Lis perguntou ao olhar para o terceiro príncipe exibindo calma em seu olhar.
— Quem é inteligente sente medo dele – Respondeu ao dar de ombros – Imaginei que estivesse se preparando para a festa de seu noivado.
— Não fale como se eu estivesse ou devesse estar empolgada. Desprezo todos de sua família – Disse sem hesitar ao desviar o olhar – E espero que sua família seja destruída.
—É um desejo que muitos compartilham – Murmurou ao olhar para Lis com mais atenção – Não tem medo de que eu faça algo? Está afirmando que despreza a família real e que espera que seja destruída. Posso aceitar isso como uma confissão por traição.
—Fala como se eu me importasse, Philipe, estou sendo obrigada a casar com seu irmão, um homem psicótico que não hesita ao ferir as pessoas, sem ao menos conhecer os motivos que fizeram o rei optar por mim. Sou um tipo de sacrifício para a sua família, então por qual motivo deveria me importar com algo tolo como isso? Se quiser me acusar, vá em frente.
Philipe esperou alguns segundos antes de sorrir levemente exibindo um sorriso contagiante, fazendo Lis o olhar surpresa.
— Acredito que é a pessoa ideal para Michael.
— Por não ser uma tola e abaixar a minha cabeça? Isso apenas fará com que ele queira me matar – Disse ciente da situação em que estava. Sentir as mãos de Michael em seu pescoço, pressionando-o até sentir o ar faltar fez com que ela percebesse a verdade. Michael August Stone era um monstro que não pensava em nada ou ninguém além de si mesmo.
— Parece que meu irmão já mostrou a sua face.
— Sim, e ela foi assustadora – Confessou sem entender o motivo de estar conversando com Philipe. Ela sabia que deveria ignorar qualquer pessoa daquela família, mas se viu confessando seus medos para o príncipe mais jovem.
— É assim que somos, senhorita Muller, aconselho a se acostumar e a se tornar forte para sobreviver.
— Um conselho de um dos príncipes apenas faz com que eu tenha medo do futuro – Admitiu ao se levantar do banco – Não acredito que alguém dessa família seja bondoso.
— E não há – Respondeu sério. – Não confie em ninguém e não acredite em nada, senhorita Muller. Estou curioso para saber como irá sobreviver – Falou antes de dar as costas para Lis e caminhar em direção ao palácio.
— Qual o problema dessa família? – Lis se viu murmurando ao levar a mão até a sua testa. Ela estava ficando cansada de tentar entender algo inerente a sua compreensão. Já estava prestes a ir para o palácio quando avistou Sebastian caminhando em sua direção. O modo seguro como ele andava, a forma como seus olhos mantiveram-se fixos nela e a sua expressão indiferente a fez manter seus olhos no homem sem conseguir desviar o olhar.
— Senhorita Muller, estou surpreso em vê-la no jardim – Sebastian a saudou ao manter uma distancia dela – Algo aconteceu ou precisa de ajuda?
— Não devo sair do quarto, já que sou uma prisioneira, é isso?
Sebastian a encarou seriamente por alguns instantes antes de responder.
— É a futura esposa do segundo príncipe, jamais poderia ser considerada uma prisioneira.
— Fico surpresa em como acha que irei acreditar – Deu de ombros ao passar por ele – Vou retornar para a minha cela.
— Por favor, não esqueça que as preparações para seu noivado começarão hoje – Sebastian a avisou assim que ela passou por ele. Lis mordeu seu lábio com força ao tentar controlar a raiva. O som de seus passos ecoou pelo cômodo e assim que tocou no corrimão, estancou ao olhar para cima. Michael a encarava.
Inconsciente, Lis se viu engolindo em seco ao agarrar o corrimão com força. Ela se sentia tola ao agir daquela forma, mas ainda se recordava da mão dele seu pescoço, apertando-o. Ficou tentada a retornar para o jardim, mas se viu respirando fundo ao subir as escadas lentamente. Assim que passou por Michael, se viu aliviada ao perceber que ele não tentara falar ou ataca-la, contudo não demorou para escutar a sua voz.
— Espero que esteja preparada para o inferno, pois é nisso que sua vida irá se transformar – Michael a avisou – A farei desejar estar morta, querida noiva.
— Digo o mesmo – Lis respondeu sem ter coragem para se virar e encará-lo. – Assim como fará da minha vida um inferno, farei o mesmo com a sua.
— Estou ansioso por isso – Sorriu levemente ao descer as escadas.